Opinião
- 05 de outubro de 2010
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Carta aos pastores congressistas
Derval Dasilio
Caros pastores,
Acabamos de conferir os resultados. Os senhores foram reeleitos para o Congresso Nacional representando o expressivo “voto evangélico”. Seus eleitores ignoram que certas candidaturas “evangélicas” estiveram envolvidas com a corrupção. Se os demais, figurões da política nacional, magistrados, os acompanham, não interessa. Eles não são pastores ordenados para cuidarem do rebanho de Deus. O déficit político nacional já é muito grande. Não esperamos dos senhores que aprofundem o rombo. Já vimos pastor congressista pego com a boca na botija recebendo cheques vultuosos do crime organizado para ajudá-lo na campanha. Vimos o envolvimento comprovado de dezenas de pastores nas fraudes do sistema de saúde, por exemplo na famosa Operação Sanguessuga. Não foram punidos. Não sou eu quem afirma, mas a imprensa que acompanha suas carreiras políticas. Vimos figuras evangélicas, acusadas de roubo do erário, no camburão da polícia com a Bíblia na mão. Rima horrorosa, vergonha inominável. Vimos um senador em exercício preso por fraude e roubo do erário. Vimos um juiz evangélico que vendia sentenças e mandados de soltura de criminosos perigosos, pistoleiros e traficantes do crime organizado, preso enquanto acusado de mandante do assassinato de um jovem juiz federal que o investigava. Vimos pastores presos com milhões de reais transportados na mala do carro alegando serem ofertas da igreja, e outros flagrados por câmeras enchendo meias e cuecas de propina e suborno. Centenas de casos, todos envolvendo parlamentares e congressistas evangélicos.Alguns foram inocentados, assim como vários outros políticos apontados por corrupção e outros crimes, embora tenham alcançado o Jardim do Éden na política. Aproveitem a sua sorte. Mas cuidado se acham que são deuses. A impunidade geral talvez os favoreça, porém não à consciência pública. A vaidade não deixa reconhecer, talvez. Aliás, sobre o paraíso, têm-se muita dificuldade em compreender a inutilidade dos projetos humanos. Oram a Deus para que se livrem do pecado da soberba e da prepotência, além de agradecer a propina da corrupção? Não? Deviam fazê-lo.
Um amigo viajava com um parlamentar, vinham de Brasília. Perguntou-lhe como se sentia no Congresso. O político respondeu: “Sou um estranho no ninho”, sugerindo ser uma reserva moral da nação, como pastor evangélico. Tentação digna de Adão, guardião do paraíso (perdão, do Congresso Nacional). Querendo apresentar-se acima do bem e do mal, a agitação em torno de crimes sexuais no clero católico romano rende dividendos eleitorais preciosos.
Oferece garantia para reduzir a maioridade penal – por enquanto recusada como inconstitucional –, sem referir-se a quem induz ao crime ou explora a criança e o adolescente. Interessa punir o mais fraco e vulnerável. Generalização injusta, falácia retórica. Milhares de jovens entre 14 e 19 anos, adolescentes, são os que mais sofrem mortes violentas no Brasil. Por que vivem em situação de miséria e abandono; por que são identificados em locais sem saneamento; por que moram em favelas e cortiços entre 70 milhões de brasileiros; por que não têm educação de qualidade; por que habitam em cenários de morte e violência, são candidatos, todos, ao crime ou à delinquência? Devem ser ameaçados ou auxiliados pelo congressista que irá buscá-los na adolescência excluída?
Na verdade, eles precisam dos senhores para melhorar suas vidas, e de suas famílias e comunidades, e não para serem ainda mais oprimidos pela corrupção policial associada ao crime organizado. Continuarão a estimular a vingança darwiniana da sociedade contra os mais fracos, sabendo que há um imenso contingente de adolescentes inocentes que jamais poderão defender-se de acusações ou pressupostos de delinquência? Originários das classes privilegiadas chegarão ao banco dos réus, contrariando a regra?
Outra coisa que queremos lembrar-lhes: seu compromisso cristão e de pastores, quando ordenados ministros evangélicos. Certamente lhes foi lembrado que deveriam guardar o rebanho de Deus contra todas as ameaças. Que o grande inimigo do homem e da sociedade é a presunção humana de querer situar-se no lugar de Deus. Que pastores cuidam do bem comum, devendo voltar-se para os rebanhos dos vários redis, tendências, diferenças, o universo equilibrado segundo a criação de Deus. Que toda a sociedade, embora dividida, seja beneficiada pelo cuidado com a vida humana aviltada pela exclusão, fome e miséria, em favor da paz, nas diversas pastagens e lugares onde o equilíbrio possa ser turbado. Para que não vença o preconceito, a discriminação, os ódios entre grupos e pessoas. Sejam quais forem as suas crenças e religiões. Assim, a nação agradecerá, respeitando então o povo evangélico na política.
