Opinião
- 01 de dezembro de 2021
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Ensine a criança no caminho em que deve andar
O caminho que o adulto trilha é, em grande medida, definido na sua infância
Por Ricardo Barbosa de Sousa
Quando era adolescente, ouvi muitas vezes a afirmação: “Deus não tem netos”. Queriam que eu soubesse que, embora fizesse parte de uma terceira geração de cristãos, precisava ter a minha experiência pessoal com Cristo. Ter pais cristãos não me tornava, necessariamente, também um cristão. O problema com essa afirmação, segundo o doutor Gordon Smith, é que ela é parcialmente verdadeira. É certo que cada indivíduo necessita entrar num relacionamento pessoal com Deus por meio de Jesus Cristo. Porém, ela falha em não considerar que a aliança de Deus é com um povo, e não com indivíduos, o que inclui as crianças, inclusive as que ainda não compreendem a graça salvadora de Jesus Cristo.
Ao escolher Abraão, Deus não escolheu apenas a ele, mas também a sua descendência. É por isso que Abraão deveria circuncidar seus filhos como sinal da aliança, para que soubessem que seu Deus era o Deus de seus pais. Aliança diz respeito ao relacionamento de Deus com seu povo. É por isso que as orientações de Moisés eram dirigidas tanto aos adultos quanto às crianças:
Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. (Dt 6.4-7)
O que significa reconhecer e afirmar que as crianças fazem parte do povo da nova aliança? Por um lado, significa assumir a responsabilidade com a sua formação espiritual. Quando a Bíblia fala sobre “inculcar” a palavra de Deus na criança, ela não presume apenas a catequese, embora seja um elemento fundamental, mas também o testemunho, histórias, festas e liturgias.
As crianças têm uma capacidade impressionante em responder à realidade transcendente. Como afirma Marlene Enns, missionária e educadora em Assunção, Paraguai, “as crianças são seres espirituais e, como tais, podem conhecer a Deus pessoalmente uma vez que Deus se comunica com elas através do Espírito Santo […] São seres criados à imagem e semelhança de Deus. Isso significa que são capazes de construir criativamente seu conhecimento e sua experiência religiosa em interação com a família e Igreja […] Necessitam fazer parte de uma comunidade intergeracional e serem instruídas biblicamente acerca do evangelho e da obra de Jesus”.
Por outro lado, precisamos assumir que elas são a parte mais frágil e vulnerável da família da fé e que temos a dupla responsabilidade de não dificultar o relacionamento delas com Jesus e evitar, a todo custo, tudo aquilo que venha a servir de tropeço ou escândalo para sua formação espiritual.
É preciso oferecer a elas um ambiente seguro para que sua compreensão do cuidado, amor e bondade de Deus se dê de forma natural, alimentando a sua imaginação espiritual. Quando pais falham com seus filhos, seja por negligência ou mesmo por abuso ou violência, a Igreja precisa encontrar os meios para proteger essas crianças. Como cristãos, precisamos recuperar o conceito de paternidade/maternidade pactual. Ele não se aplica apenas às crianças cujos pais são cristãos, mas também, e sobretudo, àquelas que dependem totalmente da comunidade da fé para serem instruídas no caminho do Senhor. Não me refiro aqui a criar programas especiais voltados para essas crianças, o que é muito bom, mas a integrá-las à vida da Igreja, acolhendo-as e abençoando-as como Jesus fez.
Por fim, é necessário reconhecer o protagonismo das crianças na história da redenção. Davi foi escolhido e ungido rei de Israel quando era adolescente. Samuel foi consagrado e entregue ao sacerdote Eli logo que deixou de ser amamentado pela sua mãe. Na visão de Isaías sobre o reinado do Messias, ele profetiza dizendo: “Um pequenino os guiará”. No Salmo 8, depois de celebrar a grandeza e beleza da criação no primeiro versículo, o poeta diz: “Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador”. Quando o anjo anuncia a Zacarias o nascimento de seu filho João Batista, ele diz: “Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno”. Cheio do Espírito Santo no ventre materno. A transmissão da fé representa hoje um grande desafio para a Igreja de Cristo, desafio que precisa ser demonstrado no cuidado com cada criança.
• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de, entre outros, Quando a Alegria Não Vem pela Manhã, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas e O Caminho do Coração.
Publicado originalmente na edição O que será desta criança? (novembro/dezembro 2021) de Ultimato.
