Opinião
- 17 de março de 2020
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Ciência e Bíblia se contradizem?
Por Ruth Bancewicz
Quando criança, Rosalind Picard, professora de Ciência da Computação no MIT, foi incentivada por um vizinho a ler a Bíblia – começando com o livro de Provérbios. Ela esperava encontrar histórias fantásticas, mas achou profundamente sábio. Ela continuou a ler a Bíblia inteira e se viu mudando em resposta ao que lia. Mais tarde, ela descreveu o tempo como “uma experiência de que alguém ou algo está falando com você”. Quando você conversa com alguém, se estiver disposto a realmente ouvir, também estará aberto a ser verdadeiramente transformado. Rosalind gostava de coisas que a colocavam para pensar. Ela começou a questionar suas suposições sobre o cristianismo e, embora muito tempo passou até que se tornasse cristã, essa jornada começou para ela com a Bíblia.
Para um cristão, a Bíblia é a palavra de Deus para nós; nos fala sobre o caráter e os propósitos criativos de Deus, como ele se relacionou com as pessoas no passado e suas promessas para o futuro. A ciência é uma maneira específica de estudar o mundo, explorando as propriedades físicas das coisas – uma maneira maravilhosa de explorar a criação de Deus. Com isso em mente, se a Bíblia e a ciência parecem estar se contradizendo, certamente cometemos um erro ao interpretar uma ou outra.
A ciência é muito boa em responder a certos tipos de perguntas: ‘Qual é o tamanho?’, ‘Qual a velocidade da viagem?’, ‘Do que é feita?’, e assim por diante. Perguntas como “Para que serve?”, “O que devo fazer com isso?” e “Quanto vale?” não podem ser respondidas usando métodos científicos. Grande parte do mal-entendido nas discussões sobre ciência e religião advém do não reconhecimento dos limites da ciência.
Algumas pessoas responderam ao cientificismo – a tentativa de usar a ciência como uma filosofia de vida – rejeitando ou encontrando falhas na ciência. O resultado é que uma definição falsa de ciência é reforçada, e outros acham que precisam escolher entre ciência e fé cristã. Uma solução mais proveitosa é lembrar a nós mesmos o que é a ciência, afirmar seus grandes sucessos e rejeitar quaisquer alegações que ultrapassem os limites do que ela foi projetada para fazer.
Também é importante reconhecer o que é a Bíblia e que tipo de perguntas ela pode responder. Eu acredito que a Bíblia é verdadeira e que seus escritores foram inspirados por Deus para escrever palavras que ainda são relevantes hoje. O Novo Testamento contém relatos da vida de Jesus na Terra, seus ensinamentos, morte e ressurreição; o crescimento e ensino da igreja primitiva; e promessas sobre as ações de Deus no futuro – todas baseadas na revelação de Deus sobre si mesmo e seus propósitos, conforme descrito no Antigo Testamento.
O Antigo Testamento contém vários relatos sobre a criação de Deus e das ações criativas em andamento no mundo e suas interações com o povo de Israel e seus vizinhos; canções de louvor e adoração; palavras de sabedoria; e profecias que se aplicavam ao futuro imediato dos israelitas e também a eventos futuros.
A Bíblia foi escrita bem antes de as pessoas começarem a investigar o mundo de maneiras que reconheceríamos como científicas. É claro que as pessoas do Antigo Oriente Próximo estudavam o mundo à sua volta, observando os movimentos das estrelas, os processos de vida e morte que aconteciam ao seu redor, as estações do ano, o comportamento de objetos físicos e assim por diante. Mas eles não estudaram os mecanismos subjacentes a essas coisas sistematicamente usando as ferramentas da ciência, e não viram ou descreveram o mundo em termos científicos – não porque não eram inteligentes, mas porque a ciência como a conhecemos não estava acontecendo naquele tempo.
Em vez disso, os escritores bíblicos usavam palavras que eram comumente usadas em suas próprias culturas para registrar eventos, compartilhar verdade e sabedoria e contar histórias que transmitem profunda verdade sobre o caráter de Deus. Se queremos entender a intenção de Deus em inspirar essas palavras, precisamos fazer um trabalho cuidadoso para nos conectar com esses escritores antigos e descobrir o que elas significaram, antes que possamos descobrir o que essas palavras significam para nós hoje.
O estudioso bíblico N. T. Wright escreveu em seu livro Simplesmente Cristão (Ultimato, 2008):
“A interpretação da Bíblia permanece, então, uma tarefa enorme e maravilhosa. É por isso que precisamos nos envolver na medida em que tivermos tempo e capacidade. Devemos fazer isso não apenas individualmente, mas também através de um estudo cuidadoso e sob oração dentro da vida na igreja, onde diferentes membros terão diferentes habilidades e conhecimentos para ajudar. A única regra certa é lembrar que a Bíblia é realmente um presente de Deus para a igreja, para equipá-la para sua obra no mundo; e esse estudo sério pode e deve se tornar um dos lugares onde, e os meios pelos quais, o céu e a terra se entrelaçam, e os propósitos futuros de Deus chegam ao presente.“
Acredito que esses princípios podem nos ajudar a ter conversas muito mais proveitosas sobre ciência e fé cristã. Como a professora Picard, se permitirmos que conflitos aparentes estimulem nossa busca por entendimento, não apenas aprenderemos como indivíduos, mas também atrairemos outros para uma conversa que é mais relevante para a sociedade em geral hoje.
• Ruth Bancewicz é Diretora de Engajamento da Igreja no Instituto Faraday de Ciência e Religião, onde sua missão é ajudar a Igreja do Reino Unido a interagir com a ciência de uma maneira útil. Ela estudou Genética nas universidades de Aberdeen e Edimburgo e passou dois anos como pesquisadora em período parcial no Wellcome Trust Center for Cell Biology, em Edimburgo, enquanto também trabalhava para a Associação Christians in Science do Reino Unido. Ela se juntou ao Instituto Faraday quando foi fundada em 2006, com o objetivo de desenvolver recursos para as igrejas – a primeira das quais foram os materiais do livro O Teste da Fé (Ultimato, 2013). Ruth é membro da Christians in Science e membro do seu homólogo americano, a American Scientific Affiliation.
Nota: Texto publicado originalmente no site da ABC². Reproduzido com permissão. Original em inglês aqui.
Traduzido por Tiago Garros.
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