Opinião
- 22 de março de 2023
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Castidade e virgindade versus vulgaridade sexual na abordagem linguística
Por Paulo Ribeiro
Em carta dirigida ao seu irmão, em 1940, C. S. Lewis descreveu assim a aula dada em Oxford pelo seu amigo, o poeta, romancista e teólogo, Charles Williams:
“Na segunda-feira, Charles Williams não deu uma palestra apenas sobre o deus grego Como (ou Kómos), mas realmente sobre castidade. Simplesmente como crítica foi extraordinária - porque aqui estava um homem que realmente começou a partir do mesmo ponto de vista de Milton e genuinamente se preocupou com cada fibra de seu ser sobre “a sábia e séria doutrina da castidade” que nunca ocorreria ao crítico moderno comum de levar a sério.
Lewis vai adiante e escreve:
“Mas a palestra foi ainda mais importante como sermão. Foi lindo ver aquela sala inteira cheia de jovens modernos, homens e mulheres sentados em silêncio absoluto, que não pode ser fingido, talvez se sentindo um pouco confusos, mas aparentemente encantados. Talvez com algo semelhante ao mesmo sentimento que uma palestra sobre a falta de castidade poderia ter evocado nos seus avós — um assunto proibido finalmente abordado. Ele os compeliu a pensar e eu acho que muitos, no final, gostaram do sabor mais do que esperavam“.
E finalmente completa o trecho da carta dizendo:
“Me conscientizei que aquela bela sala artisticamente esculpida provavelmente não tinha testemunhado nada tão importante desde algumas das grandes conferências medievais ou da Reforma. Eu finalmente, se apenas uma vez, vi uma universidade fazendo o que foi fundada para fazer: ensinar Sabedoria. E que poder maravilhoso existe no recurso direto que desconsidera o clima provisório de opinião — eu me pergunto se é o caso de que o homem que tem a audácia de se levantar em qualquer sociedade corrupta e pregar abertamente justiça ou valor ou algo semelhante sempre vence?”.
Sempre que vejo anúncios de pastores evangélicos falando sobre sexo lembro dessa citação. Pois enquanto Williams falava da importância da doutrina da castidade sem se preocupar com o que a cultura da época considerava importante, a grande maioria dos pastores escolhem assuntos e títulos que satisfazem as audiências e monetizam seus vídeos, não pelo valor inerente do conteúdo. Entre os títulos mais populares, estão: “Sexo oral é pecado?”. Na verdade, esse tópico está entre os mais acessados no youtube por evangélicos.
A castidade é uma escolha pessoal e um estilo de vida que envolve abster-se de atividade sexual ou limitar o comportamento sexual. Pode ser visto como um dom, como em um relacionamento sério ou prática religiosa. Um tópico tão relevante, mas que é totalmente esquecido por aqueles que buscam monetização de seus vídeos e sermões. O resultado que buscam não é a transformação de outros com valores normativos cristãos, mas quanto vão receber.
Quanto a virgindade, há vários anos li um artigo excelente, escrito por Sarah E. Hinlicky, intitulado “Virgindade subversiva”, onde ela fala sobre sua decisão de manter a virgindade até o casamento:
“Talvez a virgindade pareça um pouco fria, até arrogante e sem coração. Mas a virgindade dificilmente tem direito exclusivo sobre esses defeitos, se é que tem algum direito. A promiscuidade oferece um destino significativamente pior. Tenho uma amiga muito querida que, infelizmente, é mais sábia sobre o mundo do que eu. Pelos padrões feministas libertinos, ela deveria estar orgulhosa de suas conquistas e pronta para mais, mas frequentemente não está. O insight mais revelador sobre a confusão de seu coração veio a mim uma vez em uma conversa, quando estávamos especulando sobre nosso futuro. Geralmente eles estão cheios de viagens e aventuras exóticas e PhDs. Desta vez, porém, não foram esses temas. Ela admitiu para mim que o que realmente queria era morar em uma fazenda na zona rural de Connecticut, criando uma horda de filhos e bordando panos de prato. É um sonho adorável, desafiadoramente pouco ambicioso e doméstico. Mas seus relacionamentos sexuais curtos e fracassados não a levaram mais perto de seu sonho e deixaram pouca esperança de que ela o alcançará. Devo ser honesta aqui: a virgindade também não me levou a uma fazenda na zona rural de Connecticut. A inocência sexual não é uma garantia contra uma decepção. Mas há uma diferença crucial: não perdi uma parte de mim para alguém que posteriormente a desprezou, rejeitou e talvez nunca tenha se importado com isso”.
Sarah vai além e diz:
“Espero sinceramente que a virgindade não seja um projeto de vida para mim. Muito pelo contrário, meu compromisso subversivo com a virgindade serve como preparação para outro compromisso, de amar um homem completa e exclusivamente. É certo que há uma pequena frustração em meu amor: ainda não o conheci (pelo menos não que eu saiba). Mas a esperança, que não decepciona, me sustenta”.
