Opinião
- 24 de abril de 2024
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Bob Goudzwaard - lamento por um verdadeiro economista
Capitalismo e socialismo levam a resultados degradantes quando priorizam os recursos materiais em detrimento das pessoas
Por Paulo Ribeiro
Conheci os escritos de Bob Goudzwaard (1934-2024) quando entrei para o corpo docente da Universidade Dordt, em Iowa, em 1987. Bob era um economista holandês de um tipo diferente. Em vez de falar sobre o crescimento como um indicador de um modo de vida próspero, ele alertou-nos para a necessidade de um princípio de “consumir menos” e de uma “economia de suficiência” e da “escassez de recursos”.
Como engenheiro, que tinha visto problemas do mundo real e como acadêmico, fiquei impressionado com a coragem de Bob em apontar para as implicações sociais mais amplas das políticas econômicas, por isso quis que os meus alunos pensassem sobre essas questões também em vez de se tornarem meros tecnocratas.
Goudzwaard criticou tanto o capitalismo como o socialismo, dizendo que ambos os sistemas podem levar a resultados degradantes quando priorizam os recursos materiais em detrimento do bem-estar de indivíduos e comunidades.
A sua ideia de "estruturação" em economia enfatizou a importância de compreender as infraestruturas e as dinâmicas subjacentes dos sistemas econômicos, em vez de se concentrar apenas em eventos de curto prazo. Bob enfatizava que a “economia” é uma responsabilidade humana normativa de formar o que foi dado.
Embora Bob provavelmente não conhecesse a disciplina “Engenharia de sistemas e sistemas de engenharia”, quando comecei a ministrar este curso, pensei que Bob havia abordado a economia com uma visão ES-SE devido ao amplo entendimento do desenvolvimento e sociedade.
Como em qualquer caso de pensador genuíno, as ideias de Bob foram rejeitadas pelo mundo acadêmico politicamente correto no auge de sua carreira (início dos anos 70) e ele não se tornou professor de economia, mas de filosofia cultural na Universidade Livre de Amsterdã.
Lembro-me de que, no meu ensaio final para o meu MBA na Universidade de Lynchburg, argumentei (contra a recomendação do meu orientador) que não existiam condições de concorrência verdadeiramente equitativas nos negócios internacionais. Que os países poderosos sempre jogavam na vantagem e, na maioria dos casos, explorando os mais fracos. O exemplo que usei foi o das plantações de bananas controladas pelos EUA na Nicarágua, com as consequências a longo prazo de que os camponeses pobres, sem esperança no futuro, viajavam para o norte para se tornarem imigrantes ilegais na América. As ideias de Bob estavam por trás do meu ensaio provocativo final.
Embora Bob fosse um cristão comprometido, ele também criticou a perspectiva estreita da igreja quando disse: “É mais fácil falar sobre a eutanásia e o aborto que você nunca sofrerá, do que ter que começar admitindo a sua culpa em relação aos problemas ao seu redor. A pobreza, por exemplo, está relacionada com o grau do nosso próprio enriquecimento”.
Talvez um dia o mercado reconheça as palavras de Bob Goudzwaard: “Um bom mercado não tem a ver apenas com o crescimento e ‘sempre mais’, mas com o florescimento das pessoas”.
Bob faleceu no sábado, dia 20 de abril, aos 90 anos, na esperança da redenção de todas as coisas para as quais ele se esforçou ao máximo para contribuir deste lado da eternidade.
REVISTA ULTIMATO | OS DESAFIOS ÉTICOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS
O avanço da tecnologia nas últimas décadas é maior do que em qualquer outra época da história. Tal aumento se dá em muitas frentes e, mais significativo, confere um caráter tecnológico à vida contemporânea.
Quais são os desafios trazidos por esse avanço? A ética cristã é suficiente para responder aos aspectos relacionados às novas tecnologias? Como a igreja pode atuar nesse cenário tão desafiador?
