Opinião
- 22 de janeiro de 2016
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C.S. Lewis puro e simples
Gente de todo o Brasil (e de fora) me procura pelas diferentes mídias, com as mais variadas perguntas sobre C.S. Lewis. Alguns são apenas curiosos, outros são estudantes em busca de orientação na vasta obra de Lewis, na ilusão de que eu possa dar uma resposta fácil para as suas pretensões de encarar o homem em um TCC ou trabalho escolar.
Outros já vêm com temas mais delimitados, que, assim, me ajudam um pouco mais a ajudá-los. Para isso, muitos procuram me conquistar e favorecer uma resposta, chamando-me de “especialista” no assunto. Isso muito me lisonjeia, mas depois de mais de vinte anos de pesquisa, uma tese e alguns escritos sobre ele, estou muito longe de me considerar uma “especialista” em C.S. Lewis.
E quero que saibam que isso é totalmente desnecessário, pois o que estiver em meu alcance para promover o pensamento desse autor, no Brasil e além dele, eu farei. Encaro isso como uma espécie de missão a mim confiada e que só pude cumprir até agora (e o poderia fazer daqui pra frente) pela graça e para a glória do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo, a quem Lewis servia de todo o coração.
Então, resolvi, nessas linhas, dar um recado a todos os fãs, opositores, curiosos e interessados de todos os tipos. Mas para isso, vou antes dar alguns exemplos. A última pergunta que me fizeram foi se Lewis já foi adepto dos Testemunhas de Jeová, porque um professor do seu seminário de teologia o teria alegado. Pela sua bizarrice, muito me interessou a fonte da informação, mas aí eu teria que falar com o tal professor e fujo de meandros institucionais como o diabo da cruz.
Uma coisa é certa: Lewis namorou com seitas e crenças antes de se tornar cristão, o que é verdade também para outros grandes expoentes do cristianismo, desde Agostinho (suspeito, contudo, que os Testemunhas de Jeová não fariam o estilo dele.
Mas penso que questões como essa e outras, relativas às suas crenças específicas antes e depois da conversão (sobre a inerrância da Bíblia, o pós-morte, criação versus evolução, o livre-arbítrio, se ele acreditava em duendes, extraterrestres, e se ele teria se deparado com o Satanás) são muito interessantes, mas estão mal formuladas e passam ao largo do sentido da mensagem lewisiana.
Lewis não se importava com categorias e questões secundárias do Cristianismo. Como lemos em “Cristianismo Puro e Simples” - um tratado de questões primárias - ele o via como uma casa com um hall de entrada, que dá para vários cômodos, cada um deles representando uma vertente do cristianismo e suas respectivas convicções. E adverte que o hall mesmo não serve para habitação: como seres humanos limitados que somos, não podemos abarcar a totalidade do cristianismo e sua diversidade. Temos que optar por uma de suas vertentes - o que nos torna vulneráveis e sem qualquer direito de nos assumirmos como donos da verdade.
Ele sempre lutou para que os adeptos de tais vertentes, ao invés de ficarem discutindo sobre essa ou aquela interpretação das Escrituras, essa ou aquela crença - que é uma pura perda de tempo - se unissem em torno das coisas essenciais ao Cristianismo.
Desculpem-me, mas nenhuma das questões das que me foram enviadas até hoje, seja em forma de pergunta sincera, às vezes ingênua, seja em forma de acusação contra Lewis, girou em torno dos aspectos essenciais do Cristianismo. Só posso concluir disso que o público leitor ainda não lê o suficiente e da maneira correta, não apenas Lewis.
Aliás, sabem como eu penso que Lewis responderia a cada uma delas? Primeiro pedindo licença para ter a sua própria opinião sobre elas sem ser automaticamente categorizado como arauto de liberalismo (acusação frequente), fundamentalismo (acusação um pouco menos frequente) ou qualquer outro “ismo”. Ele era contra os “ismos” por definição: com a honrosa e exclusiva exceção do Cristianismo (puro e simples).
Depois, ele escreveria uma poesia ou remeteria a uma, ou, melhor ainda, a algum trecho da Bíblia em forma poética, pois só a poesia é capaz de dar expressão aos mistérios mais profundos da realidade criada por Deus.
Como se lê no trecho do livro imperdível Lendo os Salmos, tão oportunamente lançado pela Editora Ultimato: “a poesia é também uma pequena encarnação que dá corpo ao que outrora foi invisível e inaudível” (p. 13).
Então, o recado é: não adianta querer dar conta de Lewis com fórmulas mágicas, insistir em encaixá-lo em categorias dualistas ou querer abordá-lo de maneira simplista e reducionista. Lewis tinha visões simples (e não simplistas ou fáceis), que entendo como opostas de complicadas e intrincadas, mas não como opostas de complexas. Aliás, a arte de ser simples e complexo ao mesmo tempo é uma das coisas que me encanta nele.
Suas ideias são puras e simples ainda, no sentido de claras, honestas e sinceras, humildes, diretas, realistas, sábias e justas. Mas são complexas, por serem críticas, inter- e transdisciplinares, polissêmicas, bem dosadas e equilibradas, não-dualistas e não-maniqueístas. Acima de tudo, elas respeitam o mistério que há em coisas que não têm uma resposta ou explicação única e cabal, pois a coisa de que ele mais entendia - e ele não entendia de pouca coisa - era, na minha opinião, do mistério e magia que há na realidade. Não vamos estragar esse legado.
