Opinião
- 30 de agosto de 2016
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É possível ser feminista cristã?
Por ocasião das atuais discussões em torno da mulher, formamos um grupo para o estudo da história do “Movimento de Emancipação das Mulheres”, prestando atenção às suas principais críticas e reinvindicações. A intenção era a de suprir uma lacuna de diálogo, nos termos da cultura, fornecendo um conteúdo geral às interessadas pelo assunto. À medida que os encontros ocorriam perguntas distantes dos grupos eclesiásticos de mulheres começavam a florescer. Mas essas perguntas tinham tons diferentes. Eram dúvidas de primeira pessoa, iniciadas em tom confessional, ilustradas por experiências particulares e quase sempre intercambiadas por adversativas como “mas”, “porém”, “todavia”.
Essas perguntas na boca de cristãs sinceras, maduras no trato de assuntos espinhosos e vindas de igrejas com boa teologia, manifestaram a tensão em torno do assunto. Ficou evidente a dificuldade de responder com segurança questões comuns a todos que transitam pelas cidades de Deus e dos homens, neste caso, na especificidade da pergunta acerca da mulher. A pergunta pela sua autonomia é também a pergunta pela autonomia de “Adam”, feito homem e mulher. Questão presente no tempo e no interior da igreja que precisa diariamente responder aos desafios do pluralismo cultural.
O ápice dessa conjuntura se manifestou na pergunta sobre a possibilidade de conciliar cristianismo e feminismo. É possível ser feminista cristã? Pergunta de difícil resposta. Mas sua dificuldade não se dá pela ausência de conteúdo cristão para enfrentá-la, mas pela ambiguidade presente no próprio movimento feminista. Seus historiadores alegam que apesar de haver uma narrativa básica de defesa da igualdade entres os gêneros, não há unanimidade quanto aos meios para conquistá-la. Os meios se tornam diferentes em diferentes contextos históricos com base em diferentes entendimentos e conflitos experimentados. Os próprios conceitos de igualdade e/ na diferença impõem dificuldades aos militantes da matéria.
Um exemplo de como os meios podem alterar a ideia de igualdade - e vice-e-versa - está no fato de, em nossa época, o conceito de mulher começar a sofrer propostas de alteração para a inclusão de pessoas transexuais1. Há dúvidas de que tal projeto muda radicalmente os termos de uma alegada igualdade entre mulheres e homens? Tal iniciativa manifesta uma velada negação à própria mulher. À sua distinção. Mulher concebida por Deus. Será que para conceder direito a um se faz necessário esvaziar e transvalorar o outro?
Nesse sentido, crenças e convicções no interior do feminismo se tornaram amplas, variadas e mesmo contraditórias para nos permitir um julgamento preciso. Reinvindicações feministas se mostraram boas, neutras ou más em diferentes épocas, sob diferentes condições e por diferentes entendimentos. Por isso, é necessário saber e não separar ou relativizar o significado das reivindicações e de seus meios. Feminismo é um sistema de ideias que esboça concepções, vontades e sentimentos daqueles que estão em sua capitania. São olhos do tempo que nem sempre consideram a verdade realizada na criação-queda-redenção da humanidade. A assertiva simples de que “é pela igualdade” camufla juízos e implicações importantes à sua justeza e possibilidade dela.
Por sua vez, a Palavra de Deus é o que É. Fundamento para o Cristianismo. Fundamento único capaz de dar explicação e sentido aos dilemas humanos. E está tudo lá. Não há nada de novo. E se queremos viver o Evangelho da Graça, os novos nomes para os pecados antigos terão de ser ditos na especificidade da verdade cristã e não na adesão a dogmas seculares com aparente legitimidade. Se há dívida, o resgate dos princípios bíblicos será sempre o melhor caminho. E isso não é ser feminista. É ser cristã para um mundo de inquietações em torno da mulher e do homem. É ser cristã com olhos de redenção e não de desconstrução nos moldes seculares. Vale resgatar antes de considerar o feminismo como a nova aposta para a redenção da mulher... e do homem.
