Opinião
- 26 de dezembro de 2014
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Doze motivos para descansar
Sexta-feira à tardinha. Você está desligando seu computador no trabalho, encerrando suas atividades. Qual o primeiro pensamento que vem em sua mente? Falando honestamente, muitas vezes somos tomados por um sentimento de frustração, de “tarefa inacabada”: “Puxa! Acabou meu prazo semanal e não fiz isso, aquilo e mais aquilo”; “Não dá mais tempo de atingir minha meta pessoal”; “Não fechei aquela venda”; “Não terminei aquele assunto”; “Sobrou um monte de e-mails pra semana que vem”...
Relendo Gênesis 1.31–2.3, o que podemos concluir da atitude de Deus quando ele “desliga seu computador na sexta-feira”? “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom... E... descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito”. E ainda: “E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”.
Deus demonstra uma atitude de avaliação, uma sensação de realização, prazer e alegria. E de descanso. Em outra passagem, diz-se que Deus “tomou alento” (Êx 31.17), frase que dá a ideia de parar para respirar um pouquinho antes da próxima atividade. O sábado (um dia na semana) foi desenhado para isso. Nós podemos (e devemos) ter um dia na semana diferente dos outros dias, porque Deus deixou seu próprio exemplo e nós fomos feitos à sua imagem – “parte da nossa vocação é descansar”1.
Além de deixar o exemplo, Deus também ordenou ao seu povo que guardasse o sábado (Êx 20.8-11). Este mandamento está no mesmo nível de outros mandamentos, como não matar e não roubar.2 E gasta ainda mais linhas que o mandamento de não fazer imagem de escultura (estes são os dois mandamentos com mais explicações entre todos os dez mandamentos).
Em Êxodo 16.29, podemos observar que o sábado é também uma dádiva, um presente de Deus para nós: “Considerai que o Senhor vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia”.
Em Êxodo 31.12-18, vemos repetidamente que o sábado é um sinal da aliança de Deus com seu povo. Já imaginou? Um sinal da aliança, assim como o arco-íris! Mas o texto também fala que o sábado é santo e serve para nos santificar: “Certamente, guardareis os meus sábados; pois é sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para vós outros. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao Senhor... Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre”.
Como a prática de separar um dia na semana nos santifica? Pela renovação da confiança em Deus, que tudo provê para nós. Guardar o sábado nos faz olhar novamente para “o Norte”, que é Deus, o provedor por excelência. Como o maná de sexta era suficiente também no sábado, e não se estragava, assim podemos confiar que Deus vai suprir nossas necessidades neste dia separado para Ele.
Em Levítico 23.3, fala-se de “santa convocação” no sábado. Então o sábado (domingo, para alguns) é também dia de se reunir para adorar a Deus.
O sábado também serve para aguçar nossa memória. De quê o sábado nos lembra? Em primeiro lugar, do Deus Criador (Êx 20); ao povo de Israel, lembrava também o tempo de escravidão no Egito (Dt 5.15). Daí obtemos ainda outro significado: esta mesma passagem nos ensina a guardar o sábado para os servos, os “colaboradores”, para que os “patrões” lembrem que eles também tiveram seu tempo de servidão. A instituição do ano de descanso visava igualmente os pobres: “no sétimo ano, a deixarás descansar [a terra] e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer” (Êx 23.11). Assim, o sábado é também justiça.
Algo impressionante é a inclusão dos animais no mandamento do sábado: “Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho... nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu” (Dt 5.14); e ainda: “para que descanse o teu boi e o teu jumento” (Êx 23.12). Além disso, o povo deveria guardar o ano de descanso da terra: “a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás o teu campo... Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor” (Lv 25.1-4). Isso sem falar no ano do jubileu, projetado, entre outras coisas, para dar “resgate à terra” (Lv 25.24). Daí entendemos que o sábado significa também cuidado com o meio ambiente – os animais e a terra.
Por fim, o sábado é esperança – esperança escatológica. Hebreus 4.9-10 fala sobre isso: “Portanto, resta um repouso [repouso sabático] para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas.” Sérgio Lyra comenta: “Por ‘repouso’ não devemos entender inatividade ou paralisação no que diz respeito a fazer o que é bom e certo. Deus nunca cessa de fazer o bem (“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”; Jo 5.17). Desfrutar do que é bom com a exclusão de toda prática pecaminosa e seus efeitos é o descanso que Deus oferece ao seu povo, pois o cansaço, a fadiga e o desgaste físico são frutos do pecado, o qual será totalmente banido”.3
Mas o sábado envolve esforço. Vejamos a continuação da passagem de Hebreus: “Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hb 4.11). “Muito longe de pressupor inatividade, o repouso cristão exige empenho, requer esforço. Trata-se de um esforço para permanecer na dependência de Deus”.4 Digamos que o sábado implica num descanso proativo – ele não vem de graça, precisamos nos esforçar para experimentar esta sensação maravilhosa de dependência completa de Deus!
