Opinião
- 19 de outubro de 2018
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Certezas ideológicas, não; perguntas teológicas, sim!
Por Gerson Borges
O que quer dizer o termo ideologia? O conceito, complexo, remonta aos filósofos alemães Hegel e Marx. Minimamente, poderíamos dizer que cada época tem suas crises político-sociais que geram ideias variadas. Sendo assim, a palavra ideologia significa muita coisa, mas pode ser entendida, grosso modo, como sendo o conjunto de ideias de um indivíduo ou grupo social ou o uso de um ideário com interesses e intenções políticas. Podemos falar de ideologia de esquerda ou de direita, por exemplo. De marxismo, socialismo ou de neoliberalismo e capitalismo, ou ainda de conservadorismo e fascismo. Não tenho nem o espaço nem o preparo – nem quero – para discutir tudo isso aqui, contrapor Adam Smith e Karl Marx.
O que desejo, acredite, é minimamente mostrar a complexidade envolvida no debate e a necessidade de levarmos tudo isso em conta ao assumir, no exercício da fé cristã e da plena cidadania, quaisquer posições políticas. Sobretudo, ao reconhecer o que as Escrituras Sagradas têm a dizer e prescrever aos cristãos, sabemos que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação daquele que crê (Rm 1.16). A grande revolução mesmo, a verdadeira, é o poder redentor que emana da Cruz de Cristo. Se assim fizermos, buscaremos em primeiro lugar, não nossos interesses - sobretudo nosso bem-estar material e econômicos – mas “o Reino de Deus e a sua Justiça” (Mt 6.33).
Como nos lembra o filósofo cristão inglês Peter Kreeft, a armadilha do pensamento ideológico está no fato de que as suas categorias são por demais “abrangentes e dizem respeito à economia de pensamento, à resposta automática que nos permite evitar ponderar sobre o mérito de cada questão”. O que ele quer dizer é simples - o pensamento ideológico é uma conveniência preguiçosa e rasa! A elaboração de uma ética cristã potente exige muito mais. Por exemplo, quando um cristão defende biblicamente o cuidado prioritário dos mais pobres ele é taxado de esquerdista, comunista, bolivariano, castrista. Quando o mesmo cristão afirma casamento e a família como afirmado nas Escrituras, isto é, a união monogâmica entre um homem e uma mulher, ele é um conservador obtuso de direita. Como alguém pode ser a um só tempo duas coisas? Eis o problema. É possível.
O Cristianismo, quando empurrado para dentro da camisa-de-força da ideologia produz uma ebulição de contradições internas. Porque não pode ser contido pelas mesmas. Jamais caberá nessa armadilha.
Recorro a C. S. Lewis. No seu clássico Cristianismo puro e simples, o grande escritor cristão contribui brilhantemente ao que estamos argumentando ao mostrar o quão artificial pode ser o caminho do pensamento polarizado. Ele nos recorda que moralidade tudo inclui - seja qual for o âmbito da vida humana em questão. A direita dita cristã enfatizará ardorosamente a moralidade sexual, enquanto a esquerda que se declara cristã, a ação social. Moralidade é moralidade, ele insiste. Não há um tipo especial. Um cristão deve preocupar-se em viver moral e eticamente em todas as dimensões da vida.
Ponto final. Em outra das suas obras primas, Cartas de um diabo a seu aprendiz, Lewis mostra que uma das artimanhas mais diabólicas para impedir que os homens abracem uma postura realmente ética, é ficarmos inertes, em um estéril questionamento, do tipo, “é progressivo ou reacionário? É o modo como a história se desenrola?” ao invés de perguntar: “É correto? É justo? É prudente? É possível?”. Sim, ideologia, assim como a fé, sem obras, é morta. Esterilidade. Fogo intelectual de palha. Lixo.