Nota:
1. Amelioration and Inclusion: Gender Identity and the Concept of Woman, de Katharine Jenkins. Disponível aqui.
• Isabella Passos é formada em Filosofia pela PUC-MG. Estuda atualmente no programa de pós-graduação da UFMG. Mora em Belo Horizonte e é membro da Igreja Esperança.
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A Missão da Mulher (Paul Tournier)
Deixem que elas mesmas falem
Foto: Luisa Migon/Freeimages.com
Essas perguntas na boca de cristãs sinceras, maduras no trato de assuntos espinhosos e vindas de igrejas com boa teologia, manifestaram a tensão em torno do assunto. Ficou evidente a dificuldade de responder com segurança questões comuns a todos que transitam pelas cidades de Deus e dos homens, neste caso, na especificidade da pergunta acerca da mulher. A pergunta pela sua autonomia é também a pergunta pela autonomia de “Adam”, feito homem e mulher. Questão presente no tempo e no interior da igreja que precisa diariamente responder aos desafios do pluralismo cultural.
O ápice dessa conjuntura se manifestou na pergunta sobre a possibilidade de conciliar cristianismo e feminismo. É possível ser feminista cristã? Pergunta de difícil resposta. Mas sua dificuldade não se dá pela ausência de conteúdo cristão para enfrentá-la, mas pela ambiguidade presente no próprio movimento feminista. Seus historiadores alegam que apesar de haver uma narrativa básica de defesa da igualdade entres os gêneros, não há unanimidade quanto aos meios para conquistá-la. Os meios se tornam diferentes em diferentes contextos históricos com base em diferentes entendimentos e conflitos experimentados. Os próprios conceitos de igualdade e/ na diferença impõem dificuldades aos militantes da matéria.
Um exemplo de como os meios podem alterar a ideia de igualdade - e vice-e-versa - está no fato de, em nossa época, o conceito de mulher começar a sofrer propostas de alteração para a inclusão de pessoas transexuais1. Há dúvidas de que tal projeto muda radicalmente os termos de uma alegada igualdade entre mulheres e homens? Tal iniciativa manifesta uma velada negação à própria mulher. À sua distinção. Mulher concebida por Deus. Será que para conceder direito a um se faz necessário esvaziar e transvalorar o outro?
Nesse sentido, crenças e convicções no interior do feminismo se tornaram amplas, variadas e mesmo contraditórias para nos permitir um julgamento preciso. Reinvindicações feministas se mostraram boas, neutras ou más em diferentes épocas, sob diferentes condições e por diferentes entendimentos. Por isso, é necessário saber e não separar ou relativizar o significado das reivindicações e de seus meios. Feminismo é um sistema de ideias que esboça concepções, vontades e sentimentos daqueles que estão em sua capitania. São olhos do tempo que nem sempre consideram a verdade realizada na criação-queda-redenção da humanidade. A assertiva simples de que “é pela igualdade” camufla juízos e implicações importantes à sua justeza e possibilidade dela.
Por sua vez, a Palavra de Deus é o que É. Fundamento para o Cristianismo. Fundamento único capaz de dar explicação e sentido aos dilemas humanos. E está tudo lá. Não há nada de novo. E se queremos viver o Evangelho da Graça, os novos nomes para os pecados antigos terão de ser ditos na especificidade da verdade cristã e não na adesão a dogmas seculares com aparente legitimidade. Se há dívida, o resgate dos princípios bíblicos será sempre o melhor caminho. E isso não é ser feminista. É ser cristã para um mundo de inquietações em torno da mulher e do homem. É ser cristã com olhos de redenção e não de desconstrução nos moldes seculares. Vale resgatar antes de considerar o feminismo como a nova aposta para a redenção da mulher... e do homem.
Nota:
1. Amelioration and Inclusion: Gender Identity and the Concept of Woman, de Katharine Jenkins. Disponível aqui.
• Isabella Passos é formada em Filosofia pela PUC-MG. Estuda atualmente no programa de pós-graduação da UFMG. Mora em Belo Horizonte e é membro da Igreja Esperança.
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