Opinião
- 25 de junho de 2020
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Coronavírus: não é tempo de caos, é tempo de kairós
Por Vidar Mæland Bakke
Estou convencido de que o tempo do corona é tempo de kairós. Não, não é tempo de caos. É tempo de kairós! Na Bíblia, o Novo Testamento opera com duas distintas palavras para tempo: chronos e kairós.
Veja por si mesmo: se desenhamos nossa vida como uma linha do tempo, começamos com um traço da esquerda para a direita. Muito da vida é lidar com dias comuns, conviver uns com os outros. Esse é o chronos, o qual é medido precisamente pelo relógio, encontrando seu rumo na palavra “cronológico”.
Ocorre, porém, não muito raramente, que algo rompe o habitual, criando uma tensão, uma pequena ou grande crise. Talvez, seja por conta das circunstâncias externas e incontroláveis; talvez, seja por conta de um desentendimento ou conflito com outros; talvez, seja por conta de algo que ameaça nossa liberdade, nossa felicidade. É fácil pensar em coisas do tipo nesses dias. Contudo, de repente, uma alegria contagiante nos toma, surpreendendo-nos de uma boa maneira.
Momentos assim que rompem com a banalidade e com a rotina são formas diferentes daquelas do chronos, é o tempo kairós. Um momento condensado, uma janela no tempo – grande ou pequena –, cheia de possibilidades, animadora e desafiadora, e isso para o bem e para o mal. Enquanto chronos trata de quantidade de tempo, kairós trata de qualidade de tempo.
Jesus apregoa o kairós assim que começa seu ministério: "O tempo é chegado", dizia ele. "O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!" (Marcos 1.15). Eis a expressão do kairós: a janela de possibilidades do Reino de Deus ofertada por Cristo!
Quando o momento kairós ocorre, podemos até tentar nos forçar a permanecer como se nada tivesse ocorrido se acreditarmos que essa é a melhor e a mais fácil atitude. Mas, como frequentemente acontece, kairós nos tira dos trilhos retilineamente planejados, lança-nos para um círculo. Aqui estamos, queiramos ou não.
As questões são: vamos lidar com essa turbulência como um círculo de aprendizado, como uma ocasião para aprender mais sobre nós mesmos, para avaliar nossas ações, nossos padrões de reação, para conversar com alguém sobre o que se deu ou está se dando em nós ou ao nosso redor? Se assim for, podemos – lenta e assertivamente – esboçar um breve plano, fazer uma escolha. Quando, mais cedo ou mais tarde, retomar os planos traçados, o que vou levar comigo de bom e de ruim? Em que medida quero que essa situação me transforme ou reforce o que tenho em mim? O que ocorre a despeito de minha vontade e no que é que eu tenho de agir ou de corrigir? A quem posso procurar para me ajudar em minhas decisões?
Por meio da reflexão a partir de questões como essas, você se dá a chance de fazer da turbulência do kairós um círculo de aprendizado para crescimento em meio para além de uma linha de tempo restrita.
Estou convencido de que o tempo do corona é tempo de kairós. Podemos lidar com essa turbulência só com medo e preocupação. Ou podemos considerar esse tempo como uma janela de oportunidades por meio da qual Deus pode agir.
Creio que o Reino de Deus se faz mais próximo em tempos de adversidade. Muitos se voltarão para e crerão no Evangelho. Não significa, no entanto, que Deus só trabalhe nos tempos de crise. O ponto é que nós, seres humanos, temos, justamente nesses momentos, uma sensibilidade diferente para perceber o que Ele está tentando nos dizer. Estenderemos as mãos para receber? Ousemos nos questionar: o que podemos fazer agora que pode nos levar ao crescimento e às mudanças duradouras em nossas vidas e em nosso mundo? O que, nessa turbulência do kairós, pode ser aprendizado para você e para mim?
Pelo menos ouso pensar nisso, só não sei até que ponto consigo compreender a extensão disso... Por essa razão, é prudente que comece comigo mesmo antes de dizer o que esse tempo há de significar em sua vida. Agora, porém, reconheço que o mais importante para voltar ao “normal” é não fingir que nada aconteceu. O mais importante para mim é aproveitar o dia e o momento kairós enquanto ele estiver por aqui.
Afinal, o tempo do corona é kairós.
• Vidar Mæland Bakke é pastor na cidade norueguesa de Sandnes. Atuou com missão e plantação de igrejas no Brasil e na Noruega. É autor de livros e artigos, além de podcasts.
Tradução: Edson Munck Jr.
>> Conheça o livro O Deus que eu não entendo, de Christopher Wright
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