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26 de maio de 2015
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Eu nunca vou perdoar!
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Eu nunca vou perdoar!
Esta frase está muitas vezes presente em conflitos familiares e conjugais e expressa os sentimentos de dor de uma pessoa que sofreu um dano ou foi ferida por condutas de uma pessoa próxima de quem esperava acolhimento e amor.
Quando somos feridos, temos de fato uma decisão bastante difícil pela frente: perdoar ou manter a mágoa? Algumas pessoas dizem, com sinceridade, que perdoam, mas não conseguem esquecer o evento que causou a dor, tampouco conseguem relacionar-se novamente com quem lhes causou o dano e o sofrimento -- mesmo quando tal pessoa é o próprio cônjuge.
Aqui está um erro comum na interpretação do significado do perdão -- “perdoar significa esquecer”. Nossa memória é o mais poderoso HD que existe e nenhuma de nossas experiências nela gravadas é apagada, salvo por alguma doença ou traumatismo. Muitas coisas podem ficar escondidas em cantos remotos da memória e serem de difícil acesso, especialmente quando acumulamos experiências, mas jamais são apagadas e com algum esforço podem ser acessadas.
Então, se perdoar não significa esquecer, o que realmente é perdoar? Talvez a minha resposta não seja muito “teológica”, mas perdoar é livrar-se da compulsão neurótica da repetição. Explico melhor: enquanto não perdoamos o dano que sofremos, a nossa tendência é ficar repetindo para nós mesmos o que o outro nos fez, que não merecíamos isso (especialmente nos casos de traição conjugal), que aquilo que sofremos dói demais, que somos infelizes pelo dano que sofremos etc. Essa repetição contínua -- para nós mesmos ou para os que nos rodeiam -- é uma espécie de neurose. Livrarmo-nos disso é sempre um sinal de saúde emocional.
Sendo assim, o perdão é o caminho que Deus nos oferece para nos livrarmos da compulsão neurótica da rememoração do dano e da dor sofridos. Perdoar é poder escolher de novo. É reconhecer que os outros não são responsáveis por nossa infelicidade. Entretanto, esse não é um caminho simples. Existem alguns aspectos que precisam ser observados no processo de perdão.
Em primeiro lugar, precisamos entender que o perdão é algo que fazemos em benefício próprio. Por quê? Quando eu posso, de forma honesta e sincera, dizer: “Fui ferido, fui magoado, não merecia isso, mas aconteceu e agora quero parar de repetir isso e decido perdoar o outro”, então passo para uma nova dimensão -- a da liberdade que posso experimentar.
Todavia, somos relutantes em perdoar porque, em segundo lugar, perdoar é arriscar-se a ser ferido novamente. E se o outro fizer de novo? Vou passar por idiota? Como vai ficar minha autoestima? É preciso correr esse risco se queremos gozar de saúde emocional. Creio que seja por esse motivo que Jesus nos incentiva a perdoar 70 x 7 -- por “nossa” saúde emocional.
Por fim, o perdão nos leva à participação na comunicação trinitária, pois abre a possibilidade de criar o “novo”. O perdão conduz a pessoa a um novo âmbito relacional, reafirmando a coparticipação na vida -- somos membros uns dos outros e isso nos constitui em um novo modelo de família. O perdão é a reintegração do filho que estava longe na busca de perversões oferecidas em outra região, mas que volta a si (estava fora de si -- louco) e regressa para a casa do pai.
Neste sentido, o exercício do perdão produz uma reestruturação familiar inclusiva -- um “emparentamento”, fazendo do outro um parente, irmão em Cristo. Este é o ministério da reconciliação a que somos chamados (2Co 5).
• Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. São autores de Pais Santos, Filhos Nem Tanto. Acompanhe o blog pessoal dos autores.
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Foto: DeathtoStock /Creative Community8
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