Opinião
- 20 de abril de 2020
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Como as comunidades cristãs locais devem agir em meio a pandemia
Por Leandro Silva
A pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil e traz novos e imensos desafios aos cristãos. A crise que está diante de nós irá impactar tremendamente a todos, especialmente os mais vulneráveis, e requer respostas ágeis, biblicamente fiéis e encarnadas em nossos contextos. Estamos diante de uma oportunidade única para a demonstração do amor de Deus e proclamação do evangelho de Cristo de formas inovadoras, contextuais, criativas e compassivas.
A questão que paira sobre nós neste momento é: como fazer missão quando a alternativa mais acertada de responsabilidade social é cessar momentaneamente nossos cultos públicos e outras ações que gerem aglomerações, e incentivar o isolamento social das famílias em suas casas?
Este aparente paradoxo nos proporciona uma oportunidade para ser igreja em missão desenvolvendo nossa ação para muito além do que faríamos em nossos habituais encontros e aglomerações.
Estou convicto de que a atual pandemia se constitui em um dos mais promissores momentos da história para que cada comunidade cristã atue em sua localidade como uma cidade construída sobre um monte, atendendo ao imperativo do Senhor Jesus: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus" (Mateus 5:14-16).
Cada igreja e ministério deve refletir contextualmente e em oração sobre que ideias de projetos e ações poderiam comunicar a esperança do evangelho em palavra e ação em seu contexto local durante a pandemia. Há muito que podemos e devemos fazer em diversas áreas:
• Evangelização: A mensagem do evangelho deve ser anunciada de forma sensível e misericordiosa, o que envolve o fortalecimento do uso da tecnologia para ministrar e interagir como igreja e mais amplamente com a sociedade, mas também a dedicação a cuidar e pastorear as pessoas de nossas comunidades, direcionando nosso olhar para as multidões “aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor” (Mt 9:36). As igrejas e ministérios missionais devem estar atentos às oportunidades para um envolvimento autêntico com a dor pessoal e emocional ao seu redor, compartilhando com coragem as boas novas de Cristo.
• Ações de emergência para os mais vulneráveis: Os mais empobrecidos serão atingidos de forma devastadora pela crise, o que requer uma ampla mobilização de misericórdia por parte das igrejas e ministérios cristãos. Isso inclui campanhas emergenciais de arrecadação de alimentos e itens de higiene pessoal; ações especificas direcionadas a servir os moradores de favelas e a população de rua; Campanhas de apoio aos idosos e integrantes dos grupos de risco; cuidado emocional e pastoral pelas famílias dessas comunidades.
• Movimento de oração pelas pessoas que integram os grupos de risco, pelas pessoas afetadas pela pandemia, pelos profissionais de saúde, pelas autoridades, pelos lugares atingidos, pelas nações, para que muitos se acheguem a Cristo nestes dias, pelo Corpo de Cristo em sua resposta a esse desafio missional.
• Parceria com o poder público e com instituições da sociedade civil: igrejas e ministérios podem ceder as salas e instalações para uso pelo Governo, por exemplo como hospitais de campanha no período de pandemia, e disposição de integrar comitês locais de enfrentamento a Pandemia, caso sejam criados. A cooperação com as autoridades pode ser estendida no repasse de campanhas e informações de esclarecimento sobre a Covid-19 e como enfrenta-lo, e na mobilização de estudantes e profissionais de saúde para servir como voluntários nos hospitais e unidades de atendimento, nas localidades em que esta oportunidade seja facultada. Campanhas de doação de sangue para reforçar o estoque dos hemocentros locais. Ações de encorajamento aos profissionais que devem continuar em campo (de saúde e da limpeza pública, por exemplo).
As igrejas locais são desafiadas a agir corajosamente como agentes de transformação em meio a uma sociedade amedrontada. “Deus não nos deu um espírito de medo, mas de poder, de amor e de equilíbrio” (2 Tm 1: 7). Poder para agir com coragem e esperança frente a ansiedade e ao isolamento; amor para proclamar e servir, especialmente aos mais vulneráveis; e equilíbrio para nos manter atentos as medidas de saúde recomendas e encorajar o autocuidado dos cristãos e de seus entes queridos.
No Antigo Testamento, o livro de Ester apresenta-nos a um cenário de ameaça concreta de genocídio ao povo judeu. Diante deste quadro desolador, se encontram as palavras de Mardoqueu direcionadas a rainha Ester: “Não pense que, pelo fato de estar no Palácio do Rei, você será a única entre os judeus que escapará, pois, se você ficar calada nesta hora, socorro e livramento surgirão de outra parte para os judeus, mas você e a família do seu pai morrerão. Quem não sabe se não foi para um momento como este que você chegou a posição de rainha?” (Ester 4.12-14). Compreendendo finalmente seu urgente e singular papel, Ester propõe uma estratégia que pode ser resumida em três pontos fundamentais: jejum e oração contínuos, ação concreta e disposição para considerar o alto custo de colocar em risco sua segurança pessoal (Ester 4.15,16).
À medida que nos defrontamos com os desafios relacionados a disseminação do coronavírus em nossas cidades, precisamos relembrar as palavras de Mardoqueu, as quais por sua vez também nos desafiam a compreender que nossas igrejas e ministérios foram plantados pelo Senhor nas regiões em que se encontram presentes “para um momento como este”.
• Leandro Silva é missionário da Action International Ministries no Brasil e Presidente da Missão ALEF, com base no Nordeste brasileiro. Co-organizador e co-autor de diversos livros, entre eles Venha o Teu Reino – Uma igreja para hoje (Editora Ultimato).
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