Opinião
- 21 de junho de 2017
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C. S. Lewis: Ficção, alegorias e mitos podem fortalecer a fé cristã?
Por Paulo F. Ribeiro
Qual a melhor maneira de comunicar ou ser edificado pela mensagem do evangelho?
E como fazer isso, com imaginação e criatividade, para alcançar crianças e adultos?
Para C.S. Lewis, a ficção, as estórias de fadas, fantasias ou alegorias eram uma forma ideal. Lewis acreditava que essas estórias poderiam minimizar uma certa inibição que paralisou a sua experiência religiosa inicial:
“Por que às vezes achamos tão difícil falar ou sentir sobre Deus e os sofrimentos de Cristo? Eu achava que o principal motivo era que éramos compelidos para assim sentir. A obrigação de sentir pode congelar sentimentos. Mas lançando todas essas coisas em um mundo imaginário e despojando-as de suas associações com o ensino de aulas de teologia dominicais, poderíamos fazê-las pela primeira vez aparecer em seu alcance real. Não seria possível escapar daqueles dragões vigilantes [do dogmatismo]? Penso que sim.”
Em um dos seus ensaios literários Lewis faz a distinção entre significado e verdade. Ele escreve:
"Significado... é a condição antecedente tanto da verdade quanto da falsidade cuja antítese não é erro, mas absurdo. Eu sou um racionalista. Para mim, a razão é o órgão natural da verdade; Mas a imaginação é o órgão do sentido. A imaginação, produzindo novas metáforas ou revivificando antigas, não é a causa da verdade, mas a sua condição."
Lewis vai além quando fala sobre a perspectiva dual (mito e fato) do cristianismo:
"O cristianismo é um mito que também é um fato. O velho mito do Deus morrendo, sem deixar de ser mito, desce do céu da lenda e da imaginação para a terra da história. Acontece – numa determinada data, num determinado lugar, seguido de consequências históricas definíveis. Passamos de um Balder ou um Orsis, morrendo ninguém sabe quando ou onde, para uma Pessoa histórica crucificada (tudo em ordem) sob Pôncio Pilatos. Ao tornar-se fato, não deixa de ser mito: esse é o milagre."
Em O Regresso do Peregrino, a Mãe Kirk diz a John, o Peregrino:
"Filho, se preferes, é mitologia. É verdade, não fato: uma imagem, também mito e metáfora: mas como eles não se conhecem pelo que são, neles o mito oculto é mestre, onde deve ser servo; Mas esta é Minha invenção, este é o véu sob o qual eu escolhi aparecer até mesmo desde do princípio até agora. Para este fim criei sua capacidade de entender e para este fim a sua imaginação, para que você possa ver o meu rosto e viver. Vocês não ouviram entre os pagãos a história de Semele (morta e ressurreta como Deusa na mitologia Grega)? Ou houve alguma idade em que na terra, quando os homens não sabiam que o milho e o vinho eram o sangue e o corpo de um deus que morre e ainda um Deus vivo?"
Lewis nos alerta que não devemos nos envergonhar destes paralelos:
"Aqueles que não acreditam que este grande mito se tornou fato quando a Virgem concebeu, merecem nossa compaixão. Mas os cristãos também precisam ser lembrados que o que se tornou fato era um mito, que transporta para o mundo de fato todas as propriedades de um mito. Deus é mais do que um deus, não menos; Cristo é mais que Balder, não menos. Não devemos nos envergonhar do esplendor mítico apoiado em nossa teologia. Não devemos estar nervosos com os "paralelos" e os "cristos pagãos": eles deveriam estar lá - seria um obstáculo se não fossem. Não devemos, na falsa espiritualidade, negar nossa acolhida imaginativa. Se Deus escolheu ser mitópico - e não é o próprio céu um mito - será que nos recusaremos a ser mitopáticos?"
Pois, ainda de acordo com Lewis:
"Este é o casamento do céu e da terra: Mito Perfeito e Fato Perfeito: reivindicando não apenas o nosso amor e a nossa obediência, mas também a nossa imaginação e deleite, dirigidos ao selvagem, à criança e ao poeta em cada um de nós, assim como ao moralista, ao erudito e ao filósofo."
E, Jesus, ao responder à admiração de Tomé, disse:
“Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram!”
É com a imaginação, estimulada pela leitura da revelação de Deus na Bíblia Sagrada, mas também nos contos, fantasias e mitos – com caráter moral religioso, como as ficções e alegorias de C.S. Lewis – que cremos. A imaginação nos ajuda muitas vezes a quebrar a inibição que nos paralisa e impede de entender todo o alcance da revelação de Deus, edificando e ajudando outros a conhecer a verdade, escapando assim dos dragões vigilantes contra nossa fé.
O objetivo de C. S. Lewis com suas ficções e alegorias cristãs não é apenas provocar curiosidade sobre aspectos religiosos. Mas, alterar a trajetória do discurso público sobre questões espirituais de uma abstração teológica para escolhas da vida pratica. Nas suas conhecidas Crônicas de Nárnia, na Trilogia Cósmica, em O Regresso do Peregrino (no Prelo) ou em Até Que Tenhamos Rostos, entre outros, Lewis chama a atenção do leitor e lembra sua liberdade de escolha e as implicações de cada decisão na vida.
