Opinião
- 02 de março de 2009
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Carnaval: Santa Ceia com Jesus na avenida
Derval Dasilio
No dia 16 de fevereiro comprei o jornal “A Tribuna” que trazia a seguinte manchete: “Santa Ceia com Jesus na avenida”. Parece-me estranha essa mistura do religioso com o Carnaval. Como nós, cristãos protestantes, deveremos ver isso?
Como protestantes? Protestando! Os símbolos da fé cristã, ou como Calvino e Lutero diriam “meios da Graça”, como entendemos na celebração da Eucaristia, não deveriam ser tratados assim, com a leviandade das festas populares ou na exibição de algo próprio da intimidade requerida para a comunhão com o Corpo de Cristo (alimento para a salvação do mundo, onde se expressam sentimentos e sensações solidárias). Refiro-me à intimidade comunitária dos pecadores confessos que se alimentam da fé no Crucificado e esperam a comunhão do mundo inteiro na grande festa da libertação (Banquete do Reino de Deus).
No país do futebol e do Carnaval se come feijoada, muqueca (dobro os joelhos diante dessa iguaria capixaba), pato ao tucupi, churrasco, tambaqui. Se dança samba, forró, rock, reggae, funk, gospel e tal, mas “comunhão” da boa nada. Queremos ver a comunhão para transformar a injustiça no mundo, acabar com a exclusão e promover a solidariedade, como a Ceia do Senhor indica. Pobres e ricos dançam juntos os quatro dias do Carnaval, simulam a superação das diferenças. E depois? Depois vão torcer pelo Flamengo ou Vasco, Coríntians ou Palmeiras, Grêmio ou Internacional, Atlético ou Cruzeiro… não é mesmo?
Como expressar no meio da rua uma comunhão que não existe entre evangélicos e protestantes? A Eucaristia, eu creio, não é privativa de indivíduos nem é um espetáculo de falsa comunhão. Se fosse assim, comunhão de “massa”, por que ela não comungaria com as transformações propostas no culto, na Eucaristia, na ação de graças pela presença do Ressuscitado na vida do povo? Por que não se admitiriam os pecados estruturais na sociedade inteira, injusta, irresponsável, impiedosa, sem misericórdia e compaixão? Por que se esconde o pecado ideológico na cultura religiosa protestante e “evangélica”, também chamada cristã, com todos os seus abusos e heresias gritantes, carregada de magia, superstições e crendices?
Jesus disse, segundo palavras introdutórias à Santa Ceia (1Cor 11), e também no Evangelho: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida no mundo”. Melhor traduzindo: “Aquele que não come da minha carne (minha causa) não tem comunhão comigo”. Esforço-me no sentido (Jo 6.51-58). Os discípulos de Emaús também reconheceram Jesus “no partir do pão”: “Ele está no meio de nós!”. Calvino também disse que temos, realmente, a presença do Cristo ressurreto na comunhão da Santa Ceia.
Mário de Andrade deixou-nos uma parábola maravilhosa com “Macunaíma”. Quem viu Grande Otelo, no filme de Joaquim Pedro de Andrade, vai lembrar-se desse desgraçado símbolo da alma brasileira: Macunaíma alimenta-se da própria carne! Quem sabe essa “Santa Ceia” no Carnaval não apontará quem come a própria carne no meio da rua? Nas Câmaras de Deputados e de Vereadores, no Congresso Nacional, têm “blocos evangélicos”. Agora teremos o “bloco dos evangélicos” desfilando na avenida, celebrando uma comunhão não se sabe com o quê? Os demônios embutidos nas ideologias religiosas estão soltos no meio em que vivemos. Quem diria, evangélicos, além de fundamentalistas literalistas, cultuam também os ídolos da cultura popular (como o Rei Momo). Será também a hora do “descarrego” em praça pública? Evangélicos também necessitariam de conversão à fé no Deus libertador atuando na religião alienada? Haverá reconciliação com a fé no Ressuscitado que o “partir do pão” expressa? Sendo assim... amém.
