Opinião
- 18 de outubro de 2016
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Experimente improvisar: com o que podemos comparar o Reino de Deus?
“Com que compararemos o Reino de Deus? Que parábola usaremos para descrevê-lo?”, perguntou Jesus ao ensinar criativamente sobre a Palavra e o Reino de Deus. A questão está em Marcos 4:30 e penso: por que será que os discípulos lembraram especificamente desta indagação? A mensagem da parábola seguinte falava da mesma coisa que a anterior: o Reino de Deus. Quantas vezes precisamos ouvir uma mesma mensagem e de quantas formas diferentes antes de entendermos? Pela história do povo de Deus eu diria: inúmeras. E a criatividade pode ser uma resposta para isso.
Tenho trabalhado desde 2012 nos grupos da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) com uma peça criada pelo inglês Andrew Page, baseada no Evangelho de Marcos: “Experimento Marcos”. Foram dois anos de tradução e, agora, dois anos de palco, quando realmente engatamos. O teatro é feito com não atores, gente sem nenhuma experiência na área, sem roteiro nenhum além do texto bíblico, mas munidos do desejo de compartilhar o evangelho de forma diferente e impulsionados pelo Espírito Santo.
Mesmo sem experiência, todos acabam incrivelmente se descobrindo bons atores e conseguem comunicar o evangelho criativamente – não há figurino, nem cenário, e a fala de quase todos os personagens é na base do improviso. E mais: todos acabam também redescobrindo o texto. Para muitos, é como se vissem o evangelho (todo ou parte) pela primeira vez, percebendo detalhes e trechos que nunca tinham visto antes. Para outros, é como se finalmente o evangelho fizesse sentido como uma narrativa completa.
Atuar o texto de Marcos faz com que os atores se coloquem no lugar dos personagens e tirem o pó daquelas palavras, deixando de ouvi-las como o que é conhecido há séculos e trazendo frescor. Eles precisam ouvir e, consequentemente, reagir a cada milagre e fala. Com isso aprendem a observar o relato de Jesus com um novo olhar. Ao recontar a narrativa com suas próprias palavras, o evangelho parece aproximar-se de suas realidades. Muitos atores escalados como discípulos ficam intrigados com o quanto são parecidos com eles, que não compreendiam o que se passava como não entendemos hoje. Outros, fariseus, também percebem a semelhança com estes, questionadores e implicantes. Muitos escalados para as personagens extras (cegos, mulheres, famílias) descobrem nelas a mesma fé, falta de fé ou o incansável amor de Jesus. A atuação criativa do texto renova a relação que cada ator tem com a Palavra.
Um dos últimos atores escalado como Jesus, por exemplo, encarou a dificuldade que é tentar viver este personagem e o quanto está longe de ser parecido com Cristo. Samara de Ávila Santos, que foi João na apresentação de Aracaju em setembro, disse que se surpreendeu com “como todos nós somos parecidos com as personagens apresentadas no evangelho, necessitados da misericórdia de Cristo, humildes alvos da sua compaixão”.
O texto é o mesmo: o Evangelho de Marcos. A diferença é a proposta: usar a imaginação através do improviso para recontar essa história. O resultado é um mergulho na narrativa, do qual não temos como sair secos.
Para o público, a imersão é feita através da disposição circular das cadeiras. Não há um palco e a ação ocorre ao redor da plateia, que não precisa gritar para se sentir parte da multidão que ovaciona Jesus na chegada em Jerusalém ou da mesma que nem deixava Pilatos falar de tanta vontade de crucificar o “rei dos judeus”.
Há tantas outras possibilidades de criativamente mergulharmos na Palavra e contarmos dela para outros – o que nos impede? É comum ouvir depois da apresentação do “Experimento Marcos”: “Por que vocês não adicionam música?” ou “Por que não fazem o mesmo com o Evangelho de João? Com o livro de Atos?”. Sem contar com o “quero levar para a minha igreja” que logo desiste ao saber que seriam os próprios membros que atuariam.