É preciso, portanto, tomar cuidado aqui. Eu insisto – cuidado! Mais específica é a seguinte advertência e admoestação de Peter Kreeft: “O perigo especial da direita religiosa é adorar as doutrinas de Cristo em vez de Cristo, confundindo o sinal com a coisa representada. A direita está absolutamente certa em insistir nos absolutos. Mas o dedo aponta para a lua; devemos ter compaixão do tolo que confunde o dedo com a lua. O perigo especial da esquerda religiosa é adorar os valores de Cristo em vez de Cristo. Os valores de Cristo são apenas o dedo que aponta para ele”.
O equilíbrio nesse sentido não está “no meio” – não na política ou nos candidatos do centro – não é isso que estou querendo dizer! A equidade está no equilíbrio do meio/centro, no que houver de bíblico nos polos, nos dois pratos da balança. De fato, podemos abraçar princípios ideologicamente contraditórios e/ou complementares. E isso é bom. Mostra a complexidade do ser humano. A ética cristã é maior que as camisas de força da ideologia. Apenas do ponto de vista daquele que é reto podemos julgar o que é distorcido. Cristo é o reto, a linha de prumo – quando Ele é conhecido de forma explícita, por meio da revelação divina, e quando Ele é conhecido de forma implícita, por meio da consciência e da lei natural. Ele faz todas as coisas voltarem à ordem natural de Deus para julgar as desordens não-naturais do homem. Por essa razão, ele também faz isso com a política. Interesses considerados apropriados e éticos tanto de esquerda quando de direita são reunidos e reconhecidos na política de Jesus – expressão que examinaremos à frente. Jesus não cabe nas nossas caixinhas humanas.
J. K. Galbraith, o célebre filósofo e economista de Harvard, é muito mais que irônico ao notar que “no capitalismo, o homem explora o homem. No comunismo, é apenas o contrário”. O Comunismo perdeu, mas o Capitalismo não triunfou.
Eu dou risada dos, sei lá, quase trinta partidos políticos desse nosso sistema risível e insustentável. Existem igual números de ideologias?
Leia mais
» Poucos, mas não alienados
» Conselhos de Stott sobre cristianismo e política
» C. S. Lewis em tempo eleição: A tentação de dizer “Assim diz o Senhor” quando conversamos sobre política
O que quer dizer o termo ideologia? O conceito, complexo, remonta aos filósofos alemães Hegel e Marx. Minimamente, poderíamos dizer que cada época tem suas crises político-sociais que geram ideias variadas. Sendo assim, a palavra ideologia significa muita coisa, mas pode ser entendida, grosso modo, como sendo o conjunto de ideias de um indivíduo ou grupo social ou o uso de um ideário com interesses e intenções políticas. Podemos falar de ideologia de esquerda ou de direita, por exemplo. De marxismo, socialismo ou de neoliberalismo e capitalismo, ou ainda de conservadorismo e fascismo. Não tenho nem o espaço nem o preparo – nem quero – para discutir tudo isso aqui, contrapor Adam Smith e Karl Marx.
O que desejo, acredite, é minimamente mostrar a complexidade envolvida no debate e a necessidade de levarmos tudo isso em conta ao assumir, no exercício da fé cristã e da plena cidadania, quaisquer posições políticas. Sobretudo, ao reconhecer o que as Escrituras Sagradas têm a dizer e prescrever aos cristãos, sabemos que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação daquele que crê (Rm 1.16). A grande revolução mesmo, a verdadeira, é o poder redentor que emana da Cruz de Cristo. Se assim fizermos, buscaremos em primeiro lugar, não nossos interesses - sobretudo nosso bem-estar material e econômicos – mas “o Reino de Deus e a sua Justiça” (Mt 6.33).
