Opinião
- 29 de abril de 2010
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Cristão relutante
Jorge Camargo
Nada como um bom título de CD, quadro ou livro. É como cereja no bolo.
Foi a impressão que tive quando li a obra de Donald Spoto, cujo título não poderia ser mais apropriado: “Francisco de Assis, o Santo Relutante”. Um santo homem que dispensou o título, talvez por não achar-se digno dele. Ou talvez por sua indiferença às instituições, seu desapego radical a tudo o que se cristaliza e acaba engessado.
Mas aí pensei em meu próprio bolo, minha trajetória de vida. E o subtítulo da biografia de São Francisco me fez pensar em um subtítulo para a minha (uma cereja nem um pouco saborosa). Então cheguei a esse aí em cima, “cristão relutante”.
Antes que me atirem pedras (o mundo virtual é um lugar perfeito para esse tipo de comportamento), meu problema não é com Deus. Lembrei de uma canção de Keith Green (1953-1982), músico e compositor norte-americano que chacoalhou o ambiente da música cristã de lá no final da década de 1970 e início da de 1980, intitulada “How can they live without Jesus?” (Como eles podem viver sem Jesus?):
Cause phonies have come
And wrongs been done
Even killing in Jesus´ name
And if you´ve been burned
It´s what I´ve learned
The Lord´s not the one to blame
Em tradução bem livre, o que ele diz é o seguinte:
Porque impostores têm vindo
Erros têm sido cometidos
Até mesmo matar-se em nome de Jesus
E se você tem se “decepcionado”
O que eu tenho aprendido
É que não devemos colocar a culpa em Deus
Minha relutância não é em relação à pessoa e à mensagem de Jesus. Amor ao próximo, misericórdia, generosidade, compaixão, sensibilidade, bom senso... não há coração de pedra que resista a esses pensamentos, sentimentos e atos transbordando numa pessoa.
Minha relutância é ao que tem sido feito de tudo isso. Empreendimentos milionários, organizações gigantescas, instituições burocráticas, templos suntuosos, e na maioria das vezes inúteis, parecem não combinar, não fazer sentido à luz da mensagem-pessoa.
Diante deste cenário esquizofrênico, talvez nos reste o silêncio. E o sábio conselho do relutante Francisco: “Prega o evangelho, se for preciso, use palavras”.
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br
Siga-nos no Twitter!
Nada como um bom título de CD, quadro ou livro. É como cereja no bolo.
Foi a impressão que tive quando li a obra de Donald Spoto, cujo título não poderia ser mais apropriado: “Francisco de Assis, o Santo Relutante”. Um santo homem que dispensou o título, talvez por não achar-se digno dele. Ou talvez por sua indiferença às instituições, seu desapego radical a tudo o que se cristaliza e acaba engessado.
Mas aí pensei em meu próprio bolo, minha trajetória de vida. E o subtítulo da biografia de São Francisco me fez pensar em um subtítulo para a minha (uma cereja nem um pouco saborosa). Então cheguei a esse aí em cima, “cristão relutante”.
Antes que me atirem pedras (o mundo virtual é um lugar perfeito para esse tipo de comportamento), meu problema não é com Deus. Lembrei de uma canção de Keith Green (1953-1982), músico e compositor norte-americano que chacoalhou o ambiente da música cristã de lá no final da década de 1970 e início da de 1980, intitulada “How can they live without Jesus?” (Como eles podem viver sem Jesus?):
Cause phonies have come
And wrongs been done
Even killing in Jesus´ name
And if you´ve been burned
It´s what I´ve learned
The Lord´s not the one to blame
Em tradução bem livre, o que ele diz é o seguinte:
Porque impostores têm vindo
Erros têm sido cometidos
Até mesmo matar-se em nome de Jesus
E se você tem se “decepcionado”
O que eu tenho aprendido
É que não devemos colocar a culpa em Deus
Minha relutância não é em relação à pessoa e à mensagem de Jesus. Amor ao próximo, misericórdia, generosidade, compaixão, sensibilidade, bom senso... não há coração de pedra que resista a esses pensamentos, sentimentos e atos transbordando numa pessoa.
Minha relutância é ao que tem sido feito de tudo isso. Empreendimentos milionários, organizações gigantescas, instituições burocráticas, templos suntuosos, e na maioria das vezes inúteis, parecem não combinar, não fazer sentido à luz da mensagem-pessoa.
Diante deste cenário esquizofrênico, talvez nos reste o silêncio. E o sábio conselho do relutante Francisco: “Prega o evangelho, se for preciso, use palavras”.
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br
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