Opinião
- 08 de dezembro de 2021
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Como seria um debate entre Richard Dawkins e C. S. Lewis?
Alister McGrath coloca frente a frente as duas estrelas de Oxford, e o que cada um provavelmente diria
Resenha
Por Marcio Antonio Campos
C. S. Lewis, Richard Dawkins e o Sentido da Vida
Alister McGrath
Editora Ultimato, 2020
Richard Dawkins é um sujeito bastante intenso em suas argumentações, todos sabemos, mas quando se trata de defender suas posições no um-contra-um ele é bem seletivo. Dawkins não quis debater com Willian Lane Craig em 2011, e há um bom tempo decidiu não participar de debates com criacionistas. Mas, por outro lado, o biólogo já encarou John Lennox; o cardeal George Pell; o arcebispo anglicano de Canterbury, Rowan Williams; e o teólogo Alister McGrath, que, arrisco dizer, é hoje o principal nome do diálogo entre ciência e fé em todo o mundo, depois dos falecimentos de Ian Barbour, em 2013, e John Polkinghorne, em março de 2021. E foi de McGrath uma ideia interessantíssima: e se Dawkins participasse de um debate com ninguém menos que C.S. Lewis, um dos gigantes da apologética do século 20?
C. S. Lewis, Richard Dawkins e o Sentido da Vida é o livrinho (porque é curto; dá para ler em poucas horas) que surgiu a partir desta ideia de McGrath e foi lançado em 2020 pela Ultimato (que também publicou a excepcional série Ciência e Fé Cristã; meu exemplar é cortesia da editora). McGrath conhece bem os dois “debatedores”; é biógrafo de Lewis e já escreveu uma resposta a Deus, um delírio, de Dawkins. Com isso, ele foi capaz de selecionar o que seriam os prováveis temas de discussão entre as duas estrelas de Oxford, e o que cada um provavelmente diria. Não há réplicas ou tréplicas – convenhamos, também seria meio demais; a cada capítulo, McGrath resume as ideias de Dawkins, de Lewis e, ao fim, reflete sobre as posições de ambos.
McGrath conhece bem os dois “debatedores”; com isso, ele foi capaz de selecionar o que seriam os prováveis temas de discussão entre as duas estrelas de Oxford, e o que cada um provavelmente diria
Mas, antes de iniciar, McGrath se dispõe a explicar qual é a cosmovisão, o “ponto de partida” de Dawkins (o “darwinismo universal”) e de Lewis (o “cristianismo puro e simples”), que dá forma às ideias de cada um deles sobre os temas do “debate”: a razoabilidade da fé, a existência de Deus e a natureza humana, todos assuntos sobre os quais tanto Dawkins quanto Lewis escreveram um bocado. A discussão hipotética gira em torno de temas sobre o valor da evidência, os limites do conhecimento científico, até que ponto faz sentido exigir “provas” de que Deus existe, ou o quanto somos “reféns” das reações químicas que ocorrem em nosso corpo.
Na introdução, McGrath manifesta a intenção de “permanecer oculto” e deixar que Lewis e Dawkins falem por si mesmos, mas nem sempre ele consegue. Quem acompanha a discussão sobre ciência e fé sabe que McGrath tem lado, e é o de Lewis. Isso fica evidente quando se lê as partes finais de cada capítulo, pois não são poucas as vezes em que o autor mostra as limitações dos argumentos de Dawkins, que existem mesmo. Mas ninguém que conheça os escritos do biólogo haverá de alegar que McGrath distorce o pensamento de Dawkins para torná-lo mais “refutável”. McGrath não constrói espantalhos; ele reproduz com fidelidade as ideias de Dawkins.
O livro é uma espécie de provocação – não no sentido de criar polêmica, mas no de pretender que o leitor não se limite às páginas que acabara de ler; McGrath diz claramente que apenas “arranha a superfície” desses temas que foram abordados por essas duas mentes célebres, e seu objetivo é estimular o leitor a procurar conhecer melhor o que ambos escreveram. Por isso o livro termina com uma série de recomendações de leitura, o que é especialmente útil no caso de Lewis: o sujeito era uma máquina de publicar, e no meio de tanta coisa incrível pode ser complicado encontrar onde, exatamente, ele trata dos temas que McGrath trouxe para seu livro. E, como alguém que já teve a chance de ler parte da obra de Lewis que vem sendo relançada no Brasil pela Thomas Nelson, posso dizer que seria um desperdício ficar apenas nas menos de oitenta páginas do livro de McGrath.
• Marcio Antonio Campos é editor de Opinião da Gazeta do Povo. Coautor de Bíblia e Natureza: os dois livros de Deus – reflexões sobre ciência e fé, escreve no blog Tubo de Ensaio, na Gazeta do Povo; voluntário em duas edições dos Jogos Olímpicos (Turim-2006 e Rio-2016), mantém a coluna Papo Olímpico no UmDois Esportes.