Vale a pena recordar e resumir: O que é o sábado?
1. Um reflexo da imagem de Deus em nós; exemplo a ser seguido (Deus o praticou);
2. Uma dávida de Deus para nós;
3. Um mandamento a ser obedecido;
4. Um sinal da aliança de Deus conosco;
5. Uma prática de santificação;
6. Uma renovação da dependência de Deus e confiança nele;
7. Um dia para se reunir e adorar a Deus com outros;
8. Uma lembrança contemplativa (do Deus criador, do tempo de servidão);
9. Uma providência para que haja igualdade e justiça para todos;
10. Um cuidado com o meio ambiente;
11. Uma esperança escatológica;
12. Um esforço (ou um descanso proativo).
Agora podemos voltar ao início da conversa, naquela sexta-feira à tardinha. Você desliga o computador e pensa em pelo menos três coisas que tinha planejado fazer e realmente fez – no trabalho, nos estudos ou em casa. Como Deus, você se alegra por isso e faz uma pausa. Você agradece ao Autor da vida pela dádiva do sábado, este sinal da aliança. Você também declara sua dependência de Deus, renova sua confiança nele e a esperança pelo sábado perfeito, que ainda virá.
Que 2015 nos traga um ciclo saudável de trabalho e descanso na presença do Senhor!
"Nestes dias difíceis, formemos o hábito de dar 'domingos' à nossa mente; momentos nos quais ela não faça trabalho algum, mas simplesmente esteja quieta, olhe para cima e se estenda diante do Senhor como o velo de Gideão – para ficar embebida do orvalho do Céu." (Mananciais no Deserto, vol. 1, p. 328).
Notas
1. CARRIKER, T. Trabalho, Descanso e Dinheiro; uma abordagem bíblica, p. 54.
2. Idem, p. 55.
3. Nota da Bíblia Missionária de Estudo, p. 1286-1287.
4. CARRIKER, T. Trabalho, Descanso e Dinheiro; uma abordagem bíblica, p. 56.
• D. Bastos, casada, três filhos, é diretora da agência missionária Interserve no Brasil. Ela tem pensado e resgatado a prática do descanso, pois experimenta um tempo de licença sabática.
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Deus demonstra uma atitude de avaliação, uma sensação de realização, prazer e alegria. E de descanso. Em outra passagem, diz-se que Deus “tomou alento” (Êx 31.17), frase que dá a ideia de parar para respirar um pouquinho antes da próxima atividade. O sábado (um dia na semana) foi desenhado para isso. Nós podemos (e devemos) ter um dia na semana diferente dos outros dias, porque Deus deixou seu próprio exemplo e nós fomos feitos à sua imagem – “parte da nossa vocação é descansar”1.
Além de deixar o exemplo, Deus também ordenou ao seu povo que guardasse o sábado (Êx 20.8-11). Este mandamento está no mesmo nível de outros mandamentos, como não matar e não roubar.2 E gasta ainda mais linhas que o mandamento de não fazer imagem de escultura (estes são os dois mandamentos com mais explicações entre todos os dez mandamentos).
Em Êxodo 16.29, podemos observar que o sábado é também uma dádiva, um presente de Deus para nós: “Considerai que o Senhor vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia”.
Em Êxodo 31.12-18, vemos repetidamente que o sábado é um sinal da aliança de Deus com seu povo. Já imaginou? Um sinal da aliança, assim como o arco-íris! Mas o texto também fala que o sábado é santo e serve para nos santificar: “Certamente, guardareis os meus sábados; pois é sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para vós outros. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao Senhor... Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre”.
Como a prática de separar um dia na semana nos santifica? Pela renovação da confiança em Deus, que tudo provê para nós. Guardar o sábado nos faz olhar novamente para “o Norte”, que é Deus, o provedor por excelência. Como o maná de sexta era suficiente também no sábado, e não se estragava, assim podemos confiar que Deus vai suprir nossas necessidades neste dia separado para Ele.
