Opinião
- 30 de março de 2015
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Conselhos de um “pastoetador”
Ao ser questionado quanto às razões de ter fundado a banda U2, Bono Voz respondeu: “para tornar o mundo um lugar mais belo”. Simples assim, profundo assim. Não sei se ele o fez de propósito, mas estava ecoando o poeta norte-americano Emerson: “faço poemas para deixar o mundo um pouco melhor”. No seu poema “Motivo”, a grande poetisa Cecília Meireles responde à mesma pergunta: “eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa”. Ouço esse verso como um nano-manifesto, concentrado. Num ensaio, ela declara que escrevia para “despertar as pessoas do sono”. Como diria um pernambucano, ‘pensa’ numa tarefa! Van Gogh, depois de desistir de ser pastor entre os paupérrimos mineiros belgas, teria declarado ao seu irmão Théo: “Já que não posso pregar o Evangelho, vou pintá-lo”. Meu olhos marejam sempre que penso nessa decisão do genial e louco Van Gogh – sim, nosso irmão.
Reconheço entre os artistas uma perturbação quase psicótica quanto ao sentido das suas vidas, ao duro, mas inevitável trabalho de significar a existência, achando e exercendo sua verdadeira e mais profunda vocação. Por exemplo, o genial romancista russo Dostoievski coloca nos lábios do “Inquisitor” - personagem marcante da sua obra ‘Os Irmãos Karamazov’ -, uma fala perturbadora: “sem uma firme noção pela qual vive, o homem não aceita a vida e prefere destruir a si mesmo do que permanecer na terra”. É preciso muita coragem e grandeza existencial para reconhecer que não se tem talento para determinada vocação e, suando e sangrando, trilhar o caminho de (re)encontrar a missão de Deus para a vida: “quando eu estava na casa dos vinte anos, concluí, certo dia, que eu não era poeta. Foi o momento mais amargo da minha vida”, confidenciou certa vez o jornalista inglês Ambrose Bierce. Duro, mas necessário. Só quando nos vemos “libertos do que não somos, descobrimos que o nosso chamado capacita-nos a descobrir o que somos”, aconselha com enorme sabedoria o renomado teólogo e conferencista Os Guinness.
Para que Deus lhe chamou, caro leitor? “O Deus da Bíblia é missionário”, relembra-nos em seu muito famoso artigo John Stott: ele é missionário não apenas porque chama e envia (como no caso de Abraão, Moisés, Davi, Isaías, Paulo de Tarso...). Ele é missionário por que tem uma missão! O Deus Triúno da Graça, o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Deus único, vivo e verdadeiro, tem “um grandioso plano e propósito para toda a criação. A missão de Deus é o que unifica a Bíblia, desde a criação até o advento da nova criação”, assegura o teólogo de Lausanne, Christopher Wright, em sua obra monumental “A Missão do Povo de Deus” ( Edições Vida Nova). Esse, e pelo menos mais três títulos, poderão sacudir sua cabeça e coração e mudar literalmente o rumo da sua vida – e não me venha com a conversa de que já é velho demais para pensar em reinventar sua vida (note que eu não disse ‘carreira’, eu disse ‘vida’).
Adélia Prado publicou seu primeiro livro de poemas aos 40 anos, depois de vencer a timidez e mandar os originais para Carlos Drummond de Andrade. Tomie Ohtake pintou o primeiro quadro também aos 40, depois de criar os filhos. O polêmico e bem-sucedido Roberto Marinho começou a Rede Globo com mais de 50. Cada caso é um caso, eu sei, mas fica o incentivo, o ‘case’. O segundo livro é ‘O Chamado’, de Os Guinness (Editora Cultura Cristã). Um livro absolutamente iluminador sobre qual o propósito da vida e como persegui-lo. Esse é mais fácil de ler – 26 meditações diárias, fabulosas, recheadas de histórias e casos que me fazem olhar pra vida com olhos cheios de fé e vontade de viver, ser e acontecer – para a glória de Deus.
