Opinião
- 01 de agosto de 2023
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Desconexão humana
Como não viver apenas metade de si tanto nos relacionamentos como nas decisões
Por Esther Carrenho
Posso garantir que uma das coisas que mais podem prejudicar o viver de uma pessoa e o desfrutar da plenitude são as desconexões que podem acontecer no ser humano. As desconexões humanas são áreas de estudo da psicologia e muito já se tem descoberto sobre elas. A principal delas diz respeito ao mecanismo de defesa que em muitas situações, se faz necessário para sobreviver. Em geral podem ocorrer na infância quando ainda se está numa fase de desproteção e vulnerabilidade. E, claro nesse sentido a desconexão é bem-vinda e só se torna prejudicial quando a pessoa não se dá conta dos bloqueios e insensibilidades, como consequência da autoproteção, que podem continuar na vida adulta, sem serem conscientizados, expressados e transformados, impedindo um viver pleno e interligado entre razão e emoção.
Mas além desta, há também as desconexões decorrentes da natureza humana caída, que podem ocorrer em qualquer fase da vida.
Como todo estudioso e leitor das Escrituras Sagradas sabe, o ser humano foi criado para viver num jardim, com equilíbrio ecológico e tudo que fazia bem. Só tinha um lugar, determinado por Deus, que não estava liberado ao humano. E foi justamente lá que a mulher e o homem fixaram o olhar. E desobedeceram. Claramente podemos ver as cisões decorrentes da desobediência e a consequente dificuldade em desfrutar da vida e das interações com Deus e com os seres humanos.
A primeira desconexão foi com Deus. O homem se esconde quando percebe a presença de Deus no jardim. Como se fosse possível esconder-se de Deus em algum lugar deste mundo. Um encontro que até então era tranquilo e cheio de paz, depois da transgressão, tornou-se ameaçador. A conexão está quebrada. Deus não desiste e pergunta: “Onde você está?”. O homem tem a oportunidade de avaliar como e onde está. E o faz pela metade. Diz que ficou com medo porque estava nu se escondeu. A nudez não traz medo, traz vergonha. Aí já podemos perceber a dificuldade de perceber a própria verdade e de expressá-la integralmente. O homem estava nu e com vergonha; com medo porque tinha desobedecido. E quando questionado por Deus expressa com meias verdades, indicando também uma desconexão de si mesmo. E meias verdades viram facilmente uma mentira.
Deus dá uma nova oportunidade e pergunta: “Como é que você sabe que está nu?”. Ao invés de Adão assumir e confessar sua desobediente participação, ele joga a responsabilidade para sua mulher, como se só ela fosse a culpada pela transgressão. Acontece então um dos sinais da desconexão com o próximo. Até aqui fica claro a desconexão do homem com Deus, consigo mesmo e com o próximo.
A consequência das desconexões é que a pessoa pode viver apenas metade de si mesmo no seu dia a dia, tanto nos relacionamentos como nas decisões. E facilmente se torna uma pessoa altamente racional ou uma pessoa totalmente emocional. O ser humano fica incapacitado de integrar sentimentos a razão e o racional ao emocional. E pessoas que são apenas racionais podem facilmente se tornar frias e calculistas, tomando decisões duras e destrutivas. E pessoas emocionais podem se tornar inconsequentes trazendo muitos prejuízos para si mesmo e para outros da sua convivência.
A boa notícia é que tudo que perdemos no Éden podemos recuperar no Calvário. As cisões do Éden podem ser ligadas novamente através do sangue do Cordeiro derramado na cruz.
Cristo Jesus nos convida a olharmos para dentro. Quando foi questionado sobre a razão dos discípulos não cuidarem da higiene com as mãos, Jesus deixa bem claro que o que vem de dentro é que realmente pode prejudicar. E faz uma lista de maldades que podem estar dentro– incluindo dentro de mim e de você. Então o tomar consciência e tratar das misérias internas é para todos.1
Através de Cristo Jesus é possível apresentar-se com coragem inteiro diante do Pai – mesmo que seja com vergonha e medo – e assumir toda a responsabilidade das falhas cometidas sem acusar outros. É dolorido, porém libertador!
Nota
1. Marcos 7. 20 a 23
Nota
1. Marcos 7. 20 a 23
- Esther Carrenho, teóloga, psicóloga e autora dos livros: Raiva: Seu bem, Seu mal e Caminhos de Vida.
REVISTA ULTIMATO | MAMOM VERSUS DEUS
Ao todo, Jesus contou 38 parábolas. Mais de um terço delas trata de assuntos ligados a posses e riquezas. Há cerca de quinhentos versículos sobre oração na Bíblia. Sobre dinheiro e posses são mais de 2.300.
As Escrituras se ocupam desse assunto porque ele é crucial para a fé. Trata-se de onde colocamos nossos afetos e a quem seguimos. Jesus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6.21).
Saiba mais:
» O Que Você Quer?, de Jen Pollock Michel
» Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas, de Ricardo Barbosa de Sousa
» Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, de Elben Magalhães Lenz César
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