Descanso: uma dádiva a ser encontrada

Por Silêda Silva Steuernagel

Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo, e aprendam de mim, pois eu sou manso e humilde de coração; e vocês encontrarão descanso para as suas almas (Mateus 11.25-30).

O evangelista Lucas relata, no capítulo 10, o envio de setenta discípulos aos lugares para onde Jesus estava prestes a ir. Quando eles retornam empolgados com os milagres realizados, Jesus replica: “Alegrem-se, não porque os demônios se submetem a vocês, mas porque os seus nomes estão escritos nos céus” (Lc 10.20). Ele então exulta no Espírito Santo e diz: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque tu escondeste estas coisas dos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos [...]”.

O foco dos discípulos está errado! O que importa não são as suas “façanhas”, mas o que Deus fez por eles. A autoridade que pensam ter foi-lhes dada, assim como todas as coisas que Jesus tem foram-lhe entregues pelo Pai. Os milagres “deles” são, na verdade, manifestações do agir de Deus, para que eles o conheçam e vejam quem ele é. Testemunhar a revelação divina não é mérito nem conquista de sábios e entendidos, profetas e reis, mas um mistério graciosamente revelado por Deus. Foi do agrado do Senhor revelá-lo aos pequeninos, os quais, como crianças, veem e maravilham-se diante do inexplicável. (Os discípulos, orgulhosos de seus feitos, nem percebem que foram contados entre eles).



Mateus não narra o envio dos setenta escolhidos, mas conta a mesma explosão de alegria de Jesus, seguida do convite ao descanso (Mt 11.25-30). Lendo o relato de Lucas, imagino se Jesus teria feito tal convite, ao ver esses trabalhadores voltarem extenuados depois da colheita (Lc 10.1-3).

Ao oferecer-lhes descanso, Jesus aponta para algo mais profundo: o cansaço da alma. É a ilusão de que podemos andar e carregar tudo sozinhos e sem parar que gera sobrecarga. Partilhar o fardo expõe os nossos limites. Depender de outros humilha o nosso ego sedento de realização e glória. O paradoxo é que, como alívio para o peso, Jesus oferece um jugo! O alívio para o cansaço, diz ele, vem por submeter-nos à carga atrelada ao único que nos conhece e, sendo manso e humilde de coração, sabe como controlar as nossas compulsões e carregar o nosso fardo, tornando-o leve e suave.

O descanso é uma dádiva de Deus. E só andando com ele encontraremos o verdadeiro descanso.

• Silêda Silva Steuernagel, escritora, tradutora, palestrante e um coração que ouve.

Texto originalmente publicado no devocionário Refeições Diárias – Celebrando a Reconciliação, Ultimato.

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