Texto publicado originalmente no blog Tubo de Ensaio, da Gazeta do Povo.
Conheça outros textos do blog Tubo de Ensaio.
Leia mais:
» O fundamentalismo ateísta de Dawkins
Resenha
Por Marcio Antonio Campos
C. S. Lewis, Richard Dawkins e o Sentido da Vida
Alister McGrath
Editora Ultimato, 2020
Richard Dawkins é um sujeito bastante intenso em suas argumentações, todos sabemos, mas quando se trata de defender suas posições no um-contra-um ele é bem seletivo. Dawkins não quis debater com Willian Lane Craig em 2011, e há um bom tempo decidiu não participar de debates com criacionistas. Mas, por outro lado, o biólogo já encarou John Lennox; o cardeal George Pell; o arcebispo anglicano de Canterbury, Rowan Williams; e o teólogo Alister McGrath, que, arrisco dizer, é hoje o principal nome do diálogo entre ciência e fé em todo o mundo, depois dos falecimentos de Ian Barbour, em 2013, e John Polkinghorne, em março de 2021. E foi de McGrath uma ideia interessantíssima: e se Dawkins participasse de um debate com ninguém menos que C.S. Lewis, um dos gigantes da apologética do século 20?
C. S. Lewis, Richard Dawkins e o Sentido da Vida é o livrinho (porque é curto; dá para ler em poucas horas) que surgiu a partir desta ideia de McGrath e foi lançado em 2020 pela Ultimato (que também publicou a excepcional série Ciência e Fé Cristã; meu exemplar é cortesia da editora). McGrath conhece bem os dois “debatedores”; é biógrafo de Lewis e já escreveu uma resposta a Deus, um delírio, de Dawkins. Com isso, ele foi capaz de selecionar o que seriam os prováveis temas de discussão entre as duas estrelas de Oxford, e o que cada um provavelmente diria. Não há réplicas ou tréplicas – convenhamos, também seria meio demais; a cada capítulo, McGrath resume as ideias de Dawkins, de Lewis e, ao fim, reflete sobre as posições de ambos.
McGrath conhece bem os dois “debatedores”; com isso, ele foi capaz de selecionar o que seriam os prováveis temas de discussão entre as duas estrelas de Oxford, e o que cada um provavelmente diria
Mas, antes de iniciar, McGrath se dispõe a explicar qual é a cosmovisão, o “ponto de partida” de Dawkins (o “darwinismo universal”) e de Lewis (o “cristianismo puro e simples”), que dá forma às ideias de cada um deles sobre os temas do “debate”: a razoabilidade da fé, a existência de Deus e a natureza humana, todos assuntos sobre os quais tanto Dawkins quanto Lewis escreveram um bocado. A discussão hipotética gira em torno de temas sobre o valor da evidência, os limites do conhecimento científico, até que ponto faz sentido exigir “provas” de que Deus existe, ou o quanto somos “reféns” das reações químicas que ocorrem em nosso corpo.
Na introdução, McGrath manifesta a intenção de “permanecer oculto” e deixar que Lewis e Dawkins falem por si mesmos, mas nem sempre ele consegue. Quem acompanha a discussão sobre ciência e fé sabe que McGrath tem lado, e é o de Lewis. Isso fica evidente quando se lê as partes finais de cada capítulo, pois não são poucas as vezes em que o autor mostra as limitações dos argumentos de Dawkins, que existem mesmo. Mas ninguém que conheça os escritos do biólogo haverá de alegar que McGrath distorce o pensamento de Dawkins para torná-lo mais “refutável”. McGrath não constrói espantalhos; ele reproduz com fidelidade as ideias de Dawkins.
O livro é uma espécie de provocação – não no sentido de criar polêmica, mas no de pretender que o leitor não se limite às páginas que acabara de ler; McGrath diz claramente que apenas “arranha a superfície” desses temas que foram abordados por essas duas mentes célebres, e seu objetivo é estimular o leitor a procurar conhecer melhor o que ambos escreveram. Por isso o livro termina com uma série de recomendações de leitura, o que é especialmente útil no caso de Lewis: o sujeito era uma máquina de publicar, e no meio de tanta coisa incrível pode ser complicado encontrar onde, exatamente, ele trata dos temas que McGrath trouxe para seu livro. E, como alguém que já teve a chance de ler parte da obra de Lewis que vem sendo relançada no Brasil pela Thomas Nelson, posso dizer que seria um desperdício ficar apenas nas menos de oitenta páginas do livro de McGrath.
• Marcio Antonio Campos é editor de Opinião da Gazeta do Povo. Coautor de Bíblia e Natureza: os dois livros de Deus – reflexões sobre ciência e fé, escreve no blog Tubo de Ensaio, na Gazeta do Povo; voluntário em duas edições dos Jogos Olímpicos (Turim-2006 e Rio-2016), mantém a coluna Papo Olímpico no UmDois Esportes.
Texto publicado originalmente no blog Tubo de Ensaio, da Gazeta do Povo.
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