Opinião
- 02 de setembro de 2009
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Fé cristã e inteligência cultural
Karl Heinz Kienitz
Gosto de citar Auguste Renoir, o pintor impressionista que, ao comentar certas obras de grandes pintores, formulou: “Nas obras de antigos mestres jaz uma confiança suave, serena. Ela provém duma conduta despretensiosa, simples, que não existiria sem a fé religiosa como motivo primeiro. O homem moderno, porém, enxotou Deus -- e assim perdeu segurança”. Ao abandonar esta segurança, o homem moderno (e o pós-moderno) também optou por um relacionamento cada vez mais difícil com grandes realizações da cultura ocidental, mais precisamente aquelas motivadas pela fé cristã “como motivo primeiro”.
Aprecio música clássica de todas as épocas. Quando em 1997 estive em Leipzig pela primeira vez, visitei a igreja em que Bach trabalhou no auge da sua carreira, a Thomaskirche. Estive também na Nikolaikirche, local das reuniões de oração que culminaram na reunificação da Alemanha em 1989. A guia turística sabia muitos detalhes da vigorosa recuperação arquitetônica em andamento nos prédios históricos de Leipzig, especialmente as igrejas. Ao final do roteiro perguntei-lhe se à semelhança da arquitetura, a fé e os valores de Bach e dos cristãos da Nikolaikirche também estavam sendo recuperados pelos cidadãos da cidade. Seu rosto perplexo e sua resposta hesitante ilustram a relação profundamente problemática da nossa sociedade com manifestações culturais e existenciais motivadas pela fé cristã.
Se quisermos realmente apreciar a arte de cristãos como Bach e Mendelsohn -- para citar apenas os gênios musicais de Leipzig --, é imprescindível que tenhamos alguma intimidade e apropriação pessoal dos principais conteúdos da sua fé. Caso não as tenhamos, poderemos até analisar técnica de composição e execução musical, mas não seremos capazes de apreciar a realização artística, manifestação estética e expressão de vida. O famoso coral “Jesus, alegria dos homens”, ponto máximo da cantata “Herz und Mund und Tat und Leben” (“Coração e lábios, ação e vida”) de Bach, por exemplo, será uma obra musical a propiciar experiências com impacto existencial e de vida, ou apenas uma música bonita adequada para algum concerto ou momento solene. Algo análogo vale para obras de pintura, escultura, arquitetura, literatura etc, cujo “motivo primeiro” é a fé cristã.
Ao “não conhecer nem as Escrituras nem o poder de Deus” ou ao perseguir implacavelmente devaneios intelectuais que o conduzem a declarar a “morte de Deus” (Nietzsche) e a “morte da fé” (Harris), o homem perde cada vez mais a capacidade de se relacionar de forma relevante com muitas realizações culturais do Ocidente. Assim, a rebeldia contra a advertência bíblica “não sejas sábio aos teus próprios olhos” tem uma consequência inusitada: o embrutecimento cultural.
Gosto de citar Auguste Renoir, o pintor impressionista que, ao comentar certas obras de grandes pintores, formulou: “Nas obras de antigos mestres jaz uma confiança suave, serena. Ela provém duma conduta despretensiosa, simples, que não existiria sem a fé religiosa como motivo primeiro. O homem moderno, porém, enxotou Deus -- e assim perdeu segurança”. Ao abandonar esta segurança, o homem moderno (e o pós-moderno) também optou por um relacionamento cada vez mais difícil com grandes realizações da cultura ocidental, mais precisamente aquelas motivadas pela fé cristã “como motivo primeiro”.
Aprecio música clássica de todas as épocas. Quando em 1997 estive em Leipzig pela primeira vez, visitei a igreja em que Bach trabalhou no auge da sua carreira, a Thomaskirche. Estive também na Nikolaikirche, local das reuniões de oração que culminaram na reunificação da Alemanha em 1989. A guia turística sabia muitos detalhes da vigorosa recuperação arquitetônica em andamento nos prédios históricos de Leipzig, especialmente as igrejas. Ao final do roteiro perguntei-lhe se à semelhança da arquitetura, a fé e os valores de Bach e dos cristãos da Nikolaikirche também estavam sendo recuperados pelos cidadãos da cidade. Seu rosto perplexo e sua resposta hesitante ilustram a relação profundamente problemática da nossa sociedade com manifestações culturais e existenciais motivadas pela fé cristã.
Se quisermos realmente apreciar a arte de cristãos como Bach e Mendelsohn -- para citar apenas os gênios musicais de Leipzig --, é imprescindível que tenhamos alguma intimidade e apropriação pessoal dos principais conteúdos da sua fé. Caso não as tenhamos, poderemos até analisar técnica de composição e execução musical, mas não seremos capazes de apreciar a realização artística, manifestação estética e expressão de vida. O famoso coral “Jesus, alegria dos homens”, ponto máximo da cantata “Herz und Mund und Tat und Leben” (“Coração e lábios, ação e vida”) de Bach, por exemplo, será uma obra musical a propiciar experiências com impacto existencial e de vida, ou apenas uma música bonita adequada para algum concerto ou momento solene. Algo análogo vale para obras de pintura, escultura, arquitetura, literatura etc, cujo “motivo primeiro” é a fé cristã.
Ao “não conhecer nem as Escrituras nem o poder de Deus” ou ao perseguir implacavelmente devaneios intelectuais que o conduzem a declarar a “morte de Deus” (Nietzsche) e a “morte da fé” (Harris), o homem perde cada vez mais a capacidade de se relacionar de forma relevante com muitas realizações culturais do Ocidente. Assim, a rebeldia contra a advertência bíblica “não sejas sábio aos teus próprios olhos” tem uma consequência inusitada: o embrutecimento cultural.
Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
- Textos publicados: 32 [ver]
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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