Opinião
- 04 de julho de 2022
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Creio na remissão dos pecados
Por Luiz Fernando dos Santos
“Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus” (Efésios 1.7).
A remissão dos pecados é o décimo primeiro artigo do credo apostólico. A igreja contemporânea precisa com urgência reafirmar e confessar esse artigo de fé. Já há algum tempo que o pecado não é mais tratado com a devida seriedade. O relativismo, a psicologização da fé e o surgimento de teologias espúrias, como a prosperidade, levaram a igreja a uma compreensão não bíblica do que é o pecado e consequentemente, da necessidade de conversão e mesmo do perdão dos pecados.
Há não muito tempo, quando se fazia o exame para a pública profissão de fé e batismo, em algum momento, era praxe perguntar ao catecúmeno se ele se reconhecia um pecador, incapaz de salvar-se, sob a ira de Deus e em estado de desamparo, sem Cristo. Era perguntado se o candidato acreditava na necessidade de Cristo e sua obra realizada na cruz para a sua salvação e se confiava piamente nisso. Hoje em dia a conversa gira em torno de moralidade, de definições superficiais e vazias sobre a pessoa de Cristo, os sacramentos etc. Evidentemente que esse conhecimento, digamos, catequético é importante, mas nunca deveria substituir o testemunho de uma real experiência de conversão e perdão dos pecados. Quando esse artigo de fé é tratado com somenos importância, a adesão à religião suplanta a conversão do coração e os simpatizantes ocupam o lugar que caberia aos discípulos. Sem a crença na remissão dos pecados o mistério da cruz fica esvaziado de sentido e mesmo o sacrifício pessoal de Cristo, sua paixão e sua morte perdem qualquer significado real para ‘cristão’.
Esse esvaziamento e essa perda de significado abrem as portas para toda sorte de heresias, dentre elas, o pelagianismo. Essa doutrina ensinada pelo sacerdote romano Pelágio e tão firmemente combatida por Agostinho, grosso modo, defende a ideia de que o pecado original não foi transmitido à raça humana. Que o pecado é uma simples questão de escolhas e que o homem pode livrar-se dele, à parte do sacrifício de Cristo, que aliás, é só um modelo sem qualquer eficácia concreta sobre o pecador. O pelagianismo, por sua vez, possibilita uma religião que baseia a salvação em uma inerente bondade humana que só precisa ser estimulada com os exemplos corretos. Essa salvação com base na bondade justifica a busca de salvação pelas obras. Com o refinamento e a astúcia de Satanás, pode até ser que Cristo não sofra todo o descrédito e que nem mesmo a sua obra seja de toda invalidada. Entretanto, adiciona-se a obra de Cristo, nesse caso insuficiente, práticas, quaisquer que sejam, para completar o que Ele começou, mas não pode terminar sem a efetiva participação dessa bondade inerente ao homem.
Crer na remissão do pecado, significa, que entendemos que a realidade do pecado está entranhada em nossa natureza, que o pecado tem o controle de nossas ações e dos nossos afetos e que não há coisa alguma que podemos fazer para dele nos livrar. Não podemos fazer porque nos falta a vontade, o poder de decisão e a energia necessária para o suplantar. Concomitante a esse entendimento está aquele que nos leva a confessar a necessidade de um perdoador, de um resgatador eficiente, capaz, que possa lidar com o pecado sem se contaminar ou influenciar por ele e por fim vencê-lo. Crer na remissão dos pecados implica dizer que precisamos de Jesus porque cremos naquilo que o Evangelho pregado nos informou: “Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido". (Lc 19.10); “e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado (1 Jo 1.7), “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.1,2), isto porque: “Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus” (Jo 3.18) e mais: “quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida” (1 Jo 5.12).
Assim, inevitavelmente, cremos que esse perdão não é só possível, mas real, verdadeiro, vital. Creio que esse perdão transforma a minha natureza, muda a minha condição diante de Deus e a minha relação com Ele. Que essa dádiva espanta as trevas da minha alma, me livra das algemas da escravidão e faz de mim um filho amado. O perdão ofertado e executado por Cristo na aspersão do seu sangue me purifica e muda o destino último da minha existência tirando-me do inferno e me transportando para o Reino, a fim de participar da herança dos santos na luz.
Não bastasse tudo isso, esse perdão é atual também para os pecados atuais. É oferecido, inclusive de maneira antecipatória, de tão abundante que é: “Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade!” (Lm 3.22,23). Crer na remissão dos pecados nos dá segurança e liberdade para adorar, para obedecer, para receber os revezes da vida com paciência, o impulso para liberar e pedir perdão ao próximo. Sem esse artigo de fé a vida cristã não faz sentido e não nos resta esperança.
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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