Opinião
- 29 de outubro de 2012
- Visualizações: 6556
- 2 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
Educação Teológica na U.T.I.
Tenho percorrido o Brasil em comissões de avaliação de cursos de teologia. Nessas andanças, chamou minha atenção o fenômeno da Endogenia, como o definiu meu colega de trabalho, que muito a propósito lembrou-me ainda de seu equivalente no alemão: Inzucht. Essa palavra significa a cultura de um ser, a partir de dentro, do cruzamento de indivíduos daquela comunidade entre si, sem possibilidade de “oxigenação”.
Explico. Muitos dos professores, antes de exercerem a profissão, eram alunos de professores daquela instituição, que por sua vez foram alunos e assim vai, por gerações a fio. Sim, as instituições teleológicas são centenárias no Brasil.
A novidade é que desde 2009 a área foi oficialmente reconhecida pelo governo como um campo da ciência e, portanto, algo sobre o qual pode legislar. Mas, às instituições teológicas foi garantido o direito de, se assim desejarem, permanecerem “livres”, ou seja, independentes de qualquer legislação governamental, mas também, sem reconhecimento oficial como cursos de bacharel ou mestrado e doutorado.
Mas o que acontece na “endogenia” dos seminários e o que não pode haver em cursos reconhecidos: produção própria de profissionais que, sendo formados pela própria instituição, cantam conforme o hinário da mesma e tendem a ousar pouco, no sentido da mudança, de modo que o curso se torne “em-si-mesmado”.
Uma das consequências mais nefastas disso está na metodologia. Os cursos de teologia, à semelhança dos de filosofia, tendem a reproduzir os seus modelos metodológicos, basicamente “verborreicos” (aula expositiva, que não deixa de ser expositiva pelo uso de tecnologias, como o data-show).
Por que é tão difícil prender a atenção do aluno? Uma das reclamações mais frequentes entre eles mesmos. É simples. Não há sangue novo e, uma das consequências disso, é o sufocamento da dinamicidade própria de qualquer curso, tanto os universitários, quanto os teológicos.
As aulas seguem aquele modelo pronto, previsível, monológico (e não dialógico, como deveria ser), em que o professor está preocupado apenas com o conteúdo, com o saber e não o ser e com o fazer. Teoria e prática andam há quilômetros de distância e professores e alunos estão desmotivados, sem a vida que se espera de um cristão autêntico.
As aulas são enfadonhas e rotineiras e o aluno fica se perguntando se não era melhor aprender tudo aquilo sozinho, diante de um computador e uma internet potente.
A Drª Sherron K. George comenta em seu artigo, que recomendo a todos aqueles preocupados com a educação teológica, que quando nos referimos à natureza criada do ser humano, toda educação integral deve ser mantida em vista:
Também a criatividade do professor é muitas vezes sufocada pelo excesso de formalismo e pela mencionada Endogenia e Inzucht. E assim, sua dinamicidade e carisma jazem na penumbra e às margens de currículos mumificados e inchados. Haverá esperança de se quebrar o ciclo vicioso? Deus salve a Educação Teológica!
[...] pode-se dizer que Deus incentiva a criatividade com parâmetros, com que o ensino deve promover espaço para a criatividade. Deus concede ao ser humano o poder generativo da vida, fertilidade, produtividade, criatividade, estética e imaginação artística. As implicações dessas verdades, para os seminários, são claras. É que o aluno tem o privilégio e a responsabilidade de explorar e pesquisar com liberdade, arte e imaginação e, ao mesmo tempo, tem que respeitar certos limites e técnicas. (FEORGE, SK, “Fundamentos Bíblicos e Pedagógicos da Educação Teológica”, Reflexão Teológica, nº2 (2010) São Paulo: Betel Brasileiro, 2010, p. 114).
Também a criatividade do professor é muitas vezes sufocada pelo excesso de formalismo e pela mencionada Endogenia e Inzucht. E assim, sua dinamicidade e carisma jazem na penumbra e às margens de currículos mumificados e inchados. Haverá esperança de se quebrar o ciclo vicioso? Deus salve a Educação Teológica!
Leia mais
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
- Textos publicados: 68 [ver]
- 29 de outubro de 2012
- Visualizações: 6556
- 2 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
- + vendidos
- + vistos