Se esse dois títulos sugeridos podem ser lidos com prazer e proveito pela galera dos 20 e poucos anos, universitários, o terceiro, “Os Outros Seis Dias”, de Paul Stevens, publicado pela própria Editora Ultimato (mas está esgotado), é para quem está entrando na casa dos 30, vivendo a crise de “ter de falar um terceiro idioma, fazer um mestrado”, esse tipo de ‘nóia’, muitas vezes. Stevens, um inteligente e devoto pastor batista e carpinteiro profissional, dá um show de teologia bíblica e prática quanto à compreensão do termo ‘vocação’ ou ‘chamado’. Citando seu colega do Regent College, Klaus Bockmuehl, “nosso chamado é uma combinação das vocações humana, cristã e pessoal”. Estudaremos em breve esse livro fabuloso com os jovens profissionais de nossa comunidade, no ABCD paulista. Por fim, recomendo com vigor “Como integrar Fé & Trabalho”, de Timothy Keller e Katherine Leary Alsdorf (Edições Vida Nova). O livro é dividido em três partes: o plano de Deus para o trabalho, nossas dificuldades com o trabalho e o Evangelho e o trabalho. Depois de lê-lo (de preferência, em um grupo pequeno de jovens acima dos 30 anos), discutir e desdobrar suas ideias, certamente você, leitor, estará bem melhor equipado para sobreviver ao mercado profissional, essa glamorosa máquina de moer carne.
Falo essas coisas como um cara de meia-idade, chegando já, já aos 50 (tenho 46), que se perturbou bastante com a pergunta já mencionada “qual é a minha vocação?”, ou as suas variantes: “para que Deus me chamou?”, “o que vou fazer com a minha vida?”. Eu sempre gostei muito de música, literatura e, depois, a partir da adolescência, de teologia – e, ao lado desta, filosofia, psicologia. Durante um bom tempo angustiava-me ter de decidir entre uma das três coisas: compor, cantar e tocar, escrever poesia, prosa e ensinar a “lidar com Deus e com as pessoas” ( a definição de Eugene Peterson para o chamado pastoral). Até que me dei conta de que as três vocações ajudavam e melhoram umas às outras. Vi que era um pastor melhor, por ter poetas e artistas como companheiros e mentores, além dos Profetas e Apóstolos. Vi que escrevia melhor minhas canções e textos por ter na Palavra a base e chão para as minha palavras (“a Bíblia em uma mão, o jornal na outra”, escreveu Karl Barth). E vi que era um educador melhor quando misturava arte e teologia numa fumegante panela de interesse existencial – tudo me enche os olhos e me fascina, viver é uma dádiva, “a maior dádiva”, ensinava Henri Nouwen, o padre-psicólogo-escritor-palestrante de Harvard e da Arca, uma comunidade de cuidados de deficientes mentais.
Ao cursar um doutorado em pedagogia na França, Dom Evaristo Arns, em crise de “falsa culpa” (para usar o termo famoso de Paul Tournier) perguntou a um monge idoso, seu professor, se não estaria abandonando a sua “vocação religiosa“ ao aventurar-se nos livros de Piaget, Montessori, Vigotski, entre outros educadores. O mestre lhe respondeu (com um sorriso de poucos dentes na boca): “você pode ter até dez vocações, meu filho – o importante é descobrir a principal e colocar as demais a serviço da principal”.
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Reconheço entre os artistas uma perturbação quase psicótica quanto ao sentido das suas vidas, ao duro, mas inevitável trabalho de significar a existência, achando e exercendo sua verdadeira e mais profunda vocação. Por exemplo, o genial romancista russo Dostoievski coloca nos lábios do “Inquisitor” - personagem marcante da sua obra ‘Os Irmãos Karamazov’ -, uma fala perturbadora: “sem uma firme noção pela qual vive, o homem não aceita a vida e prefere destruir a si mesmo do que permanecer na terra”. É preciso muita coragem e grandeza existencial para reconhecer que não se tem talento para determinada vocação e, suando e sangrando, trilhar o caminho de (re)encontrar a missão de Deus para a vida: “quando eu estava na casa dos vinte anos, concluí, certo dia, que eu não era poeta. Foi o momento mais amargo da minha vida”, confidenciou certa vez o jornalista inglês Ambrose Bierce. Duro, mas necessário. Só quando nos vemos “libertos do que não somos, descobrimos que o nosso chamado capacita-nos a descobrir o que somos”, aconselha com enorme sabedoria o renomado teólogo e conferencista Os Guinness.
Para que Deus lhe chamou, caro leitor? “O Deus da Bíblia é missionário”, relembra-nos em seu muito famoso artigo John Stott: ele é missionário não apenas porque chama e envia (como no caso de Abraão, Moisés, Davi, Isaías, Paulo de Tarso...). Ele é missionário por que tem uma missão! O Deus Triúno da Graça, o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Deus único, vivo e verdadeiro, tem “um grandioso plano e propósito para toda a criação. A missão de Deus é o que unifica a Bíblia, desde a criação até o advento da nova criação”, assegura o teólogo de Lausanne, Christopher Wright, em sua obra monumental “A Missão do Povo de Deus” ( Edições Vida Nova). Esse, e pelo menos mais três títulos, poderão sacudir sua cabeça e coração e mudar literalmente o rumo da sua vida – e não me venha com a conversa de que já é velho demais para pensar em reinventar sua vida (note que eu não disse ‘carreira’, eu disse ‘vida’).