Eu me pergunto todas as vezes: por que ao invés de proporem a nós, não buscam criar algo novo e criativo? As ideias eles já têm, o que os impedem de usar a criatividade? Na minha experiência, basta apenas querer fazer e se dispor. E vale muito a pena. Com que compararemos o Reino de Deus? Que criatividade usaremos para descrevê-lo?
Jessica Grant é jornalista e tradutora (inglês – português), interessada em audiovisual e literatura. Está se preparando para entrar na ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil) como Assessora de Comunicação e Arte, atuando, entre outras coisas, com a peça de teatro “Experimento Marcos”.
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Mesmo sem experiência, todos acabam incrivelmente se descobrindo bons atores e conseguem comunicar o evangelho criativamente – não há figurino, nem cenário, e a fala de quase todos os personagens é na base do improviso. E mais: todos acabam também redescobrindo o texto. Para muitos, é como se vissem o evangelho (todo ou parte) pela primeira vez, percebendo detalhes e trechos que nunca tinham visto antes. Para outros, é como se finalmente o evangelho fizesse sentido como uma narrativa completa.
Atuar o texto de Marcos faz com que os atores se coloquem no lugar dos personagens e tirem o pó daquelas palavras, deixando de ouvi-las como o que é conhecido há séculos e trazendo frescor. Eles precisam ouvir e, consequentemente, reagir a cada milagre e fala. Com isso aprendem a observar o relato de Jesus com um novo olhar. Ao recontar a narrativa com suas próprias palavras, o evangelho parece aproximar-se de suas realidades. Muitos atores escalados como discípulos ficam intrigados com o quanto são parecidos com eles, que não compreendiam o que se passava como não entendemos hoje. Outros, fariseus, também percebem a semelhança com estes, questionadores e implicantes. Muitos escalados para as personagens extras (cegos, mulheres, famílias) descobrem nelas a mesma fé, falta de fé ou o incansável amor de Jesus. A atuação criativa do texto renova a relação que cada ator tem com a Palavra.
Um dos últimos atores escalado como Jesus, por exemplo, encarou a dificuldade que é tentar viver este personagem e o quanto está longe de ser parecido com Cristo. Samara de Ávila Santos, que foi João na apresentação de Aracaju em setembro, disse que se surpreendeu com “como todos nós somos parecidos com as personagens apresentadas no evangelho, necessitados da misericórdia de Cristo, humildes alvos da sua compaixão”.
O texto é o mesmo: o Evangelho de Marcos. A diferença é a proposta: usar a imaginação através do improviso para recontar essa história. O resultado é um mergulho na narrativa, do qual não temos como sair secos.
Para o público, a imersão é feita através da disposição circular das cadeiras. Não há um palco e a ação ocorre ao redor da plateia, que não precisa gritar para se sentir parte da multidão que ovaciona Jesus na chegada em Jerusalém ou da mesma que nem deixava Pilatos falar de tanta vontade de crucificar o “rei dos judeus”.
Há tantas outras possibilidades de criativamente mergulharmos na Palavra e contarmos dela para outros – o que nos impede? É comum ouvir depois da apresentação do “Experimento Marcos”: “Por que vocês não adicionam música?” ou “Por que não fazem o mesmo com o Evangelho de João? Com o livro de Atos?”. Sem contar com o “quero levar para a minha igreja” que logo desiste ao saber que seriam os próprios membros que atuariam.
Eu me pergunto todas as vezes: por que ao invés de proporem a nós, não buscam criar algo novo e criativo? As ideias eles já têm, o que os impedem de usar a criatividade? Na minha experiência, basta apenas querer fazer e se dispor. E vale muito a pena. Com que compararemos o Reino de Deus? Que criatividade usaremos para descrevê-lo?
Jessica Grant é jornalista e tradutora (inglês – português), interessada em audiovisual e literatura. Está se preparando para entrar na ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil) como Assessora de Comunicação e Arte, atuando, entre outras coisas, com a peça de teatro “Experimento Marcos”.
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