Opinião
- 22 de outubro de 2024
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C.S. Lewis e as eleições
Por Paulo Ribeiro
C.S. Lewis não escreveu extensivamente sobre eleições ou política da mesma forma que abordou questões teológicas e morais. No entanto, por meio de suas várias obras e cartas, ele ofereceu insights sobre democracia, sistemas políticos e a natureza do governo, o que nos ajuda a entender sua perspectiva sobre as eleições.
Aqui estão algumas das principais ideias que refletem o pensamento de Lewis sobre eleições e democracia:
1. Ceticismo em relação ao poder
Lewis era profundamente cético em relação à concentração de poder em qualquer forma. Ele acreditava que os seres humanos, devido à sua natureza caída, eram propensos à corrupção quando dotados de autoridade sem limites. Esse ceticismo se estendia tanto a regimes autoritários quanto a governos democráticos que extrapolam seu poder. Em seu ensaio "Igualdade", Lewis argumentou que a democracia, com seu sistema de eleições e freios e contrapesos, era necessária não porque todos fossem igualmente capazes, mas porque a natureza humana é inclinada ao egoísmo e à corrupção. As eleições, em sua visão, são uma maneira de impedir que uma única pessoa ou grupo adquira poder excessivo.
"Sou um democrata porque acredito na Queda do Homem. Acho que a maioria das pessoas é democrata pelo motivo oposto. Grande parte do entusiasmo democrático vem da ideia de que a humanidade é tão sábia e boa que todos merecem uma parte no governo. A verdadeira razão para a democracia é exatamente o oposto. A humanidade é tão caída que nenhum homem pode ser confiado com poder irrestrito sobre seus semelhantes."
Lewis apoiava a democracia não por uma crença idealista na natureza humana, mas como uma salvaguarda necessária contra a tirania. As eleições, portanto, eram uma parte essencial desse processo democrático porque distribuíam o poder e evitavam que uma pessoa ou grupo governasse sem controle.
2. Os limites das soluções políticas
Lewis frequentemente expressava um certo nível de desilusão com a política como meio de resolver os problemas mais profundos da humanidade. Em Cristianismo Puro e Simples e outras obras, ele argumentou que as questões morais e espirituais estão no cerne dos conflitos e sofrimentos humanos, e que nenhum sistema político — seja democrático, autoritário ou outro — poderia resolver esses problemas fundamentais. Embora eleições e sistemas políticos sejam importantes para organizar a sociedade, Lewis acreditava que eles nunca poderiam fornecer soluções definitivas para as falhas humanas.
Ele também advertia contra colocar muita esperança em líderes políticos ou sistemas, uma vez que os seres humanos são falhos e suscetíveis a decepções. Lewis via as eleições como parte do processo político, mas não como a fonte definitiva de salvação ou de melhoria social.
3. O perigo de a política se tornar uma religião
Lewis estava preocupado com a tendência de as pessoas tratarem a política e as ideologias políticas como questões supremas, quase como uma religião. Ele via isso como perigoso porque substituía o verdadeiro objeto de adoração humana — Deus — por um sistema político falível e temporário. Em A Abolição do Homem e Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, ele advertiu contra transformar causas políticas em ídolos, o que pode levar as pessoas a depositarem demasiada fé em líderes políticos, partidos ou ideologias.
Para Lewis, as eleições faziam parte da mecânica necessária da governança, mas ele alertava contra vê-las como a fonte de significado ou moralidade última. Ele acreditava que os cristãos deveriam se engajar na política com humildade, reconhecendo que nenhum sistema político pode atender completamente às necessidades mais profundas do coração humano.
4. O papel dos cidadãos em uma democracia
No pensamento político de Lewis, há também uma responsabilidade implícita colocada sobre os cidadãos. Como a democracia depende das eleições, também depende do engajamento moral e intelectual de seus cidadãos. Em seus escritos, Lewis frequentemente enfatizava a importância da educação moral e da formação de um caráter virtuoso. Para que as eleições e a democracia funcionem bem, os cidadãos precisam ser informados, moralmente conscientes e capazes de autogoverno.
Ele não parecia acreditar que as eleições ou a democracia, por si só, garantissem um bom governo; em vez disso, elas exigiam uma população virtuosa e engajada. Sem isso, até mesmo sistemas democráticos poderiam se corromper ou se tornar ineficazes.