• Paulo F. Ribeiro, doutor em engenharia elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, é pesquisador e professor na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e é torcedor do Santa Cruz.
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Para C.S. Lewis, a ficção, as estórias de fadas, fantasias ou alegorias eram uma forma ideal. Lewis acreditava que essas estórias poderiam minimizar uma certa inibição que paralisou a sua experiência religiosa inicial:
“Por que às vezes achamos tão difícil falar ou sentir sobre Deus e os sofrimentos de Cristo? Eu achava que o principal motivo era que éramos compelidos para assim sentir. A obrigação de sentir pode congelar sentimentos. Mas lançando todas essas coisas em um mundo imaginário e despojando-as de suas associações com o ensino de aulas de teologia dominicais, poderíamos fazê-las pela primeira vez aparecer em seu alcance real. Não seria possível escapar daqueles dragões vigilantes [do dogmatismo]? Penso que sim.”
Em um dos seus ensaios literários Lewis faz a distinção entre significado e verdade. Ele escreve:
"Significado... é a condição antecedente tanto da verdade quanto da falsidade cuja antítese não é erro, mas absurdo. Eu sou um racionalista. Para mim, a razão é o órgão natural da verdade; Mas a imaginação é o órgão do sentido. A imaginação, produzindo novas metáforas ou revivificando antigas, não é a causa da verdade, mas a sua condição."
Lewis vai além quando fala sobre a perspectiva dual (mito e fato) do cristianismo:
"O cristianismo é um mito que também é um fato. O velho mito do Deus morrendo, sem deixar de ser mito, desce do céu da lenda e da imaginação para a terra da história. Acontece – numa determinada data, num determinado lugar, seguido de consequências históricas definíveis. Passamos de um Balder ou um Orsis, morrendo ninguém sabe quando ou onde, para uma Pessoa histórica crucificada (tudo em ordem) sob Pôncio Pilatos. Ao tornar-se fato, não deixa de ser mito: esse é o milagre."
Em O Regresso do Peregrino, a Mãe Kirk diz a John, o Peregrino:
"Filho, se preferes, é mitologia. É verdade, não fato: uma imagem, também mito e metáfora: mas como eles não se conhecem pelo que são, neles o mito oculto é mestre, onde deve ser servo; Mas esta é Minha invenção, este é o véu sob o qual eu escolhi aparecer até mesmo desde do princípio até agora. Para este fim criei sua capacidade de entender e para este fim a sua imaginação, para que você possa ver o meu rosto e viver. Vocês não ouviram entre os pagãos a história de Semele (morta e ressurreta como Deusa na mitologia Grega)? Ou houve alguma idade em que na terra, quando os homens não sabiam que o milho e o vinho eram o sangue e o corpo de um deus que morre e ainda um Deus vivo?"
Lewis nos alerta que não devemos nos envergonhar destes paralelos:
"Aqueles que não acreditam que este grande mito se tornou fato quando a Virgem concebeu, merecem nossa compaixão. Mas os cristãos também precisam ser lembrados que o que se tornou fato era um mito, que transporta para o mundo de fato todas as propriedades de um mito. Deus é mais do que um deus, não menos; Cristo é mais que Balder, não menos. Não devemos nos envergonhar do esplendor mítico apoiado em nossa teologia. Não devemos estar nervosos com os "paralelos" e os "cristos pagãos": eles deveriam estar lá - seria um obstáculo se não fossem. Não devemos, na falsa espiritualidade, negar nossa acolhida imaginativa. Se Deus escolheu ser mitópico - e não é o próprio céu um mito - será que nos recusaremos a ser mitopáticos?"
Pois, ainda de acordo com Lewis:
"Este é o casamento do céu e da terra: Mito Perfeito e Fato Perfeito: reivindicando não apenas o nosso amor e a nossa obediência, mas também a nossa imaginação e deleite, dirigidos ao selvagem, à criança e ao poeta em cada um de nós, assim como ao moralista, ao erudito e ao filósofo."
E, Jesus, ao responder à admiração de Tomé, disse:
“Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram!”
É com a imaginação, estimulada pela leitura da revelação de Deus na Bíblia Sagrada, mas também nos contos, fantasias e mitos – com caráter moral religioso, como as ficções e alegorias de C.S. Lewis – que cremos. A imaginação nos ajuda muitas vezes a quebrar a inibição que nos paralisa e impede de entender todo o alcance da revelação de Deus, edificando e ajudando outros a conhecer a verdade, escapando assim dos dragões vigilantes contra nossa fé.
O objetivo de C. S. Lewis com suas ficções e alegorias cristãs não é apenas provocar curiosidade sobre aspectos religiosos. Mas, alterar a trajetória do discurso público sobre questões espirituais de uma abstração teológica para escolhas da vida pratica. Nas suas conhecidas Crônicas de Nárnia, na Trilogia Cósmica, em O Regresso do Peregrino (no Prelo) ou em Até Que Tenhamos Rostos, entre outros, Lewis chama a atenção do leitor e lembra sua liberdade de escolha e as implicações de cada decisão na vida.
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