Opinião
- 10 de fevereiro de 2015
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C. S. Lewis era sexista?
Quando estou diante de polêmicas de nosso tempo, pergunto-me primeiro o que Jesus diria sobre isso. Jesus tinha muitas amigas mulheres e que cuidavam do seu sustento e bem estar. Exemplos: Maria e Marta; a meretriz que ungiu os pés de Jesus com óleo precioso e os enxugou com os cabelos; a mulher samaritana (que por ser mulher e ainda mais samaritana não era digna de que ele lhe dirigisse a palavra) e tantas outras. Ele as ouvia e lhes atribuía o devido valor. Mas será que, no contexto de sua época, ele abençoaria uma pastora, bispa ou sei lá que outro cargo religioso elas poderiam assumir?
Difícil dizer, precisamente pelo contexto altamente dominado pelos homens em que a sociedade estava estruturada. Temos as suas palavras sobre a obediência que as mulheres devem ter em relação aos maridos no casamento e sobre a submissão, mas isso não significa que quaisquer mulheres devam submeter-se a quaisquer homens.
As recomendações de Paulo para que as mulheres ficassem em silêncio na igreja também são extremamente condicionadas por um contexto bastante específico em que as mulheres estavam literalmente tagarelando na igreja e não deixando a mesma cumprir sua função de corpo de Cristo.
Então, é interessante nós nos perguntarmos, em segundo lugar e num contexto mais recente, o que outros cristãos puros e simples, como C.S. Lewis, diriam sobre o assunto. Temos primeiramente a trilogia espacial: “Longe do Planeta Silencioso” (1938), “Perelandra” (1943.), e “Uma Força Medonha” (1945). Principalmente em “Perelandra”, que rendeu a Lewis a fama de ser sexista ou até machista, em que aparece um casal primordial (os únicos humanos até então) daquele planeta numa situação ainda anterior à queda, a dama deve se submeter ao que chama de Rei. A figura humana, mas possessa pelo mal que faz o papel da serpente sedutora, tenta convencê-la a se independer e emancipar, descrevendo o “heroísmo” das mulheres feministas da Terra.
Mais uma vez, estamos aqui falando de casamento e não do relacionamento de quaisquer homens e mulheres. E Lewis está combatendo o feminismo radical de sua época, e não fomentando o preconceito de gênero.
Além do mais, em sua atitude submissa, a dama não se mostra intelectual, espiritual ou emocionalmente inferior, pelo contrário, ela é extremamente forte e pode ser considerada a grande heroína da história. E ela não se submete por obrigação, numa atitude escrava, mas por obediência ao Deus daquele planeta, obediência essa que lhe dá segurança e prazer.
Em “Uma Força Medonha” temos Jane, uma esposa doutoranda, que sofre de solidão pelo excesso de trabalho do marido, Mark, que já é doutor e professor universitário. Mas Jane acaba se mostrando mais inteligente e com melhor intuição, ao se unir ao bem e não ao mal, como faz Mark. Com isso, ela o salva e coopera de forma crucial para a salvação da humanidade das forças totalitárias de um Instituto científico que quer dominar o mundo.
Mesmo falando sobre Eros, uma das quatro formas de amor discutidas em “Os Quatro Amores” (1960), não há vestígios de sexismo no livro, escrito já depois do encontro de Lewis com Joy Gresham.
Mas o livro que é a prova definitiva de que Lewis, ao menos aquele posterior ao encontro com Joy e seu casamento com ela, é “Till we have Faces” (1956), um mito de Édipo, recontado da perspectiva de uma mulher, que é um tributo à sensibilidade, inteligência, beleza e psique feminina. Não por acaso o livro é dedicado a Joy.
Também o filme “Shadowlands” (“Terra das Sombras”), estrelando Anthony Hopkins no papel de C.S. Lewis, mostra como o pensamento de Lewis, que era de um solteirão convicto, rodeado de amigos homens, mas crescentemente também de mulheres, sobre as mulheres em geral, mudou desde “Perelandra” até sua transformação radical graças ao seu romance com Joy.
Digo que só sei que nada sei sobre a ordenação feminina, porque ainda não tenho opinião completamente formada. Entre o “nada” que eu sei encontra-se o aproveitamento de mulheres em comunidades desprovidas de pastor para tapar esse buraco, fazendo-as acumular funções e receber salários inferiores aos dos pastores. Se estatisticamente existem mais mulheres do que homens nas igrejas, isso não é motivo para dar subempregos às mulheres, pelo que se estaria reproduzindo o que já ocorre em toda a sociedade.