Em Levítico 23.3, fala-se de “santa convocação” no sábado. Então o sábado (domingo, para alguns) é também dia de se reunir para adorar a Deus.
O sábado também serve para aguçar nossa memória. De quê o sábado nos lembra? Em primeiro lugar, do Deus Criador (Êx 20); ao povo de Israel, lembrava também o tempo de escravidão no Egito (Dt 5.15). Daí obtemos ainda outro significado: esta mesma passagem nos ensina a guardar o sábado para os servos, os “colaboradores”, para que os “patrões” lembrem que eles também tiveram seu tempo de servidão. A instituição do ano de descanso visava igualmente os pobres: “no sétimo ano, a deixarás descansar [a terra] e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer” (Êx 23.11). Assim, o sábado é também justiça.
Algo impressionante é a inclusão dos animais no mandamento do sábado: “Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho... nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu” (Dt 5.14); e ainda: “para que descanse o teu boi e o teu jumento” (Êx 23.12). Além disso, o povo deveria guardar o ano de descanso da terra: “a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás o teu campo... Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor” (Lv 25.1-4). Isso sem falar no ano do jubileu, projetado, entre outras coisas, para dar “resgate à terra” (Lv 25.24). Daí entendemos que o sábado significa também cuidado com o meio ambiente – os animais e a terra.
Por fim, o sábado é esperança – esperança escatológica. Hebreus 4.9-10 fala sobre isso: “Portanto, resta um repouso [repouso sabático] para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas.” Sérgio Lyra comenta: “Por ‘repouso’ não devemos entender inatividade ou paralisação no que diz respeito a fazer o que é bom e certo. Deus nunca cessa de fazer o bem (“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”; Jo 5.17). Desfrutar do que é bom com a exclusão de toda prática pecaminosa e seus efeitos é o descanso que Deus oferece ao seu povo, pois o cansaço, a fadiga e o desgaste físico são frutos do pecado, o qual será totalmente banido”.3
Mas o sábado envolve esforço. Vejamos a continuação da passagem de Hebreus: “Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hb 4.11). “Muito longe de pressupor inatividade, o repouso cristão exige empenho, requer esforço. Trata-se de um esforço para permanecer na dependência de Deus”.4 Digamos que o sábado implica num descanso proativo – ele não vem de graça, precisamos nos esforçar para experimentar esta sensação maravilhosa de dependência completa de Deus!
Vale a pena recordar e resumir: O que é o sábado?
1. Um reflexo da imagem de Deus em nós; exemplo a ser seguido (Deus o praticou);
2. Uma dávida de Deus para nós;
3. Um mandamento a ser obedecido;
4. Um sinal da aliança de Deus conosco;
5. Uma prática de santificação;
6. Uma renovação da dependência de Deus e confiança nele;
7. Um dia para se reunir e adorar a Deus com outros;
8. Uma lembrança contemplativa (do Deus criador, do tempo de servidão);
9. Uma providência para que haja igualdade e justiça para todos;
10. Um cuidado com o meio ambiente;
11. Uma esperança escatológica;
12. Um esforço (ou um descanso proativo).
Agora podemos voltar ao início da conversa, naquela sexta-feira à tardinha. Você desliga o computador e pensa em pelo menos três coisas que tinha planejado fazer e realmente fez – no trabalho, nos estudos ou em casa. Como Deus, você se alegra por isso e faz uma pausa. Você agradece ao Autor da vida pela dádiva do sábado, este sinal da aliança. Você também declara sua dependência de Deus, renova sua confiança nele e a esperança pelo sábado perfeito, que ainda virá.
Que 2015 nos traga um ciclo saudável de trabalho e descanso na presença do Senhor!
"Nestes dias difíceis, formemos o hábito de dar 'domingos' à nossa mente; momentos nos quais ela não faça trabalho algum, mas simplesmente esteja quieta, olhe para cima e se estenda diante do Senhor como o velo de Gideão – para ficar embebida do orvalho do Céu." (Mananciais no Deserto, vol. 1, p. 328).
Notas
1. CARRIKER, T. Trabalho, Descanso e Dinheiro; uma abordagem bíblica, p. 54.
2. Idem, p. 55.
3. Nota da Bíblia Missionária de Estudo, p. 1286-1287.
4. CARRIKER, T. Trabalho, Descanso e Dinheiro; uma abordagem bíblica, p. 56.
• D. Bastos, casada, três filhos, é diretora da agência missionária Interserve no Brasil. Ela tem pensado e resgatado a prática do descanso, pois experimenta um tempo de licença sabática.
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