Opinião
- 09 de junho de 2023
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Espiritualidade encarnada para um mundo pós-cristão
Por René Breuel
Percebi que na Roma do século 21 eu precisava usar as duas modalidades: comunicar a fé “do púlpito” para quem era já aceitava a minha autoridade como pastor cristão, e comunicar a fé “sem autoridade” para quem não tinha interesse ou não conhecia a rica tradição teológica que me formou.
Em Como Reconquistar o Ocidente para Cristo, Timothy Keller observa que “Por 1000 anos, o modelo ministerial da igreja ocidental era baseado na realidade social de que as pessoas seriam dispostas, prontas e interessadas e que podíamos simplesmente pregar sermões bíblicos sólidos para elas.” Deus continua a abençoar a pregação da Palavra, obviamente. Mas o número que pessoas ‘dispostas, prontas e interessadas” a ouvir o Evangelho na Europa é muito pequeno. Precisamos ir além. Para despertar o interesse no que é essencialmente cristão, precisamos viver uma espiritualidade encarnada.
Como igreja, percebemos que oferecer bons cultos, pequenos grupos e atividades “oficialmente cristãs” era fundamental, mas não suficiente. As pessoas precisavam primeiro viver a igreja através dos relacionamentos, do senso de comunidade e de eventos não diretamente sobre a fé para começar a entender a igreja. Ao longo do ano, organizamos eventos puramente sociais, como festas, noites de jogos e eventos de culinária internacional. Organizamos também eventos em que um aspecto da fé é comunicado fora da igreja, seja de maneira intelectual em palestras e debates, seja de maneiras criativas e artísticas. E encorajamos os nossos membros a usar as suas vozes e compartilhar como a fé os ajuda nas suas batalhas.
Esse mês, eu lanço um livro em que tento fazer isso: descer “do púlpito” e compartilhar como a fé me ajudou com uma grande transição de vida: virar adulto e me tornar um pai. Em vez de ensinar “com autoridade” o que a Bíblia fala sobre o tema – já existem ótimos livros que fazem isso – uso humor e vulnerabilidade para contar os medos, fiascos e trapalhadas que possam ajudar as pessoas que estão passando por essa transição.
Me mudei para a Itália em 2010 para fundar uma igreja no bairro universitário de Roma. Eu desejava falar de Jesus e do Evangelho, mas logo percebi que as pessoas tinham uma outra pergunta quando me conheciam: “quem é você?”
A resposta que eu geralmente dava, “Sou um pastor”, por vezes produzia uma encarada confusa.
— Mas você está na cidade!
— Isso mesmo, moro aqui.
— Você mora em Roma?
Por um momento, parecia que a pessoa estava surpresa por encontrar um pastor protestante em Roma, uma cidade historicamente católica. Mas aí percebi que a confusão dizia respeito à criação de animais.
— Quero dizer, pastor de uma igreja! Não pastor de ovelhas.
— Ah, sim! Não estava entendendo, como um pastor podia morar na cidade!
Aprendi a adicionar que era um pastor de uma igreja, mas a explicitação muitas vezes mais atrapalhava do que ajudava. Percebi que, antes de começar a conversar de temas da fé, as pessoas precisavam encontrar outros modos de entender quem eu era e como interagir com o que eu tinha para dizer. Palavras como “pastor” e “evangélico” não eram conhecidas e, na falta de categorias, muitas vezes eu caía na caixa das seitas e suspeitas.
Era uma resposta que eu não podia dar do púlpito, pois precisava ser respondida antes que as pessoas desejassem conhecer uma nova igreja. Até mesmo os conceitos cristãos que eu tanto amava — a fé e a graça e a cruz de Cristo — precisavam encontrar fundamentação na realidade que as pessoas já conheciam. É o desafio que tantos outros cristãos enfrentam hoje: como transmitir a fé em um mundo cada mais pós-cristão?
Um dia encontrei uma citação do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard que me ajudou a intuir uma resposta. Na sua obra Sobre o Meu Trabalho como Autor, ele explica o seu chamado propondo uma distinção entre comunicar a fé com autoridade ou sem autoridade.
