Opinião
- 11 de novembro de 2010
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Conto de graça
Minhas filhas e eu partimos apressadas ao encontro de minha irmã, tomando a estrada naquela manhã morna de sábado, com o céu azul sem nuvens por companhia.
Tínhamos 80 quilômetros pela frente. Depois de rodarmos metade do caminho, um frio gélido percorreu minha espinha: eu havia esquecido os documentos do carro em casa. E como desgraça pouca é bobagem, esquecera também todos os meus documentos pessoais.
As meninas perceberam meu semblante angustiado. Todas partilhamos da mesma angústia quando lhes contei o que ocorrera.
A viagem que tinha tudo para ser um tempo agradável de conversa e distração, tornara-se agora um espaço de silêncio constrangedor. Silêncio fruto do medo de que a transgressão fosse descoberta e punida. Dito e feito.
Poucos minutos depois, um guarda rodoviário fez o sinal característico de parar o carro.
Meu coração quase saltou pela boca. Olhando pelo retrovisor, constatei o olhar de pavor das meninas e tentei com todas as forças manter a calma. Por que justamente hoje, meu Deus, ser parada na estrada?
O guarda, com a face carrancuda, foi direito ao assunto: “Documentos, por favor”. Alguns segundos de silêncio e a resposta inevitável: “Seu guarda... é o seguinte: esqueci TODOS os documentos em casa. Pessoais e do carro”. Mais alguns segundos de silêncio.
Nesses instantes que pareceram uma eternidade, viajei no pensamento. Qual seria o desfecho do episódio? Apreensão do carro? Fim da viagem? Voltar para casa como? E as despesas decorrentes de multas?
Encarei o guarda nos olhos, e disse: “Seu guarda, sei que estou errada, mas não foi minha intenção... lamento profundamente o fato de não ter os documentos comigo... por favor, me desculpe!”.
Mais um pouco de silêncio.
Por fim, com voz firme e forte, o guarda deu o veredicto: “Siga adiante, senhora”. Mal pude acreditar no que ouvi.
Agradecendo rapidamente, sem coragem de olhá-lo nos olhos, liguei o carro e segui viagem. Foi como se o mundo tivesse sido retirado de meus ombros. Embalada pelo ritmo leve e suave da graça.
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Tínhamos 80 quilômetros pela frente. Depois de rodarmos metade do caminho, um frio gélido percorreu minha espinha: eu havia esquecido os documentos do carro em casa. E como desgraça pouca é bobagem, esquecera também todos os meus documentos pessoais.
As meninas perceberam meu semblante angustiado. Todas partilhamos da mesma angústia quando lhes contei o que ocorrera.
A viagem que tinha tudo para ser um tempo agradável de conversa e distração, tornara-se agora um espaço de silêncio constrangedor. Silêncio fruto do medo de que a transgressão fosse descoberta e punida. Dito e feito.
Poucos minutos depois, um guarda rodoviário fez o sinal característico de parar o carro.
Meu coração quase saltou pela boca. Olhando pelo retrovisor, constatei o olhar de pavor das meninas e tentei com todas as forças manter a calma. Por que justamente hoje, meu Deus, ser parada na estrada?
O guarda, com a face carrancuda, foi direito ao assunto: “Documentos, por favor”. Alguns segundos de silêncio e a resposta inevitável: “Seu guarda... é o seguinte: esqueci TODOS os documentos em casa. Pessoais e do carro”. Mais alguns segundos de silêncio.
Nesses instantes que pareceram uma eternidade, viajei no pensamento. Qual seria o desfecho do episódio? Apreensão do carro? Fim da viagem? Voltar para casa como? E as despesas decorrentes de multas?
Encarei o guarda nos olhos, e disse: “Seu guarda, sei que estou errada, mas não foi minha intenção... lamento profundamente o fato de não ter os documentos comigo... por favor, me desculpe!”.
Mais um pouco de silêncio.
Por fim, com voz firme e forte, o guarda deu o veredicto: “Siga adiante, senhora”. Mal pude acreditar no que ouvi.
Agradecendo rapidamente, sem coragem de olhá-lo nos olhos, liguei o carro e segui viagem. Foi como se o mundo tivesse sido retirado de meus ombros. Embalada pelo ritmo leve e suave da graça.
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Mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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