Opinião
- 16 de outubro de 2009
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Brinquedo para todo mundo
Lucy Oliveira e Jeyson Rodrigues
Ricardo tinha dez anos quando descreveu, numa brincadeira com amigos, o que era o céu. Ele é mais uma entre tantas crianças que moram na favela do Vale do Reginaldo (a maior da cidade de Maceió), e que crescem sofrendo as consequências da exclusão e injustiça sociais. Talvez esse seja seu maior privilégio teológico e sua maior tragédia social. Seus dramas e dilemas cotidianos lhe possibilitaram construir uma teologia fundamentada, não nas leituras clássicas, mas na perplexidade causada pela violência que sofre por não ter seus direitos básicos assegurados. Ricardo definiu que o céu é um lugar onde há “brinquedos para todos”. Ao invés de interpretar a vida através da leitura de uma teologia do céu, fez uma teologia da terra, que não minimiza a importância da imanência, mas onde o “aqui e agora” clama por transformação.
“Brinquedos para todos” é a pureza jovem de uma teologia que transcende a transcendência. Que é alma, e também estômago. Que é espírito, mas que não quer ser invisível. Que é esperança de eternidade, mas não só para anestesiar a dor de uma vida tão morrida. Esperança de salvação, não apenas de sua alma, mas de sua vida. Vida que abrange muitos outros aspectos, para os quais se apresentaram boas novas de um evangelho que nunca se propôs restaurar só uma parte do ser humano.
O discurso e a práxis cristãs podem e devem oferecer esperança de socorro integral a um drama que é integral. “Brinquedos para todos” é o entendimento de um reino prometido que se concretiza na eternidade, mas começa aqui na Terra.
Antes de tudo, Cristo nos deixou um exemplo de não aceitação da injustiça. Ele nos deu uma missão de transformar, não só a alma, mas a vida. E não há como falar de vida sem perceber que somos seres únicos, completos, integrais. Somos uma unidade que precisa ser pensada enquanto tal.
E a transformação pode vir pela ação política sim, pela cidadania, pela ocupação dos espaços públicos de decisão. Não falamos isso apenas referindo à vinculação político partidária, mas de uma dimensão política de nossas vidas que transcende o voto, a eleição. Ela se manifesta através da percepção de si e do outro como seres iguais, merecedores do mesmo tratamento. Não é essa a mensagem da salvação?
Há vários espaços se abrindo no país para a participação popular. A internet, por exemplo, é um espaço aberto à participação, com sites e fóruns que debatem os interesses públicos. Há também ONG’s, movimentos sociais, grupos religiosos que estão saindo do conforto do sofá ou do banco da igreja e modificando sua realidade.
Políticas públicas não são apenas responsabilidade ou atribuição do Estado. Jogar a culpa nos outros é um ótimo caminho para ser omisso. Se pensarmos que o evangelho que cremos nos deixa o desafio de transformar a nossa geração, veremos que isso tem tudo a ver com transformar a nossa sociedade.
Não sejamos como Pilatos, não lavemos as mãos, deixando a vida de tantos escorrerem por entre os nossos dedos. Jesus, o Cristo, pagou o preço necessário para que o céu fosse um lugar com “brinquedos para todos”.
• Lucy Oliveira, 26 anos, é jornalista e mestranda em sociologia na Universidade Federal de Alagoas.
• Jeyson Rodrigues, 28 anos, teólogo e mestrando em Ciências da Religião, leciona no Seminário Teológico Batista de Alagoas (SETBAL).
Ricardo tinha dez anos quando descreveu, numa brincadeira com amigos, o que era o céu. Ele é mais uma entre tantas crianças que moram na favela do Vale do Reginaldo (a maior da cidade de Maceió), e que crescem sofrendo as consequências da exclusão e injustiça sociais. Talvez esse seja seu maior privilégio teológico e sua maior tragédia social. Seus dramas e dilemas cotidianos lhe possibilitaram construir uma teologia fundamentada, não nas leituras clássicas, mas na perplexidade causada pela violência que sofre por não ter seus direitos básicos assegurados. Ricardo definiu que o céu é um lugar onde há “brinquedos para todos”. Ao invés de interpretar a vida através da leitura de uma teologia do céu, fez uma teologia da terra, que não minimiza a importância da imanência, mas onde o “aqui e agora” clama por transformação.
“Brinquedos para todos” é a pureza jovem de uma teologia que transcende a transcendência. Que é alma, e também estômago. Que é espírito, mas que não quer ser invisível. Que é esperança de eternidade, mas não só para anestesiar a dor de uma vida tão morrida. Esperança de salvação, não apenas de sua alma, mas de sua vida. Vida que abrange muitos outros aspectos, para os quais se apresentaram boas novas de um evangelho que nunca se propôs restaurar só uma parte do ser humano.
O discurso e a práxis cristãs podem e devem oferecer esperança de socorro integral a um drama que é integral. “Brinquedos para todos” é o entendimento de um reino prometido que se concretiza na eternidade, mas começa aqui na Terra.
Antes de tudo, Cristo nos deixou um exemplo de não aceitação da injustiça. Ele nos deu uma missão de transformar, não só a alma, mas a vida. E não há como falar de vida sem perceber que somos seres únicos, completos, integrais. Somos uma unidade que precisa ser pensada enquanto tal.
E a transformação pode vir pela ação política sim, pela cidadania, pela ocupação dos espaços públicos de decisão. Não falamos isso apenas referindo à vinculação político partidária, mas de uma dimensão política de nossas vidas que transcende o voto, a eleição. Ela se manifesta através da percepção de si e do outro como seres iguais, merecedores do mesmo tratamento. Não é essa a mensagem da salvação?
Há vários espaços se abrindo no país para a participação popular. A internet, por exemplo, é um espaço aberto à participação, com sites e fóruns que debatem os interesses públicos. Há também ONG’s, movimentos sociais, grupos religiosos que estão saindo do conforto do sofá ou do banco da igreja e modificando sua realidade.
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Não sejamos como Pilatos, não lavemos as mãos, deixando a vida de tantos escorrerem por entre os nossos dedos. Jesus, o Cristo, pagou o preço necessário para que o céu fosse um lugar com “brinquedos para todos”.
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