Opinião
- 22 de outubro de 2018
- Visualizações: 3256
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Conexão real
Por Erlo Saul Aurich
“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24)
Deixando pai e mãe, um homem e uma mulher, de comum acordo, minimamente amadurecidos e emancipados, partem para uma jornada a dois, unindo-se em conexão física, emocional e espiritual a cada dia. E, ainda, na nudez de corpo e alma a intimidade se constrói. Ecos do paraíso até que a morte os separe.
Nascemos para conexão. Somos seres criados em relação. Nosso Pai comum, no fluir da Trindade, cria-nos para tal. Seja olho no olho, corpos que se tocam, beijam-se, de forma real ou virtual em sons e imagens. Não há como não se relacionar, não se conectar.
Façamos um recorte proposital. Em tempos de hiperconectividade, como nossos relacionamentos mais íntimos e significativos têm sido afetados? Como anda a relação marido e mulher, pais e filhos, a base das demais relações sociais?
Não podemos negar que o tempo gasto, ou desperdiçado, diante das micro e pequenas telas tem afetado de modo significativo a qualidade das relações conjugais e familiares. Na mesma casa, mesa e cama seguem seus personagens cabisbaixos, concentrados, distraídos em relação ao outro. Até se enxergam, mas não se veem. Escutam-se, porém não são ouvidos. Falam-se por ruídos e gemidos sem presença, carinhos e coisas tais. Ouve-se, na verdade, com os olhos grudados às telas. Por vezes ladeados na mesma cama.
Qual a razão desse desatino relacional, desse paradoxo de muita conectividade e pouca interatividade? Por que homens e mulheres com mecanismos tão ricos de interação concreta, pessoal, migram para esse espaço etéreo, impessoal? É sua anonimidade, seu secreto, seu segredo? O medo de revelar-se de fato ou, pior, a construção de uma “Nárnia”, um paraíso só seu? Não somos estimulados à reflexão sobre este mundo paralelo. Simplesmente embarcamos nele em contágio inescapável, vemos e vivemos um mundo novo dependente de interconexões infinitas de bytes onipresentes.
Entretanto, como tirar proveito dessa revolução tecnológica, que veio para ficar e da qual não podemos nos ausentar? Deixando de lado o que compete e compromete a nossa sobrevivência física no âmbito profissional, como fazer bom uso da conectividade virtual em prol de relações mais próximas e saudáveis com os protagonistas de toda a ordem familiar e social: marido e mulher? O que seria o uso racional e equilibrado desses recursos, potencializando os afetos do ambiente familiar? Gostaria de sugerir ao menos três caminhos.
O primeiro e mais salutar seria, com certeza, pressionar o botão lateral da maioria dos smartphones quando introduz a opção off. Isso mesmo, desligar o aparelho ou colocá-lo em um lugar de “não pegue até segunda ordem” para que sejam resgatadas a comunicação e interação do casal e da família.
Outra sugestão seria combinar tempo de uso racional por todos, acordado e cronometrado para preservar os momentos mais significativos de conversas, brincadeiras, devocionais, resgatando as experiências do dia e projetando ações em prol do casamento, da família, bem como outras visando o próximo.
Quanto ao uso pessoal, seria recomendável não acessar websites suspeitos e inadequados que possam trazer constrangimento ao cônjuge e aos filhos se porventura abrirem seu aparelho. Uma dica: haveria problema passar para seu cônjuge e filhos a senha de entrada de seu celular? Se sim, avalie suas navegações e conversas.
Você não está só. Seja no uso dessas ferramentas tecnológicas que encolheram o mundo e nos legaram um universo de possibilidades, seja no desafio de equilibrar tempos e modos de nos relacionar com nossos queridos de casa. Navegar é preciso, porém conectar-se à realidade, mais que virtual, é vital.
Deus nos dê, por seu Espírito, o ponto de equilíbrio.
• Erlo Saul Aurich é pastor da Aliança Bíblica de Gramado e especialista em terapia de famílias. Casado com Juliana Koehler, é pai de Priscila e Lucca.
*Texto originalmente publicado na edição 373 da revista Ultimato.