5. Liberdade e responsabilidade moral
Lewis valorizava a liberdade, que as eleições em uma democracia ajudam a preservar, mas acreditava que a liberdade deveria ser usada de maneira responsável. Em Deus no Banco dos Réus, Lewis argumentou que, embora a democracia e as eleições forneçam liberdade contra a tirania, elas também impõem um dever aos indivíduos de agir moralmente e com sabedoria dentro dessa liberdade.
Ele acreditava que a verdadeira liberdade era encontrada vivendo de acordo com a vontade de Deus, e que as liberdades políticas (como o direito ao voto) deveriam ser vistas como oportunidades para buscar justiça e o bem comum, e não como fins em si mesmas.
Conclusão
As visões de C.S. Lewis sobre eleições podem ser compreendidas através de suas perspectivas mais amplas sobre democracia, poder e natureza humana. Ele apoiava as eleições como uma salvaguarda contra a corrupção que vem com o poder concentrado, mas era cauteloso em colocar demasiada fé em sistemas políticos ou líderes. Para Lewis, embora as eleições fossem importantes, eram secundárias em relação às questões morais e espirituais mais profundas que governam a vida humana. Sua postura cautelosa sobre a política nos lembra que as eleições e os sistemas políticos são ferramentas, e não fontes definitivas de esperança ou redenção.
REVISTA ULTIMATO – AS BEM-AVENTURANÇAS – MARCAS DE UM NOVO MUNDO
Ultimato quer mostrar a beleza e a atualidade das bem-aventuranças, resgatando seu sentido bíblico e refletindo sobre seu impacto na vida do cristão, da igreja e do mundo.
Este é o desafio: voltar a ler as bem-aventuranças como quem lê a mensagem pela primeira vez, com reverência – para perceber e memorizar as exigências do seguimento – e alegre expectativa.
É disso que trata a matéria de capa da edição 409 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Surpreendido Pela Alegria, C. S. Lewis
» Fé Cristã e Ação Política - A relevância pública da espiritualidade cristã, Pedro Lucas Dulci
C.S. Lewis não escreveu extensivamente sobre eleições ou política da mesma forma que abordou questões teológicas e morais. No entanto, por meio de suas várias obras e cartas, ele ofereceu insights sobre democracia, sistemas políticos e a natureza do governo, o que nos ajuda a entender sua perspectiva sobre as eleições.
Aqui estão algumas das principais ideias que refletem o pensamento de Lewis sobre eleições e democracia:
1. Ceticismo em relação ao poder
Lewis era profundamente cético em relação à concentração de poder em qualquer forma. Ele acreditava que os seres humanos, devido à sua natureza caída, eram propensos à corrupção quando dotados de autoridade sem limites. Esse ceticismo se estendia tanto a regimes autoritários quanto a governos democráticos que extrapolam seu poder. Em seu ensaio "Igualdade", Lewis argumentou que a democracia, com seu sistema de eleições e freios e contrapesos, era necessária não porque todos fossem igualmente capazes, mas porque a natureza humana é inclinada ao egoísmo e à corrupção. As eleições, em sua visão, são uma maneira de impedir que uma única pessoa ou grupo adquira poder excessivo.
"Sou um democrata porque acredito na Queda do Homem. Acho que a maioria das pessoas é democrata pelo motivo oposto. Grande parte do entusiasmo democrático vem da ideia de que a humanidade é tão sábia e boa que todos merecem uma parte no governo. A verdadeira razão para a democracia é exatamente o oposto. A humanidade é tão caída que nenhum homem pode ser confiado com poder irrestrito sobre seus semelhantes."
Lewis apoiava a democracia não por uma crença idealista na natureza humana, mas como uma salvaguarda necessária contra a tirania. As eleições, portanto, eram uma parte essencial desse processo democrático porque distribuíam o poder e evitavam que uma pessoa ou grupo governasse sem controle.