É disso que trata a matéria de capa da edição 407 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Capitalismo e Progresso – um diagnóstico da sociedade ocidental, Bob Goudzwaard
» O Teste da Fé - Os cientistas também creem, Ruth Bancewicz
» Lamento. Bob Goudzwaard (1934-2024), por Pedro Dulci
» Existe uma abordagem cristã para a economia?, por Guilherme de Carvalho
Por Paulo Ribeiro
Conheci os escritos de Bob Goudzwaard (1934-2024) quando entrei para o corpo docente da Universidade Dordt, em Iowa, em 1987. Bob era um economista holandês de um tipo diferente. Em vez de falar sobre o crescimento como um indicador de um modo de vida próspero, ele alertou-nos para a necessidade de um princípio de “consumir menos” e de uma “economia de suficiência” e da “escassez de recursos”.
Como engenheiro, que tinha visto problemas do mundo real e como acadêmico, fiquei impressionado com a coragem de Bob em apontar para as implicações sociais mais amplas das políticas econômicas, por isso quis que os meus alunos pensassem sobre essas questões também em vez de se tornarem meros tecnocratas.
Goudzwaard criticou tanto o capitalismo como o socialismo, dizendo que ambos os sistemas podem levar a resultados degradantes quando priorizam os recursos materiais em detrimento do bem-estar de indivíduos e comunidades.
A sua ideia de "estruturação" em economia enfatizou a importância de compreender as infraestruturas e as dinâmicas subjacentes dos sistemas econômicos, em vez de se concentrar apenas em eventos de curto prazo. Bob enfatizava que a “economia” é uma responsabilidade humana normativa de formar o que foi dado.
Embora Bob provavelmente não conhecesse a disciplina “Engenharia de sistemas e sistemas de engenharia”, quando comecei a ministrar este curso, pensei que Bob havia abordado a economia com uma visão ES-SE devido ao amplo entendimento do desenvolvimento e sociedade.
Como em qualquer caso de pensador genuíno, as ideias de Bob foram rejeitadas pelo mundo acadêmico politicamente correto no auge de sua carreira (início dos anos 70) e ele não se tornou professor de economia, mas de filosofia cultural na Universidade Livre de Amsterdã.
Lembro-me de que, no meu ensaio final para o meu MBA na Universidade de Lynchburg, argumentei (contra a recomendação do meu orientador) que não existiam condições de concorrência verdadeiramente equitativas nos negócios internacionais. Que os países poderosos sempre jogavam na vantagem e, na maioria dos casos, explorando os mais fracos. O exemplo que usei foi o das plantações de bananas controladas pelos EUA na Nicarágua, com as consequências a longo prazo de que os camponeses pobres, sem esperança no futuro, viajavam para o norte para se tornarem imigrantes ilegais na América. As ideias de Bob estavam por trás do meu ensaio provocativo final.
Embora Bob fosse um cristão comprometido, ele também criticou a perspectiva estreita da igreja quando disse: “É mais fácil falar sobre a eutanásia e o aborto que você nunca sofrerá, do que ter que começar admitindo a sua culpa em relação aos problemas ao seu redor. A pobreza, por exemplo, está relacionada com o grau do nosso próprio enriquecimento”.
Talvez um dia o mercado reconheça as palavras de Bob Goudzwaard: “Um bom mercado não tem a ver apenas com o crescimento e ‘sempre mais’, mas com o florescimento das pessoas”.
Bob faleceu no sábado, dia 20 de abril, aos 90 anos, na esperança da redenção de todas as coisas para as quais ele se esforçou ao máximo para contribuir deste lado da eternidade.
REVISTA ULTIMATO | OS DESAFIOS ÉTICOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS
O avanço da tecnologia nas últimas décadas é maior do que em qualquer outra época da história. Tal aumento se dá em muitas frentes e, mais significativo, confere um caráter tecnológico à vida contemporânea.
Quais são os desafios trazidos por esse avanço? A ética cristã é suficiente para responder aos aspectos relacionados às novas tecnologias? Como a igreja pode atuar nesse cenário tão desafiador?
É disso que trata a matéria de capa da edição 407 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Capitalismo e Progresso – um diagnóstico da sociedade ocidental, Bob Goudzwaard
» O Teste da Fé - Os cientistas também creem, Ruth Bancewicz
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» Existe uma abordagem cristã para a economia?, por Guilherme de Carvalho
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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Ricardo Barbosa