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- 09 de abril de 2020
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Do esoterismo para Cristo: meu encontro com Jesus
Por Roberto Diamanso
O menino que nasceu no Sítio Paus Viola em Taquarana, Alagoas, – e que trazia na memória histórias de Trancoso e cantigas de um realismo fantástico do povoado sem luz elétrica – está agora em São Paulo. Sandálias e chapéu de couro, uma cinta de lhama pendendo das arriatas e um lenço no pescoço feito gaúcho. Recém-casado e a cabeça cheia de sonhos.
Levava uma caixa e uma garrafa térmicas. Na garrafa, 60 copos de suco de fruta que ele comprava toda manhã na feira. Na caixa, 22 pães caseiros recheados, feitos pela manhã para à tarde vender na galeria da rua 24 de Maio, 116, um reduto dos crentes à época.
O menino sou eu.
Um dia, o jovem Ariovaldo Ramos observou entre as coisas que eu levava nas mãos um LP, “Nas barrancas do Rio Gavião”, que acabara de comprar na loja “Baratos a Fins”, e perguntou admirado: “Você escuta Elomar?”. E ali começou uma amizade que perdura até hoje, não somente com Ariovaldo e seu amigo inseparável Wilson Lélis, como também com Ailton Lopes e Marli Marcandali.
Na livraria do Jovens da Verdade, à tardezinha, Vavá Rodrigues aparecia com frequência, com o seu violão, sempre disposto a mostrar e falar das canções do primeiro disco solo que estava gravando nos estúdios da COMEV na mesma galeria.
Estes amigos foram muito importantes para a minha conversão e são, até hoje, na minha caminhada e ministério. Quando me converti, eles ouviram com muita paciência as minhas histórias da espiritualidade tão estranha que eu seguia. Eu fazia ioga, reunia-me com alquimistas e voltava destas experiencias cheio de ideias para trocar. Eles pregavam para mim, e eu pregava para eles. É o que parecia. Falava-lhes das viagens aos espaçoportos para fazer contatos. Embora eu mesmo nunca tenha visto um disco voador, as viagens eram muito agradáveis na companhia de amigos “bicho-grilo”.
Quando voltava contava das experiências a estes outros amigos também “bicho-grilo”: a roupa era a mesma, a música era parecida, mas a fé era muito diferente. Eu falava a eles do Cristo Cósmico, do Jesus da era de Peixes, que na era de Aquário seria Maitreya, tudo em todos. Era muita loucura. Era muita viagem.
Lembro-me de uma vez em que contei ao Ari sobre uma palestra que ouvi do Luiz Gonzaga Scortecci. Estava muito impressionado e assustado. Persépolis, a rainha dos infernos, passaria tão perto da terra que o choque causaria uma grande catástrofe. Os sanpakus todos seriam sugados do planeta, mas todos os demais sofreriam os efeitos de grandes cataclismas, o mar rolaria sobre a serra, um verdadeiro “sertão vai virar mar”. Muitas eram as organizações que estavam guardando comida em lugares secretos, muitos os que estavam fazendo contatos e se preparando para aquele grande e terrível acontecimento. As naves mães nos auxiliariam neste caos. Imagine as grandes cidades como São Paulo, sem água e sem energia elétrica, sem alimento, com todos os meios de comunicação e de transportes prejudicados. Era necessário nos preparar, o sensitivo, o médium, o padre, o pastor. Tínhamos que estar todos unidos, dizia eu, seria o caos instaurado, todos corríamos perigo. O Ari ouvia tudo pacientemente e dizia: “Se você estiver com Jesus, não há com que se preocupar, não há o que temer, você estará seguro”.
Sou muito grato a todos os amigos que pregaram o Evangelho para alguém como eu. A conversão parecia impossível, foram anos de investimento.
Naquela época, havia uma comunidade cristã chamada “Vinho Novo” cujo pastor presbiteriano, Décio Gomes, era alguém muito caro a mim, até hoje. A comunidade era um lugar para pessoas que tinham dificuldades de ir à igreja, pessoas como eu. Mas, apesar de ir à comunidade, eu continuava a buscar em outros lugares as respostas para as minhas muitas perguntas, que apareciam nas canções que compunha e cantava no Circuito Cultural, ambiente que me levava a viver um estilo de vida muito diferente daqueles cristãos, por isso eu permanecia e me apegava à velha espiritualidade sem deixá-los de fora. Era amigo dos crentes, dos esotéricos, dos alquimistas. Eu precisava, na verdade, nascer de novo.
Certo dia, um ensaio na Vila Madalena demorou tanto que quando acabou era tarde para eu voltar para casa, em Guarulhos. Então, dormi na casa da flautista da banda, dormi com ela. Era o fim daquilo que eu vivia dizendo não querer mais: o casamento monogâmico. Eu não queria só os crentes como amigos, eu não queria só Jesus, eu não queria só uma mulher, eu não queria nenhum filho mais, além do que já tinha. O que eu precisava era nascer de novo.
Mas Jesus é tão lindo, que a minha esposa, América, engravidou mesmo eu tendo feito vasectomia. Ela me disse por telefone que faríamos um plano para criar os filhos, o Rudá – que hoje chamamos de Judá – e o Ariel, que nasceria depois, embora eu não quisesse mais o casamento fechado, como também não queria uma religião fechada. Eu precisava era nascer de novo.
Neste ínterim, a América se converteu radicalmente, jogou todos os seus quadros fora, e nossa casa, que era customizada com gnomos, duendes e cartas de tarô, foi pintada de branco; até uma escultura que fiz numa criação coletiva com os meninos de rua foi queimada.
Depois disso, nossa casa ficara cheia de crentes. Numa tarde, nossa madrinha e amiga, Marli Marcandali, levou uns amigos, um deles me contou uma história, não sei se é verdade, mas mudou minha vida. É que o escritor C. S. Lewis fez um gráfico na sua sala por meio do qual chegou à conclusão que ser cristão é a decisão mais sábia e acertada de um ser humano. Ele disse que se eu recebesse Jesus como meu Salvador, amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a mim mesmo, em nenhuma religião do mundo seria condenado. Se era verdade que só Jesus salva e eu não o recebesse como meu Salvador, estaria condenado.
Fred é o nome deste rapaz. Nunca mais o vi. Fiquei com muita raiva por suas ameaças. Mas a história que ele me contou e tudo o que me disse sobre o céu e o inferno, me deixaram mais impressionado do que a palestra que eu contei para o Ari. Perdi a paz, mas ganhei a salvação.
Agora é só Jesus, o Príncipe da Paz, que deu a paz não como o mundo a dá, mas aquela que excede todo o entendimento. A ele sejam dadas pois a glória, a honra e o louvor para sempre.
• Roberto Diamanso, compositor, cantador, poeta e menestrel alagoano, é casado com América e tem 13 filhos: três naturais e dez do coração.
Leia também o testemunho de América Diamanso, esposa de Roberto.
>> Conheça o livro Ser Evangélico Sem Deixar de Ser Brasileiro, de Gerson Borges
Leia mais
• Roberto Diamanso, compositor, cantador, poeta e menestrel alagoano, é casado com América e tem 13 filhos: três naturais e dez do coração.
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