Opinião
- 01 de setembro de 2011
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Espiritualidade e missão
A ligação entre a espiritualidade cristã (como seguimos a Cristo) e a missão (como O servimos) é um assunto que carece de frequente reflexão, especialmente quando o abismo entre a fé e a vida parece crescer. Em nossos dias há um claro descompasso entre o conhecimento adquirido – bíblico e teológico – e o cumprimento da missão.
John Knox já nos alertou que a ponte entre o conhecimento e a transformação é o quebrantamento. Ou, em outras palavras, a única maneira de traduzirmos o que cremos, ouvimos e pregamos para a forma como vivemos é passando por um quebrantamento de coração.
Um dos fatos bíblicos mais fantásticos e significativos foi, sem dúvida, o Pentecostes. Nele, em um só momento, a Igreja foi conduzida pelo Espírito e caminhou para cumprir a missão.
Segundo Julius, o Pentecostes era um evento bastante frequentado que acontecia sob clima de reencontros, já que judeus que moravam em terras distantes empreendiam, nesta época do ano, longas jornadas para ali estar no quinquagésimo dia após a Páscoa.
Na descrição do capítulo 2 de Atos, o Espírito Santo é a pessoa central – e Lucas é justamente o autor sinóptico que mais fala sobre Ele, utilizando expressões como “ungido” pelo Espírito, ou “poder” do Espírito, ou ainda “dirigido” pelo Espírito (Lc 3:21; 4:1, 14, 18), demonstrando que na teologia Lucana o Espírito Santo era realmente aquele que viria para levar a Igreja a se parecer mais com Cristo.
Chegamos ao momento do Pentecostes. Fenômenos estranhos aos de fora e incomuns à Igreja aconteceram neste dia. A Bíblia resume os acontecimentos ao falar de um “vento impetuoso” (no grego echos, usado para o estrondo do mar); “línguas como de fogo” que pousavam sobre cada um; “ficaram cheios do Espírito Santo” e começaram a falar “em outras línguas”. Lucas fecha a descrição com a expressão no verso 4: “segundo o Espírito lhes concedia”.
O texto no verso 4 utiliza os termos eterais glossais para afirmar que eles falaram em outras glosse – línguas – expressão usada para línguas humanas, idiomas. A fim de não deixar dúvidas, no versículo 8 o texto nos diz que cada um ouviu em sua “própria língua”, usando aqui o termo dialekto que se refere aos dialetos ali presentes. O grande milagre, nesta ocasião, não se deu na boca de quem falou, mas no ouvido dos ouvintes, cada um compreendendo a mensagem “em sua própria língua”.
Em meio a este cenário atordoante (vento, fogo, som, línguas) o improvável acontece. Aquilo que seria uma experiência espiritual interna para 120 pessoas chega até as ruas. O caráter missionário do Evangelho é exposto e torna-se perceptível: o que o Senhor desejava demonstrar no Pentencoste é que este poder – dinamis de Deus – não havia sido derramado apenas para atos de contemplação em um culto cristão restrito, mas sobretudo para a proclamação do nome de Jesus.
Em um só momento Deus fez cumprir não apenas o “recebereis poder”, mas também o “sereis minhas testemunhas”. A Igreja revestida nasceu com uma missão: testemunhar de Jesus.
Muitos se convertem e a Igreja passa de 120 crentes para 3.000, e depois 5.000. Não sabemos o resultado daqueles representantes de quatorze nações voltando para suas terras com o Evangelho vivo, mas podemos imaginar o quanto o Evangelho se espalhou pelo mundo a partir deste episódio.
No verso 37 lemos que, após o sermão em que Pedro anuncia a Cristo, “compugiu-se-lhes o coração”. O termo usado para “compungir” vem de katanusso, usado para uma “forte ferroada”. A Palavra afirma que “naquele dia foram acrescentadas quase três mil almas”. O Espírito Santo usava o cenário do Pentecostes para alcançar homens de perto e de longe, gerando arrependimento e mudança de vida.
Algo que aprendemos neste texto é que a presença do Espírito Santo leva a mensagem de Cristo para as ruas, para fora do salão e do templo. A genuína presença do Espírito – a verdadeira espiritualidade – gera um caráter missionário na Igreja e faz crescer a disposição para o serviço.
Nossa herança de espiritualidade provinda do Pentecostes precisa nos levar a sermos uma Igreja nas ruas, não enclausurada, uma Igreja cristocêntrica com amor e tolerância entre os irmãos, não segmentada ou partidária, uma Igreja cuja bandeira é Cristo e não ela própria! E, por fim, uma Igreja proclamadora, que fala de Cristo perto e longe.