Adélia Prado publicou seu primeiro livro de poemas aos 40 anos, depois de vencer a timidez e mandar os originais para Carlos Drummond de Andrade. Tomie Ohtake pintou o primeiro quadro também aos 40, depois de criar os filhos. O polêmico e bem-sucedido Roberto Marinho começou a Rede Globo com mais de 50. Cada caso é um caso, eu sei, mas fica o incentivo, o ‘case’. O segundo livro é ‘O Chamado’, de Os Guinness (Editora Cultura Cristã). Um livro absolutamente iluminador sobre qual o propósito da vida e como persegui-lo. Esse é mais fácil de ler – 26 meditações diárias, fabulosas, recheadas de histórias e casos que me fazem olhar pra vida com olhos cheios de fé e vontade de viver, ser e acontecer – para a glória de Deus.
Se esse dois títulos sugeridos podem ser lidos com prazer e proveito pela galera dos 20 e poucos anos, universitários, o terceiro, “Os Outros Seis Dias”, de Paul Stevens, publicado pela própria Editora Ultimato (mas está esgotado), é para quem está entrando na casa dos 30, vivendo a crise de “ter de falar um terceiro idioma, fazer um mestrado”, esse tipo de ‘nóia’, muitas vezes. Stevens, um inteligente e devoto pastor batista e carpinteiro profissional, dá um show de teologia bíblica e prática quanto à compreensão do termo ‘vocação’ ou ‘chamado’. Citando seu colega do Regent College, Klaus Bockmuehl, “nosso chamado é uma combinação das vocações humana, cristã e pessoal”. Estudaremos em breve esse livro fabuloso com os jovens profissionais de nossa comunidade, no ABCD paulista. Por fim, recomendo com vigor “Como integrar Fé & Trabalho”, de Timothy Keller e Katherine Leary Alsdorf (Edições Vida Nova). O livro é dividido em três partes: o plano de Deus para o trabalho, nossas dificuldades com o trabalho e o Evangelho e o trabalho. Depois de lê-lo (de preferência, em um grupo pequeno de jovens acima dos 30 anos), discutir e desdobrar suas ideias, certamente você, leitor, estará bem melhor equipado para sobreviver ao mercado profissional, essa glamorosa máquina de moer carne.
Falo essas coisas como um cara de meia-idade, chegando já, já aos 50 (tenho 46), que se perturbou bastante com a pergunta já mencionada “qual é a minha vocação?”, ou as suas variantes: “para que Deus me chamou?”, “o que vou fazer com a minha vida?”. Eu sempre gostei muito de música, literatura e, depois, a partir da adolescência, de teologia – e, ao lado desta, filosofia, psicologia. Durante um bom tempo angustiava-me ter de decidir entre uma das três coisas: compor, cantar e tocar, escrever poesia, prosa e ensinar a “lidar com Deus e com as pessoas” ( a definição de Eugene Peterson para o chamado pastoral). Até que me dei conta de que as três vocações ajudavam e melhoram umas às outras. Vi que era um pastor melhor, por ter poetas e artistas como companheiros e mentores, além dos Profetas e Apóstolos. Vi que escrevia melhor minhas canções e textos por ter na Palavra a base e chão para as minha palavras (“a Bíblia em uma mão, o jornal na outra”, escreveu Karl Barth). E vi que era um educador melhor quando misturava arte e teologia numa fumegante panela de interesse existencial – tudo me enche os olhos e me fascina, viver é uma dádiva, “a maior dádiva”, ensinava Henri Nouwen, o padre-psicólogo-escritor-palestrante de Harvard e da Arca, uma comunidade de cuidados de deficientes mentais.
Ao cursar um doutorado em pedagogia na França, Dom Evaristo Arns, em crise de “falsa culpa” (para usar o termo famoso de Paul Tournier) perguntou a um monge idoso, seu professor, se não estaria abandonando a sua “vocação religiosa“ ao aventurar-se nos livros de Piaget, Montessori, Vigotski, entre outros educadores. O mestre lhe respondeu (com um sorriso de poucos dentes na boca): “você pode ter até dez vocações, meu filho – o importante é descobrir a principal e colocar as demais a serviço da principal”.
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O chamado de José (e o nosso)
Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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