Opinião
02 de outubro de 2023
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Ciências e fé cristã: Quais perguntas que têm rondado sua mente?
Por Deborah Vieira
Sabemos que para a igreja em geral, por vezes, a relação com a universidade e as ciências é turbulenta. Basta trazer à memória os embates que o que evangélicos travaram durante a pandemia da Covid-19 contra a vacinação e medidas protetivas. Neste cenário, quem fica no meio do fogo cruzado são, principalmente, os pesquisadores cristãos. Como eles podem criar pontes entre o que pesquisam e a igreja? E como ser um missionário das boas novas no seu trabalho acadêmico?
REVISTA ULTIMATO | DOXOLOGIA NO CULTO PÚBLICO E NA VIDA DIÁRIA

Em 2021, conduzi uma pesquisa com acadêmicos cristãos brasileiros para entender um pouco mais sobre os desafios que eles enfrentam na universidade e no que acreditam. Dos entrevistados, apenas 7,7% responderam que os cristãos brasileiros conectam bem a sua fé e a ciência, 25,3% disseram que não conectam a fé com a ciência, enquanto 60,4% acreditam que conectam mal a fé e a ciência – o que é ainda mais alarmante. Entretanto, apenas 7,7% responderam que enxergam que, de forma categórica, não há espaço para fé nas universidades brasileiras. O restante, em diferentes gradações, vislumbra possibilidades e oportunidades para conexão entre as ciências e a fé. Essa sim é uma ótima notícia! Isso significa que existe uma grande seara a ser explorada, na qual é possível agir como testemunhas de Jesus.
Estar no vão entre a igreja e a universidade também é uma estrada de duas vias. A maioria dos entrevistados na pesquisa citada acima considera que a vivência universitária contribuiu para sua prática de fé cristã. Muitos deles disseram que essa experiência gerou maior vontade de se aprofundar nos estudos bíblicos e teológicos, que estudar sobre a criação de Deus é uma forma de conhecer mais sobre o Criador, que estudar sobre temas acerca da vulnerabilidade social ajuda a amar mais o próximo, que conviver com opiniões distintas é um constante convite para exercer a humildade, o respeito e compaixão, além de que na universidade desenvolvem um pensamento crítico.
Vamos focar no último item citado: o desenvolvimento de um pensamento crítico. Na prática acadêmica, é impossível prosseguir em uma pesquisa se não temos uma pergunta motivadora. Aprendemos a olhar nosso contexto e questionar: por que isso acontece? Qual a consequência disso ou daquilo? Como alcançar tal objetivo? Porém, muitos de nós, pesquisadores, possuímos experiências negativas quando levamos essas mesmas perguntas para os contextos eclesiais. Explorar as dúvidas é por vezes entendido como falta de fé, como se nosso relacionamento com Deus não estivesse bom, ou ainda, pode esbarrar em situações de abuso espiritual ao questionar uma liderança e receber como resposta que questionar esse líder é questionar o próprio Deus. Em outras situações, aqueles que perguntam recebem respostas demasiadamente simplistas para questões complexas: “Porque sim”.
Porém, quando olhamos para a Bíblia, não encontramos um Deus que proíbe as perguntas, ao contrário, encontramos muitos exemplos que nos convidam a contemplar e explorar a criação e a realidade por meio de perguntas e da curiosidade e ir mais fundo em conhecimento, entendimento e sabedoria que são dados pelo Senhor (Pv 2.6).
No Antigo Testamento, no livro de Jó, vemos um homem que sofre ao indagar a Deus diversas vezes sobre seu plano, propósito sabedoria e desígnio (9.15-17; 12.4; 13:22; 23.5; 30.20; 31.35; 38.2), e quando Deus reaparece no final do livro, ele não diz simplesmente: “Como ousas fazer perguntas para mim?!” O que ele faz é devolver a Jó inúmeras questões como quem diz “Não vou te entregar tudo de mão beijada. Vamos trabalhar por meio de perguntas! Quero que você explore o conhecimento”. É por meio de perguntas que Deus conduz Jó a uma nova perspectiva sobre seu governo providencial.
De semelhante modo, no Novo Testamento vemos Jesus inúmeras vezes envolvido em diálogo com perguntas: Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa? Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Que é mais fácil dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou: ‘Levante-se e ande’? Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá? Jesus também acolhe aqueles que chegam a ele com dúvidas, como quando conversa com Nicodemos. Por outro lado, ele é bem duro com aqueles que afirmam possuir todas as respostas, os chamados homens da lei: “Guias cegos! Vocês coam um mosquito e engolem um camelo” (Mt 23.24).
Certa vez, durante um encontro com minha mentora, compartilhei algumas dúvidas que tinha e buscas por respostas. Ela sugeriu que eu não perguntasse às pessoas simplesmente o que elas pensavam acerca do tema, mas que perguntasse como elas chegaram àquela conclusão. Precisamos aprender a questionar e fazer perguntas que nos ajudem a ir cada vez mais fundo, e não apenas riscar a superfície – como Jesus fazia, e como também aprendemos a fazer nas universidades.
Fazer perguntas também pode ser uma prática espiritual muito importante para desenvolver o nosso relacionamento com Deus, para não apenas comprarmos a fé que nos foi entregue a nós por alguém. E foi pensando nisso que decidimos colocar como tema da mesa central do Colaboratório: encontro de pesquisadores cristãos, dúvida, porque acreditamos que nessa intersecção entre fé e ciências, o ato de questionar pode ser mais do que uma disciplina espiritual individual com Deus, mas uma forma coletiva de conhecer ao Criador e de inspirar perguntas com os outros para compartilhar as boas novas, a exemplo de Jesus.
Agora é com você! Quais são as perguntas que têm rondado sua mente?
- Deborah Vieira é poeta, com graduação em Letras (UFPel) e mestrado em Literatura e Estudos Culturais (UFJF). Faz parte da Aliança Bíblica Universitária e é uma das catalisadoras da Iniciativa Logos e Cosmos da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES na sigla em inglês) para a América Latina.

A matéria de capa desta edição convida o leitor ao exercício da doxologia: a afirmação vibrante sobre o que Deus é e o que ele faz. Uma afirmação que traduz a nossa opinião sobre Deus forjada pelas Escrituras e pelas experiências com ele. Isso vai contra a correnteza do mundo em que vivemos, tão pouco propício à solitude, à contemplação e à adoração.
Saiba mais:
» O Teste da Fé – Os cientistas também creem, Ruth Bancewicz
» Verdadeiros Cientistas, Fé Verdadeira, Francis Collins, Alister McGrath, John Houghton, R. J. Berry (Org.)
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