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- 05 de setembro de 2017
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Dor e graça – Duas partes da mesma história
Por Maria Rita
Yousef*, um refugiado iraquiano, em duas ocasiões distintas me contou sua história. O sofrimento que ele viveu me entristece, mas o suprimento de Deus em sua vida nos dias atuais me impressiona. Conto para você as duas partes de seu relato.
Em um minuto tudo se foi
Dia 6 de agosto de 2014, voltei para casa às 7 da noite. Estava muito cansado por causa do dia de trabalho, mas liguei para a polícia iraquiana e eles me tranquilizaram. Disseram que eu podia dormir tranquilo. Mas às 10 da noite, entrou o estado islâmico Sunita em minha casa. Dez homens com metralhadora bateram na minha porta e entraram. Me bateram muito, no rosto, na boca. Minha filha pequena correu para mim. Ela tinha 4 anos. Um dos islâmicos a chutou para a parede, colocou uma arma na minha cabeça e me fez três perguntas:
“Você passa para o Islã, e deixa de ser cristão?”
“Você nos paga 500 dólares por mês para viver aqui?”
“Você sai da cidade?”
Depois, me disseram: “Se você não aceita nenhuma destas, vamos cortar suas cabeças”.
Decidi sair. No meio disso, um dos dez homens queria pegar minha filha. Ele disse: “Ela é muito bonita, quero ela para mim”. Depois, graças a Deus, um dos homens, que eu conhecia e já o tinha ajudado, disse: “Não, deixe eles saírem. Deixe a menina com eles”. Ele deixou e me disse: “Dá a chave da casa, do carro, de tudo”. Eu dei e saí com minha família de minha casa. Deixamos tudo. Pegamos apenas uma bolsa pequena. Era meia noite. Corremos por quatro horas para outra cidade. Fomos para uma igreja nesta outra cidade, mas lá não pudemos ficar porque não havia espaço. Tinha mais de mil pessoas lá se abrigando. Deixei a igreja e fomos para a rua. Dormimos no parque por três semanas. Estava cinquenta graus. Não tínhamos comida. Foi horrível! Então decidi pegar um dinheiro emprestado com um amigo. Comprei passagens de avião e fui para a Jordânia com minha família. No Iraque, eu tinha uma loja de tintas, era chefe, tinha funcionários. Trabalhei por 15 anos para ter o que tinha. Em um minuto tudo se foi.
Ele pagou tudo para nós
Cheguei à Jordânia e não tinha onde ficar. Dormimos na rua – eu, minha esposa e duas filhas (na época com 7 e 4 anos cada). Depois de alguns dias, uma pessoa me falou de uma igreja que estava ajudando a refugiados. Fomos para lá e eles nos deram abrigo. Depois disso, conheci um brasileiro que prometeu me ajudar. Ele me colocou em contato com advogados e conseguiu ajuda para nós. Através de outros cristãos, conseguiu que tirássemos visto de refugiados e fôssemos aceitos no Brasil. Não tínhamos como vir, mas este brasileiro pagou nossa passagem. Ficou tudo em 10 mil dólares, quatro passagens, e ele pagou tudo para nós.
Cheguei aqui e uma igreja já nos esperava para nos ajudar. Arrumaram um apartamento para a gente morar. Entrei no apartamento e estava todo mobiliado. Pronto para nós. Era só entrar. Depois, uma pessoa da igreja me contratou para trabalhar com ele e assim poder ter dinheiro para manter minha família.
Um ano depois, conheci outros brasileiros, em uma conferência missionária, e através deles e de seus amigos, minhas filhas ganharam bolsa integral de estudo em uma das melhores escolas da cidade onde moro no Brasil. Também ganharam transporte para ir e voltar das aulas diariamente, material escolar, uniforme e tudo mais que precisavam para estudar.
Outro cristão também contratou minha esposa para trabalhar na empresa dele, para ajudar nossa família a se manter melhor, graças a Deus! Mas há algumas semanas, perdi meu emprego. A loja em que estava trabalhando fechou. Resolvi fazer quibes para vender. Preciso trabalhar e não pensar no passado.
Nunca conto minha história deste jeito para ninguém. Só falei para o pastor e para você. Agora, quero esquecer. Preciso de um trabalho. Antes, tinha uma loja e funcionários. Hoje, vendo quibes, pequenos, em pequenas bandejas.
O socorro sempre vem
Yousef ficou com lágrimas nos olhos e muita tristeza ao me contar a primeira parte de sua história. Mas ao ouvir a segunda parte, meu coração se animou. Impressiona-me o suprimento de Deus e o que tem acontecido com esta família recentemente. Com certeza, Yousef e sua família ainda têm dias difíceis. A saudade aperta, o dinheiro é curto, mas, quando precisam, o socorro sempre vem.
Houve muita dor no passado recente, mas, felizmente, hoje, a alegria tem sido mais frequente. Cristãos que muitas vezes nem os conhecem, os ajudam. E ao compartilhar uns com os outros, a vida vai ficando mais bela, a de Yousef e a de todos nós, que temos o privilégio de apoiá-lo em sua nova terra.
*Yousef – nome fictício, para proteção da família.
