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- 09 de agosto de 2019
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Conferência do Coletivo Candiero reúne artistas nordestinos em Natal, RN
Por Phelipe Reis
Nos dias 15, 16 e 17 de agosto, a capital do Rio Grande do Norte, Natal, será o palco da primeira Conferência Candiero. Com o tema “Psicodelia Nordestina Abstrata”, o evento vai reunir artistas que atuam no cenário musical do Nordeste. A expectativa da organização é lotar os trezentos lugares do auditório da Missão Evangélica Pentecostal do Brasil do Alecrim, onde acontecerá a conferência.
A programação conta com oito apresentações. Está confirmada a participação de Marco Telles, João Manô, Vanessa Laís, Northon Pinheiro, Ana Heloysa, Prumo, Eli Abrahan, Julhinho de TiaLica, Ramon Goulart e Jotta Carlos Jr. Os artistas apresentarão trabalhos exclusivamente autorais. Haverá também mesa-redonda sobre cultura e cristianismo, exposição de telas e pregações. A entrada é gratuita.
O encontro é uma iniciativa do Coletivo Candiero, criado no início de 2019 e que reúne mais de 20 nomes do cenário musical cristão nordestino. De acordo com Marco Telles, um dos idealizadores do Coletivo, a proposta do grupo é abandonar a visão frustrante de que, se não for autenticado pelas plataformas musicais do Sudeste, o músico nordestino nunca vai conseguir ser um artista de primeira linha.
Um coletivo de artistas do Nordeste, para o Nordeste e sobre o Nordeste
Confira abaixo um bate-papo com Marco Telles sobre o nascimento do Coletivo, o propósito e projetos futuros do Candiero.
Por que Candiero?
Marco Telles – Nós pensamos em adotar o nome “Candiero”, escrito da forma como o nordestino fala, primeiro, porque diz respeito à um elemento muito característico de nossa cultura nordestina, ainda utilizado hoje nas brenhas sertanejas; segundo, porque faz menção ao nosso papel social: iluminar, trazer luz.
Como e quando surgiu o coletivo?
O Coletivo Candiero surgiu de forma despretensiosa. Tudo começou em 2014, quando nós, músicos de João Pessoa, decidimos nos juntar para fazer uma conferência em nossa cidade que fosse inteiramente com cantores e bandas locais, para cantarmos exclusivamente nosso repertório autoral. Estabelecemos duas regras: todos os artistas da conferência teriam que estar presentes durante os três dias de conferência e, em segundo lugar, estava terminantemente proibido cover de qualquer natureza. Essa conferência deu muito certo e fizemos três edições – a última em um dos maiores teatros de João Pessoa, PB, com três dias lotados de expectadores. Notamos que esse movimento começou a criar uma cena de música autoral cristã em nossa cidade e que, aos poucos, nossas músicas estavam sendo executadas nas igrejas locais. Tudo isso foi nos causando grande alegria e no começo de 2019, decidimos nos submeter à experiência de expandir esse movimento para outras partes do Nordeste. Assim, eu (Marco Telles) e Filipe Daguia (músico e compositor na banda Prumo), começamos a arregimentar via internet outros cantores e bandas do Rio Grande do Norte, Ceará, Teresina, Pernambuco, Paraíba. Quando notamos, tínhamos um grupo no WhatsApp com mais de vinte nomes, de gente que não se conhecia, mas que abraçou a ideia de criar juntos uma cena da música cristã nordestina.
Qual o propósito do Coletivo Candiero?
O principal propósito do Coletivo Candiero é abandonar a visão frustrante de que se não for autenticado pelas plataformas musicais do Sudeste o músico nordestino nunca vai conseguir ser um artista de primeira linha. Eu trabalho com música no meu Nordeste desde os meus 18 anos. Já lancei cinco discos ao longo dessa carreira e uma das frases que mais escutei por aqui foi: “Poxa, seu som é incrível! Que pena que você não mora em São Paulo, ou no Rio, ou em Belo Horizonte...”. Ouvir isso é tão frustrante que chega a dar vontade de desistir de tudo. O propósito do Coletivo é dizer aos artistas cristãos do Nordeste: “Você tem um trabalho incrível e não precisa tocar no Sul ou Sudeste para receber esse reconhecimento”. O Nordeste deve nos ser o bastante – tanto para consumir nossa arte, quanto para alegrar o nosso coração. Somos artistas do Nordeste, para o Nordeste e sobre o Nordeste e isso deve ser (certamente o é) o bastante. Hoje, o Coletivo Candiero se propõe a ser essa única plataforma puramente nordestina para os artistas do nosso Nordeste, que desejam mostrar sua arte.