Que jovem corajosa, que não se deixa levar pela cultura e se mantém firme nas suas convicções.
Mas como entender essa tendência pela explicitude das práticas sexuais nos vídeos de pastores evangélicos? Qual deveria ser a abordagem mais sábia? Por que não escolher tópicos que mostrem e falem sobre castidade, virgindade, pureza, ou o que é o amor verdadeiro em suas várias dimensões: afeição, amizade, eros e ágape? A beleza e sublimidade do amor romântico verdadeiro etc?
Há alguns anos fiz uma palestra sobre vocação profissional para adolescentes numa igreja evangélica. Para minha surpresa a primeira pergunta veio de uma adolescente bem jovem, não mais que 14 anos de idade, que perguntou: “Professor, sexo oral é pecado?” Respondi que a palestra não era sobre esse assunto e que ela deveria falar com o pastor da igreja. Aonde chegamos?
A verdade é que banalizamos o sexo, ajustamos a mensagem à sociedade e ficamos chocados quando essa abordagem e linguagem vulgar se torna padrão mesmo entre jovens.
Recentemente lendo mais sobre Charles Williams, descobri um artigo de um professor de Oxford (Grevel Lindop), que mencionava as aulas de Williams incluindo a aula sobre castidade: “Cinquenta anos depois, os ex-alunos ainda se lembravam vividamente daquelas aulas — "Subindo os degraus em um salto e lançando-se direto para uma enxurrada de citações"; ‘dizendo aos alunos: Não importa o que o Sr. fulano diga sobre isso, leia o texto e pense por si mesmo!"; "declamando como um profeta do Antigo Testamento ou um pregador evangélico entusiástico"; "pulando de um lado do palco para o outro e representando por sua vez o papel de cada personagem de que estava falando";... totalmente absorto em seu fascínio pelo assunto"; ‘dizendo: A eternidade - te proíbe - de esquecer’. Resumindo, "Eletrizante!" Alguns desses alunos se tornaram professores de inglês e, ao longo de suas carreiras, voltaram às anotações dessas palestras em busca de inspiração”.
Então me pergunto: Será que daqui a cinquenta anos, ou mesmo cinco anos, os jovens de agora lembrarão desses vídeos de pastores evangélicos sobre práticas sexuais e retornarão aos vídeos em busca de inspirações? Tenho minhas dúvidas.
Que o Senhor produza em todos nós uma consciência moral, ética e de responsabilidade de como devemos apresentar as verdades fundamentais do Evangelho, não como marqueteiros, mercenários, negociantes em busca da melhor oferta, mas com sabedoria.
Talvez uma nova leitura de Provérbios e Eclesiastes nos ajude a entender porque Salomão nos convoca: “O conselho da sabedoria é: Procure obter sabedoria; use tudo o que você possui para adquirir entendimento” (Pv 4.7).
SEXO ESTRAGADO | REVISTA ULTIMATO
As minissaias da década de trinta foram substituídas por uma cultura hiperssexualizada, cuja expressão mais desastrosa é a pornografia, a que se tem acesso extremamente facilitado hoje. Meu avô e seu colega jamais imaginariam, por exemplo, a existência de “sexbots” – que exemplificam como a pornografia e o avanço tecnológico têm andado de mãos dadas. Esses robôs, feitos para satisfazer os desejos sexuais, aperfeiçoados com Inteligência Artificial, conseguem dizer aos seus parceiros: “Minhas prioridades são amar, honrar e respeitar. Eu amarei você para sempre”. Nem eles nem qualquer tipo de pornografia cumprem a promessa que fazem.
É disso que trata a matéria de capa da edição 372 da Revista Ultimato. Para ssinar, clique aqui.
As minissaias da década de trinta foram substituídas por uma cultura hiperssexualizada, cuja expressão mais desastrosa é a pornografia, a que se tem acesso extremamente facilitado hoje. Meu avô e seu colega jamais imaginariam, por exemplo, a existência de “sexbots” – que exemplificam como a pornografia e o avanço tecnológico têm andado de mãos dadas. Esses robôs, feitos para satisfazer os desejos sexuais, aperfeiçoados com Inteligência Artificial, conseguem dizer aos seus parceiros: “Minhas prioridades são amar, honrar e respeitar. Eu amarei você para sempre”. Nem eles nem qualquer tipo de pornografia cumprem a promessa que fazem.
É disso que trata a matéria de capa da edição 372 da Revista Ultimato. Para ssinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Sexo: Espiritualidade, Instinto e Cultura, Ageu Heringer Lisboa
» Antes de Casar – Nove passos para um casamento feliz, Leonora Celia Temple de Almeida Ciribelli
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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