A diferença entre um Gênio e um Apóstolo ... é: “O gênio fala sem autoridade” ... Essa, então, é a categoria de toda a minha autoria: chamar a atenção ao que é religioso, ao que é essencialmente cristão – mas “sem autoridade.” Søren Kierkegaard
Percebi que na Roma do século 21 eu precisava usar as duas modalidades: comunicar a fé “do púlpito” para quem era já aceitava a minha autoridade como pastor cristão, e comunicar a fé “sem autoridade” para quem não tinha interesse ou não conhecia a rica tradição teológica que me formou.
Em Como Reconquistar o Ocidente para Cristo, Timothy Keller observa que “Por 1000 anos, o modelo ministerial da igreja ocidental era baseado na realidade social de que as pessoas seriam dispostas, prontas e interessadas e que podíamos simplesmente pregar sermões bíblicos sólidos para elas.” Deus continua a abençoar a pregação da Palavra, obviamente. Mas o número que pessoas ‘dispostas, prontas e interessadas” a ouvir o Evangelho na Europa é muito pequeno. Precisamos ir além. Para despertar o interesse no que é essencialmente cristão, precisamos viver uma espiritualidade encarnada.
Como igreja, percebemos que oferecer bons cultos, pequenos grupos e atividades “oficialmente cristãs” era fundamental, mas não suficiente. As pessoas precisavam primeiro viver a igreja através dos relacionamentos, do senso de comunidade e de eventos não diretamente sobre a fé para começar a entender a igreja. Ao longo do ano, organizamos eventos puramente sociais, como festas, noites de jogos e eventos de culinária internacional. Organizamos também eventos em que um aspecto da fé é comunicado fora da igreja, seja de maneira intelectual em palestras e debates, seja de maneiras criativas e artísticas. E encorajamos os nossos membros a usar as suas vozes e compartilhar como a fé os ajuda nas suas batalhas.
Esse mês, eu lanço um livro em que tento fazer isso: descer “do púlpito” e compartilhar como a fé me ajudou com uma grande transição de vida: virar adulto e me tornar um pai. Em vez de ensinar “com autoridade” o que a Bíblia fala sobre o tema – já existem ótimos livros que fazem isso – uso humor e vulnerabilidade para contar os medos, fiascos e trapalhadas que possam ajudar as pessoas que estão passando por essa transição.
Eu também tive medo da paternidade, de perder a minha juventude e não manter o romance no meu casamento. E depois de dar risada de noites mal dormidas e greves de professores na escolinha, ler sobre a oração e a fundação de uma igreja nesse livro pode fazer um pouco mais sentido.
Como Jesus, a fé deve ser encarnada. Depois que as pessoas tem uma noção de quem você é, vão querer saber porque você se tornou essa pessoa.
Como Jesus, a fé deve ser encarnada. Depois que as pessoas tem uma noção de quem você é, vão querer saber porque você se tornou essa pessoa.
- René Breuel é o pastor fundador da Igreja Hopera e o autor de O Paradoxo da Felicidade e Não é fácil ser pai: Como domar os leõezinhos, não chatear sua esposa e recuperar (um pouco) a sanidade depois da paternidade.
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Não é fácil assumir-se fraco. Não é nem um pouco confortável vivenciar a fraqueza. Ela causa dor, limita, envergonha, humilha, incomoda, nos encurrala. É, muitas vezes, o lugar do desânimo, da ansiedade, do desespero, da tristeza, da desorientação, do cansaço, da indiferença. Mas é também o lugar onde clamamos com toda a sinceridade pela força que vem de Deus. E ele nos atende!
Saiba mais:
» Para Que Serve a Espiritualidade?, Harold Segura C.
» Discipulado e Transformação, N. T. Wright e outros
» A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, Ricardo Barbosa de Sousa
» O caminho do coração, Ricardo Barbosa de Sousa
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» O Desafio da Pregação, John Stott» O Evangelho Em Uma Sociedade Pluralista, Lesslie Newbigin
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