• Maria Rita, jornalista.
Yousef*, um refugiado iraquiano, em duas ocasiões distintas me contou sua história. O sofrimento que ele viveu me entristece, mas o suprimento de Deus em sua vida nos dias atuais me impressiona. Conto para você as duas partes de seu relato.
Em um minuto tudo se foi
Dia 6 de agosto de 2014, voltei para casa às 7 da noite. Estava muito cansado por causa do dia de trabalho, mas liguei para a polícia iraquiana e eles me tranquilizaram. Disseram que eu podia dormir tranquilo. Mas às 10 da noite, entrou o estado islâmico Sunita em minha casa. Dez homens com metralhadora bateram na minha porta e entraram. Me bateram muito, no rosto, na boca. Minha filha pequena correu para mim. Ela tinha 4 anos. Um dos islâmicos a chutou para a parede, colocou uma arma na minha cabeça e me fez três perguntas:
“Você passa para o Islã, e deixa de ser cristão?”
“Você nos paga 500 dólares por mês para viver aqui?”
“Você sai da cidade?”
Depois, me disseram: “Se você não aceita nenhuma destas, vamos cortar suas cabeças”.
Decidi sair. No meio disso, um dos dez homens queria pegar minha filha. Ele disse: “Ela é muito bonita, quero ela para mim”. Depois, graças a Deus, um dos homens, que eu conhecia e já o tinha ajudado, disse: “Não, deixe eles saírem. Deixe a menina com eles”. Ele deixou e me disse: “Dá a chave da casa, do carro, de tudo”. Eu dei e saí com minha família de minha casa. Deixamos tudo. Pegamos apenas uma bolsa pequena. Era meia noite. Corremos por quatro horas para outra cidade. Fomos para uma igreja nesta outra cidade, mas lá não pudemos ficar porque não havia espaço. Tinha mais de mil pessoas lá se abrigando. Deixei a igreja e fomos para a rua. Dormimos no parque por três semanas. Estava cinquenta graus. Não tínhamos comida. Foi horrível! Então decidi pegar um dinheiro emprestado com um amigo. Comprei passagens de avião e fui para a Jordânia com minha família. No Iraque, eu tinha uma loja de tintas, era chefe, tinha funcionários. Trabalhei por 15 anos para ter o que tinha. Em um minuto tudo se foi.
Ele pagou tudo para nós
Cheguei à Jordânia e não tinha onde ficar. Dormimos na rua – eu, minha esposa e duas filhas (na época com 7 e 4 anos cada). Depois de alguns dias, uma pessoa me falou de uma igreja que estava ajudando a refugiados. Fomos para lá e eles nos deram abrigo. Depois disso, conheci um brasileiro que prometeu me ajudar. Ele me colocou em contato com advogados e conseguiu ajuda para nós. Através de outros cristãos, conseguiu que tirássemos visto de refugiados e fôssemos aceitos no Brasil. Não tínhamos como vir, mas este brasileiro pagou nossa passagem. Ficou tudo em 10 mil dólares, quatro passagens, e ele pagou tudo para nós.
Cheguei aqui e uma igreja já nos esperava para nos ajudar. Arrumaram um apartamento para a gente morar. Entrei no apartamento e estava todo mobiliado. Pronto para nós. Era só entrar. Depois, uma pessoa da igreja me contratou para trabalhar com ele e assim poder ter dinheiro para manter minha família.
Um ano depois, conheci outros brasileiros, em uma conferência missionária, e através deles e de seus amigos, minhas filhas ganharam bolsa integral de estudo em uma das melhores escolas da cidade onde moro no Brasil. Também ganharam transporte para ir e voltar das aulas diariamente, material escolar, uniforme e tudo mais que precisavam para estudar.
Outro cristão também contratou minha esposa para trabalhar na empresa dele, para ajudar nossa família a se manter melhor, graças a Deus! Mas há algumas semanas, perdi meu emprego. A loja em que estava trabalhando fechou. Resolvi fazer quibes para vender. Preciso trabalhar e não pensar no passado.
Nunca conto minha história deste jeito para ninguém. Só falei para o pastor e para você. Agora, quero esquecer. Preciso de um trabalho. Antes, tinha uma loja e funcionários. Hoje, vendo quibes, pequenos, em pequenas bandejas.
O socorro sempre vem
Yousef ficou com lágrimas nos olhos e muita tristeza ao me contar a primeira parte de sua história. Mas ao ouvir a segunda parte, meu coração se animou. Impressiona-me o suprimento de Deus e o que tem acontecido com esta família recentemente. Com certeza, Yousef e sua família ainda têm dias difíceis. A saudade aperta, o dinheiro é curto, mas, quando precisam, o socorro sempre vem.
Houve muita dor no passado recente, mas, felizmente, hoje, a alegria tem sido mais frequente. Cristãos que muitas vezes nem os conhecem, os ajudam. E ao compartilhar uns com os outros, a vida vai ficando mais bela, a de Yousef e a de todos nós, que temos o privilégio de apoiá-lo em sua nova terra.
*Yousef – nome fictício, para proteção da família.
• Maria Rita, jornalista.
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Ricardo Barbosa