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Caros pastores,
Acabamos de conferir os resultados. Os senhores foram reeleitos para o Congresso Nacional representando o expressivo “voto evangélico”. Seus eleitores ignoram que certas candidaturas “evangélicas” estiveram envolvidas com a corrupção. Se os demais, figurões da política nacional, magistrados, os acompanham, não interessa. Eles não são pastores ordenados para cuidarem do rebanho de Deus. O déficit político nacional já é muito grande. Não esperamos dos senhores que aprofundem o rombo. Já vimos pastor congressista pego com a boca na botija recebendo cheques vultuosos do crime organizado para ajudá-lo na campanha. Vimos o envolvimento comprovado de dezenas de pastores nas fraudes do sistema de saúde, por exemplo na famosa Operação Sanguessuga. Não foram punidos. Não sou eu quem afirma, mas a imprensa que acompanha suas carreiras políticas. Vimos figuras evangélicas, acusadas de roubo do erário, no camburão da polícia com a Bíblia na mão. Rima horrorosa, vergonha inominável. Vimos um senador em exercício preso por fraude e roubo do erário. Vimos um juiz evangélico que vendia sentenças e mandados de soltura de criminosos perigosos, pistoleiros e traficantes do crime organizado, preso enquanto acusado de mandante do assassinato de um jovem juiz federal que o investigava. Vimos pastores presos com milhões de reais transportados na mala do carro alegando serem ofertas da igreja, e outros flagrados por câmeras enchendo meias e cuecas de propina e suborno. Centenas de casos, todos envolvendo parlamentares e congressistas evangélicos.Alguns foram inocentados, assim como vários outros políticos apontados por corrupção e outros crimes, embora tenham alcançado o Jardim do Éden na política. Aproveitem a sua sorte. Mas cuidado se acham que são deuses. A impunidade geral talvez os favoreça, porém não à consciência pública. A vaidade não deixa reconhecer, talvez. Aliás, sobre o paraíso, têm-se muita dificuldade em compreender a inutilidade dos projetos humanos. Oram a Deus para que se livrem do pecado da soberba e da prepotência, além de agradecer a propina da corrupção? Não? Deviam fazê-lo.
Um amigo viajava com um parlamentar, vinham de Brasília. Perguntou-lhe como se sentia no Congresso. O político respondeu: “Sou um estranho no ninho”, sugerindo ser uma reserva moral da nação, como pastor evangélico. Tentação digna de Adão, guardião do paraíso (perdão, do Congresso Nacional). Querendo apresentar-se acima do bem e do mal, a agitação em torno de crimes sexuais no clero católico romano rende dividendos eleitorais preciosos.
Oferece garantia para reduzir a maioridade penal – por enquanto recusada como inconstitucional –, sem referir-se a quem induz ao crime ou explora a criança e o adolescente. Interessa punir o mais fraco e vulnerável. Generalização injusta, falácia retórica. Milhares de jovens entre 14 e 19 anos, adolescentes, são os que mais sofrem mortes violentas no Brasil. Por que vivem em situação de miséria e abandono; por que são identificados em locais sem saneamento; por que moram em favelas e cortiços entre 70 milhões de brasileiros; por que não têm educação de qualidade; por que habitam em cenários de morte e violência, são candidatos, todos, ao crime ou à delinquência? Devem ser ameaçados ou auxiliados pelo congressista que irá buscá-los na adolescência excluída?
Na verdade, eles precisam dos senhores para melhorar suas vidas, e de suas famílias e comunidades, e não para serem ainda mais oprimidos pela corrupção policial associada ao crime organizado. Continuarão a estimular a vingança darwiniana da sociedade contra os mais fracos, sabendo que há um imenso contingente de adolescentes inocentes que jamais poderão defender-se de acusações ou pressupostos de delinquência? Originários das classes privilegiadas chegarão ao banco dos réus, contrariando a regra?
Outra coisa que queremos lembrar-lhes: seu compromisso cristão e de pastores, quando ordenados ministros evangélicos. Certamente lhes foi lembrado que deveriam guardar o rebanho de Deus contra todas as ameaças. Que o grande inimigo do homem e da sociedade é a presunção humana de querer situar-se no lugar de Deus. Que pastores cuidam do bem comum, devendo voltar-se para os rebanhos dos vários redis, tendências, diferenças, o universo equilibrado segundo a criação de Deus. Que toda a sociedade, embora dividida, seja beneficiada pelo cuidado com a vida humana aviltada pela exclusão, fome e miséria, em favor da paz, nas diversas pastagens e lugares onde o equilíbrio possa ser turbado. Para que não vença o preconceito, a discriminação, os ódios entre grupos e pessoas. Sejam quais forem as suas crenças e religiões. Assim, a nação agradecerá, respeitando então o povo evangélico na política.
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É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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- Lideranças evangélicas na política, por Derval Dasilio em 13/10/2010 às 12:23:11
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