Opinião
- 03 de fevereiro de 2023
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Ele é "O" Descanso
Por Márcia Heuko
Os evangelhos sinóticos relatam que certa vez Jesus enviou seus discípulos numa missão, a fim de anunciar as pessoas que elas deviam arrepender-se de seus pecados.
Chamando os Doze para junto de si, enviou-os de dois em dois e deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos. Estas foram as suas instruções: "Não levem nada pelo caminho, a não ser um bordão. Não levem pão, nem saco de viagem, nem dinheiro em seus cintos; calcem sandálias, mas não levem túnica extra; sempre que entrarem numa casa, fiquem ali até partirem; e, se algum povoado não os receber nem os ouvir, sacudam a poeira dos seus pés quando saírem de lá, como testemunho contra eles". Eles saíram e pregaram ao povo que se arrependesse. Expulsavam muitos demônios, ungiam muitos doentes com óleo e os curavam. (Mc 6.7-13. Cf. Mt 10.5-15; Lc 9.1-6).
O texto não informa quanto tempo durou a empreitada, mas ainda que fosse apenas um dia, eles ficaram esgotados. Após concluir a tarefa, eles voltaram alegres pela missão cumprida. Ao reencontrá-los Jesus disse: venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco. (Mc 6.30, 31). O verbo utilizado por Jesus para oferecer aos discípulos “descanso” (anapauó) é o mesmo verbo que ele usou em duas promessas: “venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mt 11.28), e, “bem-aventurados os que morrem no Senhor, pois descansarão de suas fadigas, porque suas obras os acompanham” (Ap 14.13).
O trabalho exaustivo pode resultar em muita fadiga, e não raras vezes, traz grande desgaste emocional. Nosso descanso integral está “no” Senhor, ele é o nosso sabbat – "repouso”, “descanso", tanto para o corpo, quanto para as aflições da alma. (Mt 11.29; 12.8). Pela sua piedade e para salvaguardar o homem da fadiga e suas consequências físicas e emocionais, Deus instituiu um dia de sabbat (Mc 2.27). Quem cumpre a ordem de descanso semanal previne muitas enfermidades que afligem o corpo fatigado. Além disso, é necessário administrar o tempo dedicado ao trabalho, para que não prejudicar a dedicação a Deus e a família.
Algumas pessoas são workaholics, ou seja, gastam um tempo considerável no trabalho e atividades afins, e continuam psicologicamente conectados a isso mesmo fora do expediente. “O workaholism é um vício da mesma forma que o alcoolismo, e pode levar à perda do controle da própria vida, à desintegração familiar e a sérios problemas de saúde, chegando mesmo à morte. Este vício pode atingir altos níveis de estresse, problemas físicos e psicológicos, relações interpessoais hostis, pouca satisfação no trabalho, baixo desempenho e turnover (rotatividade de trabalho) e absentismo voluntários.” (PIMEN-TA, 2018, p. 18)1.
Aquele que trabalha exaustivamente para obter conforto material, ignora as palavras de Jesus: a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens. (Lc 12.15b). Da mesma forma, quem insiste em trabalhar initerruptamente a fim de prover seu sustento, demonstra que não crê na provisão de Deus (Mt 6.32) – ainda que ore a ele pedindo o pão diário (Mt 6.11).
A fé requer uma postura de confiança e descanso, do contrário ela “é morta” (Mt 21.21,22; Tg 2.17). Davi confiou no cuidado do Senhor, e enquanto focava em cumprir o propósito divino, Deus o fez descansar em verdes pastos, o guiou em águas tranquilas, refrigerou sua alma, revigorou suas forças e supriu todas as suas necessidades (Sl 23).
Nem sempre apenas as férias anuais, de quinze ou trinta dias, serão suficientes para recompor nossas forças, ainda que sejam desfrutadas num lugar paradisíaco. Possivelmente você trabalhou, ou vai trabalhar além da conta para pagar estas férias. Experimentar o “paraíso na terra” só é possível para quem vive sob o Reino de Deus, e se condiciona as suas ordenanças, entre elas, trabalhar seis dias e descansar um dia da semana.
Jesus disse que o sabbat foi instituído “por causa do homem” (Mc 2.27), portanto, se Deus determinou que homem precisa de um dia de descanso, quem é o homem para contradizê-lo? Reavalie suas prioridades, “busque em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6.33). Cuide da sua família e de seus relacionamentos interpessoais, cuide de seu ministério, e aguarde em Deus. Ele lhe concederá tudo o que você necessita, inclusive descanso para o corpo e para a alma.
Notas:
1. PIMENTA, Ana C. Araújo. Workaholism, work engagement e burnout: distinção empírica e sua rela-ção com os recursos e as exigências laborais. Dissertação de Mestrado em psicologia do trabalho e das organizações. Orientadora Prof. Dra. Carla Semedo. Universidade de Évora - Escola de Ciências Sociais - Departamento de Psicologia. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/62464437.pdf. Acesso em 29/01/2023.
1. PIMENTA, Ana C. Araújo. Workaholism, work engagement e burnout: distinção empírica e sua rela-ção com os recursos e as exigências laborais. Dissertação de Mestrado em psicologia do trabalho e das organizações. Orientadora Prof. Dra. Carla Semedo. Universidade de Évora - Escola de Ciências Sociais - Departamento de Psicologia. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/62464437.pdf. Acesso em 29/01/2023.
- Márcia Heuko, teóloga profissional, professora do Antigo e do Novo testamento na Faculdade Fidelis, redatora e produtora dos programas ‘Me explique a Bíblia’ e ‘A mensagem do céu” da rádio HCJB Bra-sil.
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