Parece-me que uma Igreja quebrantada de coração e conduzida pelo Espírito vai sempre para as ruas, onde estão aqueles por quem Jesus morreu.
John Knox já nos alertou que a ponte entre o conhecimento e a transformação é o quebrantamento. Ou, em outras palavras, a única maneira de traduzirmos o que cremos, ouvimos e pregamos para a forma como vivemos é passando por um quebrantamento de coração.
Um dos fatos bíblicos mais fantásticos e significativos foi, sem dúvida, o Pentecostes. Nele, em um só momento, a Igreja foi conduzida pelo Espírito e caminhou para cumprir a missão.
Segundo Julius, o Pentecostes era um evento bastante frequentado que acontecia sob clima de reencontros, já que judeus que moravam em terras distantes empreendiam, nesta época do ano, longas jornadas para ali estar no quinquagésimo dia após a Páscoa.
Na descrição do capítulo 2 de Atos, o Espírito Santo é a pessoa central – e Lucas é justamente o autor sinóptico que mais fala sobre Ele, utilizando expressões como “ungido” pelo Espírito, ou “poder” do Espírito, ou ainda “dirigido” pelo Espírito (Lc 3:21; 4:1, 14, 18), demonstrando que na teologia Lucana o Espírito Santo era realmente aquele que viria para levar a Igreja a se parecer mais com Cristo.
Chegamos ao momento do Pentecostes. Fenômenos estranhos aos de fora e incomuns à Igreja aconteceram neste dia. A Bíblia resume os acontecimentos ao falar de um “vento impetuoso” (no grego echos, usado para o estrondo do mar); “línguas como de fogo” que pousavam sobre cada um; “ficaram cheios do Espírito Santo” e começaram a falar “em outras línguas”. Lucas fecha a descrição com a expressão no verso 4: “segundo o Espírito lhes concedia”.
O texto no verso 4 utiliza os termos eterais glossais para afirmar que eles falaram em outras glosse – línguas – expressão usada para línguas humanas, idiomas. A fim de não deixar dúvidas, no versículo 8 o texto nos diz que cada um ouviu em sua “própria língua”, usando aqui o termo dialekto que se refere aos dialetos ali presentes. O grande milagre, nesta ocasião, não se deu na boca de quem falou, mas no ouvido dos ouvintes, cada um compreendendo a mensagem “em sua própria língua”.
Em meio a este cenário atordoante (vento, fogo, som, línguas) o improvável acontece. Aquilo que seria uma experiência espiritual interna para 120 pessoas chega até as ruas. O caráter missionário do Evangelho é exposto e torna-se perceptível: o que o Senhor desejava demonstrar no Pentencoste é que este poder – dinamis de Deus – não havia sido derramado apenas para atos de contemplação em um culto cristão restrito, mas sobretudo para a proclamação do nome de Jesus.
Em um só momento Deus fez cumprir não apenas o “recebereis poder”, mas também o “sereis minhas testemunhas”. A Igreja revestida nasceu com uma missão: testemunhar de Jesus.
Muitos se convertem e a Igreja passa de 120 crentes para 3.000, e depois 5.000. Não sabemos o resultado daqueles representantes de quatorze nações voltando para suas terras com o Evangelho vivo, mas podemos imaginar o quanto o Evangelho se espalhou pelo mundo a partir deste episódio.
No verso 37 lemos que, após o sermão em que Pedro anuncia a Cristo, “compugiu-se-lhes o coração”. O termo usado para “compungir” vem de katanusso, usado para uma “forte ferroada”. A Palavra afirma que “naquele dia foram acrescentadas quase três mil almas”. O Espírito Santo usava o cenário do Pentecostes para alcançar homens de perto e de longe, gerando arrependimento e mudança de vida.
Algo que aprendemos neste texto é que a presença do Espírito Santo leva a mensagem de Cristo para as ruas, para fora do salão e do templo. A genuína presença do Espírito – a verdadeira espiritualidade – gera um caráter missionário na Igreja e faz crescer a disposição para o serviço.
Nossa herança de espiritualidade provinda do Pentecostes precisa nos levar a sermos uma Igreja nas ruas, não enclausurada, uma Igreja cristocêntrica com amor e tolerância entre os irmãos, não segmentada ou partidária, uma Igreja cuja bandeira é Cristo e não ela própria! E, por fim, uma Igreja proclamadora, que fala de Cristo perto e longe.
Parece-me que uma Igreja quebrantada de coração e conduzida pelo Espírito vai sempre para as ruas, onde estão aqueles por quem Jesus morreu.
Ronaldo Lidório é teólogo e antropólogo, missionário (APMT e WEC) entre grupos pouco ou não evangelizados. É organizador de Indígenas do Brasil -- avaliando a missão da igreja e A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.
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