Ordenação feminina? É possível, mas não com o intuito de se aproveitar indiscriminadamente da força de trabalho de mulheres que, muitas vezes, não sabem que estão sendo exploradas ou pensam que não têm o direito de serem recompensadas de forma igualitária.
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Difícil dizer, precisamente pelo contexto altamente dominado pelos homens em que a sociedade estava estruturada. Temos as suas palavras sobre a obediência que as mulheres devem ter em relação aos maridos no casamento e sobre a submissão, mas isso não significa que quaisquer mulheres devam submeter-se a quaisquer homens.
As recomendações de Paulo para que as mulheres ficassem em silêncio na igreja também são extremamente condicionadas por um contexto bastante específico em que as mulheres estavam literalmente tagarelando na igreja e não deixando a mesma cumprir sua função de corpo de Cristo.
Então, é interessante nós nos perguntarmos, em segundo lugar e num contexto mais recente, o que outros cristãos puros e simples, como C.S. Lewis, diriam sobre o assunto. Temos primeiramente a trilogia espacial: “Longe do Planeta Silencioso” (1938), “Perelandra” (1943.), e “Uma Força Medonha” (1945). Principalmente em “Perelandra”, que rendeu a Lewis a fama de ser sexista ou até machista, em que aparece um casal primordial (os únicos humanos até então) daquele planeta numa situação ainda anterior à queda, a dama deve se submeter ao que chama de Rei. A figura humana, mas possessa pelo mal que faz o papel da serpente sedutora, tenta convencê-la a se independer e emancipar, descrevendo o “heroísmo” das mulheres feministas da Terra.
Mais uma vez, estamos aqui falando de casamento e não do relacionamento de quaisquer homens e mulheres. E Lewis está combatendo o feminismo radical de sua época, e não fomentando o preconceito de gênero.
Além do mais, em sua atitude submissa, a dama não se mostra intelectual, espiritual ou emocionalmente inferior, pelo contrário, ela é extremamente forte e pode ser considerada a grande heroína da história. E ela não se submete por obrigação, numa atitude escrava, mas por obediência ao Deus daquele planeta, obediência essa que lhe dá segurança e prazer.
Em “Uma Força Medonha” temos Jane, uma esposa doutoranda, que sofre de solidão pelo excesso de trabalho do marido, Mark, que já é doutor e professor universitário. Mas Jane acaba se mostrando mais inteligente e com melhor intuição, ao se unir ao bem e não ao mal, como faz Mark. Com isso, ela o salva e coopera de forma crucial para a salvação da humanidade das forças totalitárias de um Instituto científico que quer dominar o mundo.
Mesmo falando sobre Eros, uma das quatro formas de amor discutidas em “Os Quatro Amores” (1960), não há vestígios de sexismo no livro, escrito já depois do encontro de Lewis com Joy Gresham.
Mas o livro que é a prova definitiva de que Lewis, ao menos aquele posterior ao encontro com Joy e seu casamento com ela, é “Till we have Faces” (1956), um mito de Édipo, recontado da perspectiva de uma mulher, que é um tributo à sensibilidade, inteligência, beleza e psique feminina. Não por acaso o livro é dedicado a Joy.
Também o filme “Shadowlands” (“Terra das Sombras”), estrelando Anthony Hopkins no papel de C.S. Lewis, mostra como o pensamento de Lewis, que era de um solteirão convicto, rodeado de amigos homens, mas crescentemente também de mulheres, sobre as mulheres em geral, mudou desde “Perelandra” até sua transformação radical graças ao seu romance com Joy.
Digo que só sei que nada sei sobre a ordenação feminina, porque ainda não tenho opinião completamente formada. Entre o “nada” que eu sei encontra-se o aproveitamento de mulheres em comunidades desprovidas de pastor para tapar esse buraco, fazendo-as acumular funções e receber salários inferiores aos dos pastores. Se estatisticamente existem mais mulheres do que homens nas igrejas, isso não é motivo para dar subempregos às mulheres, pelo que se estaria reproduzindo o que já ocorre em toda a sociedade.
Ordenação feminina? É possível, mas não com o intuito de se aproveitar indiscriminadamente da força de trabalho de mulheres que, muitas vezes, não sabem que estão sendo exploradas ou pensam que não têm o direito de serem recompensadas de forma igualitária.
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Deixe que elas mesmas falem
Ordenação feminina (entrevista com Waldyr Carvalho Luz)
O forte sexo frágil (só para assinantes)
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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