Como nos lembra o filósofo cristão inglês Peter Kreeft, a armadilha do pensamento ideológico está no fato de que as suas categorias são por demais “abrangentes e dizem respeito à economia de pensamento, à resposta automática que nos permite evitar ponderar sobre o mérito de cada questão”. O que ele quer dizer é simples - o pensamento ideológico é uma conveniência preguiçosa e rasa! A elaboração de uma ética cristã potente exige muito mais. Por exemplo, quando um cristão defende biblicamente o cuidado prioritário dos mais pobres ele é taxado de esquerdista, comunista, bolivariano, castrista. Quando o mesmo cristão afirma casamento e a família como afirmado nas Escrituras, isto é, a união monogâmica entre um homem e uma mulher, ele é um conservador obtuso de direita. Como alguém pode ser a um só tempo duas coisas? Eis o problema. É possível.
O Cristianismo, quando empurrado para dentro da camisa-de-força da ideologia produz uma ebulição de contradições internas. Porque não pode ser contido pelas mesmas. Jamais caberá nessa armadilha.
Recorro a C. S. Lewis. No seu clássico Cristianismo puro e simples, o grande escritor cristão contribui brilhantemente ao que estamos argumentando ao mostrar o quão artificial pode ser o caminho do pensamento polarizado. Ele nos recorda que moralidade tudo inclui - seja qual for o âmbito da vida humana em questão. A direita dita cristã enfatizará ardorosamente a moralidade sexual, enquanto a esquerda que se declara cristã, a ação social. Moralidade é moralidade, ele insiste. Não há um tipo especial. Um cristão deve preocupar-se em viver moral e eticamente em todas as dimensões da vida.
Ponto final. Em outra das suas obras primas, Cartas de um diabo a seu aprendiz, Lewis mostra que uma das artimanhas mais diabólicas para impedir que os homens abracem uma postura realmente ética, é ficarmos inertes, em um estéril questionamento, do tipo, “é progressivo ou reacionário? É o modo como a história se desenrola?” ao invés de perguntar: “É correto? É justo? É prudente? É possível?”. Sim, ideologia, assim como a fé, sem obras, é morta. Esterilidade. Fogo intelectual de palha. Lixo.
É preciso, portanto, tomar cuidado aqui. Eu insisto – cuidado! Mais específica é a seguinte advertência e admoestação de Peter Kreeft: “O perigo especial da direita religiosa é adorar as doutrinas de Cristo em vez de Cristo, confundindo o sinal com a coisa representada. A direita está absolutamente certa em insistir nos absolutos. Mas o dedo aponta para a lua; devemos ter compaixão do tolo que confunde o dedo com a lua. O perigo especial da esquerda religiosa é adorar os valores de Cristo em vez de Cristo. Os valores de Cristo são apenas o dedo que aponta para ele”.
O equilíbrio nesse sentido não está “no meio” – não na política ou nos candidatos do centro – não é isso que estou querendo dizer! A equidade está no equilíbrio do meio/centro, no que houver de bíblico nos polos, nos dois pratos da balança. De fato, podemos abraçar princípios ideologicamente contraditórios e/ou complementares. E isso é bom. Mostra a complexidade do ser humano. A ética cristã é maior que as camisas de força da ideologia. Apenas do ponto de vista daquele que é reto podemos julgar o que é distorcido. Cristo é o reto, a linha de prumo – quando Ele é conhecido de forma explícita, por meio da revelação divina, e quando Ele é conhecido de forma implícita, por meio da consciência e da lei natural. Ele faz todas as coisas voltarem à ordem natural de Deus para julgar as desordens não-naturais do homem. Por essa razão, ele também faz isso com a política. Interesses considerados apropriados e éticos tanto de esquerda quando de direita são reunidos e reconhecidos na política de Jesus – expressão que examinaremos à frente. Jesus não cabe nas nossas caixinhas humanas.
J. K. Galbraith, o célebre filósofo e economista de Harvard, é muito mais que irônico ao notar que “no capitalismo, o homem explora o homem. No comunismo, é apenas o contrário”. O Comunismo perdeu, mas o Capitalismo não triunfou.
Eu dou risada dos, sei lá, quase trinta partidos políticos desse nosso sistema risível e insustentável. Existem igual números de ideologias?
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Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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