2. Os limites das soluções políticas
Lewis frequentemente expressava um certo nível de desilusão com a política como meio de resolver os problemas mais profundos da humanidade. Em Cristianismo Puro e Simples e outras obras, ele argumentou que as questões morais e espirituais estão no cerne dos conflitos e sofrimentos humanos, e que nenhum sistema político — seja democrático, autoritário ou outro — poderia resolver esses problemas fundamentais. Embora eleições e sistemas políticos sejam importantes para organizar a sociedade, Lewis acreditava que eles nunca poderiam fornecer soluções definitivas para as falhas humanas.
Ele também advertia contra colocar muita esperança em líderes políticos ou sistemas, uma vez que os seres humanos são falhos e suscetíveis a decepções. Lewis via as eleições como parte do processo político, mas não como a fonte definitiva de salvação ou de melhoria social.
3. O perigo de a política se tornar uma religião
Lewis estava preocupado com a tendência de as pessoas tratarem a política e as ideologias políticas como questões supremas, quase como uma religião. Ele via isso como perigoso porque substituía o verdadeiro objeto de adoração humana — Deus — por um sistema político falível e temporário. Em A Abolição do Homem e Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, ele advertiu contra transformar causas políticas em ídolos, o que pode levar as pessoas a depositarem demasiada fé em líderes políticos, partidos ou ideologias.
Para Lewis, as eleições faziam parte da mecânica necessária da governança, mas ele alertava contra vê-las como a fonte de significado ou moralidade última. Ele acreditava que os cristãos deveriam se engajar na política com humildade, reconhecendo que nenhum sistema político pode atender completamente às necessidades mais profundas do coração humano.
4. O papel dos cidadãos em uma democracia
No pensamento político de Lewis, há também uma responsabilidade implícita colocada sobre os cidadãos. Como a democracia depende das eleições, também depende do engajamento moral e intelectual de seus cidadãos. Em seus escritos, Lewis frequentemente enfatizava a importância da educação moral e da formação de um caráter virtuoso. Para que as eleições e a democracia funcionem bem, os cidadãos precisam ser informados, moralmente conscientes e capazes de autogoverno.
Ele não parecia acreditar que as eleições ou a democracia, por si só, garantissem um bom governo; em vez disso, elas exigiam uma população virtuosa e engajada. Sem isso, até mesmo sistemas democráticos poderiam se corromper ou se tornar ineficazes.
5. Liberdade e responsabilidade moral
Lewis valorizava a liberdade, que as eleições em uma democracia ajudam a preservar, mas acreditava que a liberdade deveria ser usada de maneira responsável. Em Deus no Banco dos Réus, Lewis argumentou que, embora a democracia e as eleições forneçam liberdade contra a tirania, elas também impõem um dever aos indivíduos de agir moralmente e com sabedoria dentro dessa liberdade.
Ele acreditava que a verdadeira liberdade era encontrada vivendo de acordo com a vontade de Deus, e que as liberdades políticas (como o direito ao voto) deveriam ser vistas como oportunidades para buscar justiça e o bem comum, e não como fins em si mesmas.
Conclusão
As visões de C.S. Lewis sobre eleições podem ser compreendidas através de suas perspectivas mais amplas sobre democracia, poder e natureza humana. Ele apoiava as eleições como uma salvaguarda contra a corrupção que vem com o poder concentrado, mas era cauteloso em colocar demasiada fé em sistemas políticos ou líderes. Para Lewis, embora as eleições fossem importantes, eram secundárias em relação às questões morais e espirituais mais profundas que governam a vida humana. Sua postura cautelosa sobre a política nos lembra que as eleições e os sistemas políticos são ferramentas, e não fontes definitivas de esperança ou redenção.
REVISTA ULTIMATO – AS BEM-AVENTURANÇAS – MARCAS DE UM NOVO MUNDO
Ultimato quer mostrar a beleza e a atualidade das bem-aventuranças, resgatando seu sentido bíblico e refletindo sobre seu impacto na vida do cristão, da igreja e do mundo.
Este é o desafio: voltar a ler as bem-aventuranças como quem lê a mensagem pela primeira vez, com reverência – para perceber e memorizar as exigências do seguimento – e alegre expectativa.
É disso que trata a matéria de capa da edição 409 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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» Surpreendido Pela Alegria, C. S. Lewis
» Fé Cristã e Ação Política - A relevância pública da espiritualidade cristã, Pedro Lucas Dulci
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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