Leia mais:
» A lei da transmissão
» Estudo bíblico “Ensina a criança no caminho que deve andar”
Por Ricardo Barbosa de Sousa
Quando era adolescente, ouvi muitas vezes a afirmação: “Deus não tem netos”. Queriam que eu soubesse que, embora fizesse parte de uma terceira geração de cristãos, precisava ter a minha experiência pessoal com Cristo. Ter pais cristãos não me tornava, necessariamente, também um cristão. O problema com essa afirmação, segundo o doutor Gordon Smith, é que ela é parcialmente verdadeira. É certo que cada indivíduo necessita entrar num relacionamento pessoal com Deus por meio de Jesus Cristo. Porém, ela falha em não considerar que a aliança de Deus é com um povo, e não com indivíduos, o que inclui as crianças, inclusive as que ainda não compreendem a graça salvadora de Jesus Cristo.
Ao escolher Abraão, Deus não escolheu apenas a ele, mas também a sua descendência. É por isso que Abraão deveria circuncidar seus filhos como sinal da aliança, para que soubessem que seu Deus era o Deus de seus pais. Aliança diz respeito ao relacionamento de Deus com seu povo. É por isso que as orientações de Moisés eram dirigidas tanto aos adultos quanto às crianças:
Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. (Dt 6.4-7)
O que significa reconhecer e afirmar que as crianças fazem parte do povo da nova aliança? Por um lado, significa assumir a responsabilidade com a sua formação espiritual. Quando a Bíblia fala sobre “inculcar” a palavra de Deus na criança, ela não presume apenas a catequese, embora seja um elemento fundamental, mas também o testemunho, histórias, festas e liturgias.
As crianças têm uma capacidade impressionante em responder à realidade transcendente. Como afirma Marlene Enns, missionária e educadora em Assunção, Paraguai, “as crianças são seres espirituais e, como tais, podem conhecer a Deus pessoalmente uma vez que Deus se comunica com elas através do Espírito Santo […] São seres criados à imagem e semelhança de Deus. Isso significa que são capazes de construir criativamente seu conhecimento e sua experiência religiosa em interação com a família e Igreja […] Necessitam fazer parte de uma comunidade intergeracional e serem instruídas biblicamente acerca do evangelho e da obra de Jesus”.
Por outro lado, precisamos assumir que elas são a parte mais frágil e vulnerável da família da fé e que temos a dupla responsabilidade de não dificultar o relacionamento delas com Jesus e evitar, a todo custo, tudo aquilo que venha a servir de tropeço ou escândalo para sua formação espiritual.
É preciso oferecer a elas um ambiente seguro para que sua compreensão do cuidado, amor e bondade de Deus se dê de forma natural, alimentando a sua imaginação espiritual. Quando pais falham com seus filhos, seja por negligência ou mesmo por abuso ou violência, a Igreja precisa encontrar os meios para proteger essas crianças. Como cristãos, precisamos recuperar o conceito de paternidade/maternidade pactual. Ele não se aplica apenas às crianças cujos pais são cristãos, mas também, e sobretudo, àquelas que dependem totalmente da comunidade da fé para serem instruídas no caminho do Senhor. Não me refiro aqui a criar programas especiais voltados para essas crianças, o que é muito bom, mas a integrá-las à vida da Igreja, acolhendo-as e abençoando-as como Jesus fez.
Por fim, é necessário reconhecer o protagonismo das crianças na história da redenção. Davi foi escolhido e ungido rei de Israel quando era adolescente. Samuel foi consagrado e entregue ao sacerdote Eli logo que deixou de ser amamentado pela sua mãe. Na visão de Isaías sobre o reinado do Messias, ele profetiza dizendo: “Um pequenino os guiará”. No Salmo 8, depois de celebrar a grandeza e beleza da criação no primeiro versículo, o poeta diz: “Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador”. Quando o anjo anuncia a Zacarias o nascimento de seu filho João Batista, ele diz: “Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno”. Cheio do Espírito Santo no ventre materno. A transmissão da fé representa hoje um grande desafio para a Igreja de Cristo, desafio que precisa ser demonstrado no cuidado com cada criança.
• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de, entre outros, Quando a Alegria Não Vem pela Manhã, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas e O Caminho do Coração.
Publicado originalmente na edição O que será desta criança? (novembro/dezembro 2021) de Ultimato.
Leia mais:
» A lei da transmissão
» Estudo bíblico “Ensina a criança no caminho que deve andar”
Pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília (DF). É colunista da revista Ultimato e autor de A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas e O Caminho do Coração.
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