“Elevemos os nossos corações!” (Rito da Liturgia da Ceia do Senhor, Kyrie Eleisson)
No dia 16 de fevereiro comprei o jornal “A Tribuna” que trazia a seguinte manchete: “Santa Ceia com Jesus na avenida”. Parece-me estranha essa mistura do religioso com o Carnaval. Como nós, cristãos protestantes, deveremos ver isso?
Como protestantes? Protestando! Os símbolos da fé cristã, ou como Calvino e Lutero diriam “meios da Graça”, como entendemos na celebração da Eucaristia, não deveriam ser tratados assim, com a leviandade das festas populares ou na exibição de algo próprio da intimidade requerida para a comunhão com o Corpo de Cristo (alimento para a salvação do mundo, onde se expressam sentimentos e sensações solidárias). Refiro-me à intimidade comunitária dos pecadores confessos que se alimentam da fé no Crucificado e esperam a comunhão do mundo inteiro na grande festa da libertação (Banquete do Reino de Deus).
No país do futebol e do Carnaval se come feijoada, muqueca (dobro os joelhos diante dessa iguaria capixaba), pato ao tucupi, churrasco, tambaqui. Se dança samba, forró, rock, reggae, funk, gospel e tal, mas “comunhão” da boa nada. Queremos ver a comunhão para transformar a injustiça no mundo, acabar com a exclusão e promover a solidariedade, como a Ceia do Senhor indica. Pobres e ricos dançam juntos os quatro dias do Carnaval, simulam a superação das diferenças. E depois? Depois vão torcer pelo Flamengo ou Vasco, Coríntians ou Palmeiras, Grêmio ou Internacional, Atlético ou Cruzeiro… não é mesmo?
Como expressar no meio da rua uma comunhão que não existe entre evangélicos e protestantes? A Eucaristia, eu creio, não é privativa de indivíduos nem é um espetáculo de falsa comunhão. Se fosse assim, comunhão de “massa”, por que ela não comungaria com as transformações propostas no culto, na Eucaristia, na ação de graças pela presença do Ressuscitado na vida do povo? Por que não se admitiriam os pecados estruturais na sociedade inteira, injusta, irresponsável, impiedosa, sem misericórdia e compaixão? Por que se esconde o pecado ideológico na cultura religiosa protestante e “evangélica”, também chamada cristã, com todos os seus abusos e heresias gritantes, carregada de magia, superstições e crendices?
Jesus disse, segundo palavras introdutórias à Santa Ceia (1Cor 11), e também no Evangelho: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida no mundo”. Melhor traduzindo: “Aquele que não come da minha carne (minha causa) não tem comunhão comigo”. Esforço-me no sentido (Jo 6.51-58). Os discípulos de Emaús também reconheceram Jesus “no partir do pão”: “Ele está no meio de nós!”. Calvino também disse que temos, realmente, a presença do Cristo ressurreto na comunhão da Santa Ceia.
Mário de Andrade deixou-nos uma parábola maravilhosa com “Macunaíma”. Quem viu Grande Otelo, no filme de Joaquim Pedro de Andrade, vai lembrar-se desse desgraçado símbolo da alma brasileira: Macunaíma alimenta-se da própria carne! Quem sabe essa “Santa Ceia” no Carnaval não apontará quem come a própria carne no meio da rua? Nas Câmaras de Deputados e de Vereadores, no Congresso Nacional, têm “blocos evangélicos”. Agora teremos o “bloco dos evangélicos” desfilando na avenida, celebrando uma comunhão não se sabe com o quê? Os demônios embutidos nas ideologias religiosas estão soltos no meio em que vivemos. Quem diria, evangélicos, além de fundamentalistas literalistas, cultuam também os ídolos da cultura popular (como o Rei Momo). Será também a hora do “descarrego” em praça pública? Evangélicos também necessitariam de conversão à fé no Deus libertador atuando na religião alienada? Haverá reconciliação com a fé no Ressuscitado que o “partir do pão” expressa? Sendo assim... amém.
“Elevemos os nossos corações!” (Rito da Liturgia da Ceia do Senhor, Kyrie Eleisson)
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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