Opinião
- 06 de outubro de 2009
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Disciplina ou vingança?
João Heliofar de Jesus Villar
Recentemente na cidade de Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, o diretor e os professores de uma escola de ensino médio resolveram promover um mutirão para pintar o prédio. Todos participaram da iniciativa e graças a esse esforço, a obra ficou pronta num final de semana.
Porém, no dia seguinte a escola amanheceu pichada com o apelido de um dos alunos. Foi simples identificá-lo, já que ele era conhecido pelo apelido estampado na parede da escola, e o próprio, quando questionado, assumiu a responsabilidade pelo estrago.
Não é difícil imaginar o grau de revolta dos professores. A professora de inglês, Maria Denise Bandeira, resolveu aplicar uma disciplina ao pichador. Ordenou ao garoto que não só apagasse a mancha deixada na parede, mas que também fizesse retoques na pintura em outras oito salas. Enquanto pintava e promovia os retoques, o menino era filmado e ia sendo execrado pela professora, que o chamava de “bobo da corte” e ameaçava expor as cenas no Youtube. O vídeo na verdade acabou sendo visto em todo o Brasil e a cena gerou um debate sobre os limites da disciplina nas escolas.
Nas manifestações dos leitores dos jornais houve maciço apoio à atitude da professora. Para se ter uma ideia do percentual de apoio que ela conquistou, em 124 manifestações de leitores do jornal gaúcho Zero Hora, apenas uma fez reservas à disciplina aplicada ao pichador.
Os pais do aluno, porém, se revoltaram. O filho se sentiu humilhado e não queria voltar à escola de jeito nenhum.
Quem tem razão nessa história? Parece claro que há um clamor público por limites. Diante do afrouxamento dos valores na pós-modernidade, uma era norteada pela incerteza e que glorifica a dúvida, fica difícil sustentar valores, estabelecer limites, disciplinar. Mas a “louvação” da professora de Viamão revela que o povo clama por limites.
Então qual o limite da disciplina? A questão não é acadêmica e nem se restringe à educação escolar, já que afeta não só a família, mas se estende inclusive à igreja. E a resposta está no propósito da disciplina. Seu objetivo não é apenas punir, e sim restaurar. Se Deus disciplina a todos a quem ama, o princípio que deve orientar a autoridade que exerce o poder disciplinar é a restauração do aluno ou discípulo. Na revolta causada pela falta cometida, porém, regularmente a restauração é totalmente esquecida e a punição assume o papel de protagonista principal do drama.
No caso de Viamão, a professora Maria Denise agiu bem em decidir disciplinar a falta do aluno. Contudo não se pode dizer o mesmo em relação à dose empregada, na medida em que a punição assumiu ares de vingança. E a vingança é a perversão da disciplina. Ajusta-se perfeitamente a este caso o dito popular de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose.
• João Heliofar de Jesus Villar, 45 anos, é procurador regional da República da 4ª Região (no Rio Grande do Sul) e cristão evangélico.
Recentemente na cidade de Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, o diretor e os professores de uma escola de ensino médio resolveram promover um mutirão para pintar o prédio. Todos participaram da iniciativa e graças a esse esforço, a obra ficou pronta num final de semana.
Porém, no dia seguinte a escola amanheceu pichada com o apelido de um dos alunos. Foi simples identificá-lo, já que ele era conhecido pelo apelido estampado na parede da escola, e o próprio, quando questionado, assumiu a responsabilidade pelo estrago.
Não é difícil imaginar o grau de revolta dos professores. A professora de inglês, Maria Denise Bandeira, resolveu aplicar uma disciplina ao pichador. Ordenou ao garoto que não só apagasse a mancha deixada na parede, mas que também fizesse retoques na pintura em outras oito salas. Enquanto pintava e promovia os retoques, o menino era filmado e ia sendo execrado pela professora, que o chamava de “bobo da corte” e ameaçava expor as cenas no Youtube. O vídeo na verdade acabou sendo visto em todo o Brasil e a cena gerou um debate sobre os limites da disciplina nas escolas.
Nas manifestações dos leitores dos jornais houve maciço apoio à atitude da professora. Para se ter uma ideia do percentual de apoio que ela conquistou, em 124 manifestações de leitores do jornal gaúcho Zero Hora, apenas uma fez reservas à disciplina aplicada ao pichador.
Os pais do aluno, porém, se revoltaram. O filho se sentiu humilhado e não queria voltar à escola de jeito nenhum.
Quem tem razão nessa história? Parece claro que há um clamor público por limites. Diante do afrouxamento dos valores na pós-modernidade, uma era norteada pela incerteza e que glorifica a dúvida, fica difícil sustentar valores, estabelecer limites, disciplinar. Mas a “louvação” da professora de Viamão revela que o povo clama por limites.
Então qual o limite da disciplina? A questão não é acadêmica e nem se restringe à educação escolar, já que afeta não só a família, mas se estende inclusive à igreja. E a resposta está no propósito da disciplina. Seu objetivo não é apenas punir, e sim restaurar. Se Deus disciplina a todos a quem ama, o princípio que deve orientar a autoridade que exerce o poder disciplinar é a restauração do aluno ou discípulo. Na revolta causada pela falta cometida, porém, regularmente a restauração é totalmente esquecida e a punição assume o papel de protagonista principal do drama.
No caso de Viamão, a professora Maria Denise agiu bem em decidir disciplinar a falta do aluno. Contudo não se pode dizer o mesmo em relação à dose empregada, na medida em que a punição assumiu ares de vingança. E a vingança é a perversão da disciplina. Ajusta-se perfeitamente a este caso o dito popular de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose.
• João Heliofar de Jesus Villar, 45 anos, é procurador regional da República da 4ª Região (no Rio Grande do Sul) e cristão evangélico.
45 anos, é procurador regional da República da 4ª Região (no Rio Grande do Sul) e cristão evangélico.
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