Leia mais
» A midiotização da família
» Alta conectividade, baixa interatividade
» Livros sobre casamento e família
“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24)
Deixando pai e mãe, um homem e uma mulher, de comum acordo, minimamente amadurecidos e emancipados, partem para uma jornada a dois, unindo-se em conexão física, emocional e espiritual a cada dia. E, ainda, na nudez de corpo e alma a intimidade se constrói. Ecos do paraíso até que a morte os separe.
Nascemos para conexão. Somos seres criados em relação. Nosso Pai comum, no fluir da Trindade, cria-nos para tal. Seja olho no olho, corpos que se tocam, beijam-se, de forma real ou virtual em sons e imagens. Não há como não se relacionar, não se conectar.
Façamos um recorte proposital. Em tempos de hiperconectividade, como nossos relacionamentos mais íntimos e significativos têm sido afetados? Como anda a relação marido e mulher, pais e filhos, a base das demais relações sociais?
Não podemos negar que o tempo gasto, ou desperdiçado, diante das micro e pequenas telas tem afetado de modo significativo a qualidade das relações conjugais e familiares. Na mesma casa, mesa e cama seguem seus personagens cabisbaixos, concentrados, distraídos em relação ao outro. Até se enxergam, mas não se veem. Escutam-se, porém não são ouvidos. Falam-se por ruídos e gemidos sem presença, carinhos e coisas tais. Ouve-se, na verdade, com os olhos grudados às telas. Por vezes ladeados na mesma cama.
Qual a razão desse desatino relacional, desse paradoxo de muita conectividade e pouca interatividade? Por que homens e mulheres com mecanismos tão ricos de interação concreta, pessoal, migram para esse espaço etéreo, impessoal? É sua anonimidade, seu secreto, seu segredo? O medo de revelar-se de fato ou, pior, a construção de uma “Nárnia”, um paraíso só seu? Não somos estimulados à reflexão sobre este mundo paralelo. Simplesmente embarcamos nele em contágio inescapável, vemos e vivemos um mundo novo dependente de interconexões infinitas de bytes onipresentes.
Entretanto, como tirar proveito dessa revolução tecnológica, que veio para ficar e da qual não podemos nos ausentar? Deixando de lado o que compete e compromete a nossa sobrevivência física no âmbito profissional, como fazer bom uso da conectividade virtual em prol de relações mais próximas e saudáveis com os protagonistas de toda a ordem familiar e social: marido e mulher? O que seria o uso racional e equilibrado desses recursos, potencializando os afetos do ambiente familiar? Gostaria de sugerir ao menos três caminhos.
O primeiro e mais salutar seria, com certeza, pressionar o botão lateral da maioria dos smartphones quando introduz a opção off. Isso mesmo, desligar o aparelho ou colocá-lo em um lugar de “não pegue até segunda ordem” para que sejam resgatadas a comunicação e interação do casal e da família.
Outra sugestão seria combinar tempo de uso racional por todos, acordado e cronometrado para preservar os momentos mais significativos de conversas, brincadeiras, devocionais, resgatando as experiências do dia e projetando ações em prol do casamento, da família, bem como outras visando o próximo.
Quanto ao uso pessoal, seria recomendável não acessar websites suspeitos e inadequados que possam trazer constrangimento ao cônjuge e aos filhos se porventura abrirem seu aparelho. Uma dica: haveria problema passar para seu cônjuge e filhos a senha de entrada de seu celular? Se sim, avalie suas navegações e conversas.
Você não está só. Seja no uso dessas ferramentas tecnológicas que encolheram o mundo e nos legaram um universo de possibilidades, seja no desafio de equilibrar tempos e modos de nos relacionar com nossos queridos de casa. Navegar é preciso, porém conectar-se à realidade, mais que virtual, é vital.
Deus nos dê, por seu Espírito, o ponto de equilíbrio.
• Erlo Saul Aurich é pastor da Aliança Bíblica de Gramado e especialista em terapia de famílias. Casado com Juliana Koehler, é pai de Priscila e Lucca.
*Texto originalmente publicado na edição 373 da revista Ultimato.
Leia mais
» A midiotização da família
» Alta conectividade, baixa interatividade
» Livros sobre casamento e família
- 22 de outubro de 2018
- Visualizações: 3256
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
- + vendidos
- + vistos