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• Foto: Valentina Degiorgis/ Freeimages.com
Outros já vêm com temas mais delimitados, que, assim, me ajudam um pouco mais a ajudá-los. Para isso, muitos procuram me conquistar e favorecer uma resposta, chamando-me de “especialista” no assunto. Isso muito me lisonjeia, mas depois de mais de vinte anos de pesquisa, uma tese e alguns escritos sobre ele, estou muito longe de me considerar uma “especialista” em C.S. Lewis.
E quero que saibam que isso é totalmente desnecessário, pois o que estiver em meu alcance para promover o pensamento desse autor, no Brasil e além dele, eu farei. Encaro isso como uma espécie de missão a mim confiada e que só pude cumprir até agora (e o poderia fazer daqui pra frente) pela graça e para a glória do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo, a quem Lewis servia de todo o coração.
Então, resolvi, nessas linhas, dar um recado a todos os fãs, opositores, curiosos e interessados de todos os tipos. Mas para isso, vou antes dar alguns exemplos. A última pergunta que me fizeram foi se Lewis já foi adepto dos Testemunhas de Jeová, porque um professor do seu seminário de teologia o teria alegado. Pela sua bizarrice, muito me interessou a fonte da informação, mas aí eu teria que falar com o tal professor e fujo de meandros institucionais como o diabo da cruz.
Uma coisa é certa: Lewis namorou com seitas e crenças antes de se tornar cristão, o que é verdade também para outros grandes expoentes do cristianismo, desde Agostinho (suspeito, contudo, que os Testemunhas de Jeová não fariam o estilo dele.
Mas penso que questões como essa e outras, relativas às suas crenças específicas antes e depois da conversão (sobre a inerrância da Bíblia, o pós-morte, criação versus evolução, o livre-arbítrio, se ele acreditava em duendes, extraterrestres, e se ele teria se deparado com o Satanás) são muito interessantes, mas estão mal formuladas e passam ao largo do sentido da mensagem lewisiana.
Lewis não se importava com categorias e questões secundárias do Cristianismo. Como lemos em “Cristianismo Puro e Simples” - um tratado de questões primárias - ele o via como uma casa com um hall de entrada, que dá para vários cômodos, cada um deles representando uma vertente do cristianismo e suas respectivas convicções. E adverte que o hall mesmo não serve para habitação: como seres humanos limitados que somos, não podemos abarcar a totalidade do cristianismo e sua diversidade. Temos que optar por uma de suas vertentes - o que nos torna vulneráveis e sem qualquer direito de nos assumirmos como donos da verdade.
Ele sempre lutou para que os adeptos de tais vertentes, ao invés de ficarem discutindo sobre essa ou aquela interpretação das Escrituras, essa ou aquela crença - que é uma pura perda de tempo - se unissem em torno das coisas essenciais ao Cristianismo.
Desculpem-me, mas nenhuma das questões das que me foram enviadas até hoje, seja em forma de pergunta sincera, às vezes ingênua, seja em forma de acusação contra Lewis, girou em torno dos aspectos essenciais do Cristianismo. Só posso concluir disso que o público leitor ainda não lê o suficiente e da maneira correta, não apenas Lewis.
Aliás, sabem como eu penso que Lewis responderia a cada uma delas? Primeiro pedindo licença para ter a sua própria opinião sobre elas sem ser automaticamente categorizado como arauto de liberalismo (acusação frequente), fundamentalismo (acusação um pouco menos frequente) ou qualquer outro “ismo”. Ele era contra os “ismos” por definição: com a honrosa e exclusiva exceção do Cristianismo (puro e simples).
Depois, ele escreveria uma poesia ou remeteria a uma, ou, melhor ainda, a algum trecho da Bíblia em forma poética, pois só a poesia é capaz de dar expressão aos mistérios mais profundos da realidade criada por Deus.
Como se lê no trecho do livro imperdível Lendo os Salmos, tão oportunamente lançado pela Editora Ultimato: “a poesia é também uma pequena encarnação que dá corpo ao que outrora foi invisível e inaudível” (p. 13).
Então, o recado é: não adianta querer dar conta de Lewis com fórmulas mágicas, insistir em encaixá-lo em categorias dualistas ou querer abordá-lo de maneira simplista e reducionista. Lewis tinha visões simples (e não simplistas ou fáceis), que entendo como opostas de complicadas e intrincadas, mas não como opostas de complexas. Aliás, a arte de ser simples e complexo ao mesmo tempo é uma das coisas que me encanta nele.
Suas ideias são puras e simples ainda, no sentido de claras, honestas e sinceras, humildes, diretas, realistas, sábias e justas. Mas são complexas, por serem críticas, inter- e transdisciplinares, polissêmicas, bem dosadas e equilibradas, não-dualistas e não-maniqueístas. Acima de tudo, elas respeitam o mistério que há em coisas que não têm uma resposta ou explicação única e cabal, pois a coisa de que ele mais entendia - e ele não entendia de pouca coisa - era, na minha opinião, do mistério e magia que há na realidade. Não vamos estragar esse legado.
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Um Ano com C. S. Lewis
Surpreendido pela Alegria
Deus em questão
• Foto: Valentina Degiorgis/ Freeimages.com
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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