Além da Conferência, que está às portas, quais outros projetos o coletivo quer desenvolver?
Temos algumas ideias e uma delas é produzirmos o primeiro álbum do Coletivo Candiero, com músicas de nossos artistas e com a participação do máximo deles que pudermos ajuntar. Um disco que conte a nossa história, que demonstre todo o nosso potencial artístico, teológico e estético. Também desejamos levar a conferência Candiero para o máximo de capitais do nordeste que forem possíveis (quem sabe todas). Fora isso, estamos produzindo um documentário para o Youtube, no qual nossos artistas terão lugar de fala para contarem sua própria história e, junto a isso, a história do Coletivo Candiero, com imagens de nossas cidades nordestinas, nossos eventos e nossa vida cotidiana.
Quem integra o Coletivo?
Hoje, temos 25 nomes de cantores e bandas de várias regiões do Nordeste. Dentre eles, ainda temos um que é da região Norte, nossos vizinhos, que, igualmente, sofrem o desprezo de estarem “fora da rota”; e ainda um mineiro radicado na Paraíba. Todos foram selecionados por meio de indicação e entraram por meio de um processo de sabatina feito pelo grupo inteiro.
Qual o elemento que une os integrantes do coletivo e o que os distingue?
Não pensamos em uniformidade. Pensamos em unidade. Estamos em torno do mesmo propósito: divulgar a música cristã nordestina e criar uma plataforma para nossos artistas. Fora esta questão que nos une, temos divergências em todas os demais quesitos. Existem artistas altamente engajados em discursos sociais, outros que se dedicam às canções congregacionais, outros de poesia voltada para o cotidiano da existência humana. Além disso, temos as questões estéticas, uns são bem “worship” quanto à forma adotada para suas canções, outros são experimentais e misturam todo tipo de ritmo dentro de seu repertório. Outros ainda são regionalistas e se dedicam ao forró pé de serra nordestino. Somos uma mistura de tudo o que o Nordeste pode fazer e temos descoberto que, em questão de arte, o Nordeste pode fazer tudo e o faz com excelente qualidade.
Existe uma arte cristã nordestina?
Existe uma arte nordestina e existem cristãos produzindo esta arte. A arte não é cristã ou espírita ou budista. A arte é em si mesma. É uma expressão, uma proposta exótica para se olhar o comum por um ponto de vista diferenciado. Quando cristãos produzem arte, o mundo inteiro é beneficiado. Quando cristãos nordestinos produzem arte, nossas peculiaridades, nosso sotaque, nosso folclore e nosso vocabulário deixam rastros, denunciam de onde vem aquela arte. O Nordeste tem alimentado a cultura brasileira há séculos com o que há de melhor na literatura, na música, na poesia, na dança, na pintura, no cordel e em tantas outras expressões. Está mais do que na hora de o Nordeste cristão começar a alimentar a nação com sua arte única advinda de sua experiência singular.
• Marco Telles Belohuby é escritor do livro "Vida Após o Gospel", bacharel em teologia pelo Instituto Bíblico Betel Brasileiro. Graduando em filosofia pela UFPB. Membro da igreja Presbiteriana do Brasil e músico dedicado à arte cristã.
Serviço
O que: Conferência do Coletivo Candiero.
Onde: Natal, Rio Grande do Norte.
Quando: 15, 16 e 17 de agosto de 2019.
Mais informações, siga o Candiero no instagram: @ocandiero
É natural do Amazonas, casado com Luíze e pai da Elis e do Joaquim. Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e mestre em Missiologia no Centro Evangélico de Missões (CEM). É missionário e colaborador do Portal Ultimato.
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