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- 22 de julho de 2011
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Andando nas pegadas do Nazareno
Em artigo publicado na edição atual da Revista Ultimato, o teólogo Valdir Steuernagel relata sua visita recente à Israel. Mais do que um olhar turístico, ele enxerga a “Nazaré de Jesus” ainda ecoando nos corações dos que o buscam.
Publicamos agora aqui para todos os leitores este texto que está disponível somente aos assinantes da revista Ultimato.
Andando nas pegadas do Nazareno
Valdir Steuernagel*
O mar da Galileia se descortina diante dos meus olhos. O dia está bonito, a água é límpida e as pequenas ondas chegam despretensiosamente à praia, em ritmo cadenciado. Era assim no tempo de Jesus e assim continua sendo até hoje, quando revisito o sentido desse lugar. É claro que tudo está diferente. Como em tantos outros lugares do mundo, esta e outras cidades da Galileia estão cheias de arranha-céus e de hotéis turísticos à margem do lago. Porém, o mar não mudou.
Olhando para ele, lembro-me que Jesus andou por essas águas, o que foi relevante para os seus dias. A relevância de ontem é também a de hoje, independentemente de estarmos na Galileia ou em outro lugar. No mar sereno, vejo as pequenas ondas chegarem à praia novamente e penso: É assim que Deus chega perto de nós, novamente, e o faz em todos os mares, vales e montanhas da nossa vida. Ontem ele caminhou pelas praias da Galileia e andou sobre as suas águas. Foi há muito tempo, mas a memória dos seus feitos e a realidade da sua presença ainda permanecem, por mais diferente que seja a língua que se fala, a roupa que se veste ou a comida que está sobre a mesa. Eu agradeço por ele ter estado aqui ontem e por estar aqui e em toda parte hoje, com sua palavra encarnada e seu Espírito vivificador.
Tenho o privilégio de escrever este texto olhando para o mar onde Jesus gastou parte significativa do seu tempo de vida ministerial. Molho os pés na água e lembro-me que nos arredores desse mar Jesus curou enfermos, libertou pessoas de demônios e ensinou o povo as verdades do reino de Deus. A presença, a palavra e o toque de Jesus traziam às pessoas -- a maioria pobres, doentes e cansadas -- um encontro com o sentido da vida, a alegria de viver, a paz nas relações humanas, e o próprio significado do “shalom” de Deus.
Já estive em Israel antes. Dessa vez, porém, ao andar pelos lugares onde Jesus viveu e ministrou, sou tomado de profunda gratidão.
Jantamos em Magdala, terra de Maria Madalena, e passamos por Gadara, onde Jesus curou o endemoninhado. Porém, confesso que tenho dificuldade de enxergá-lo caminhando entre os pobres, pequenos e doentes, como fez no seu tempo, anunciando-lhes a palavra presencial da salvação. Afinal, esse lugar tornou-se um centro de grande atividade turística, onde tudo é motivo para um bom negócio. Sei que para o pobre daqui o turista pode viabilizar a sobrevivência. Porém, tudo parece produzido e editado, inclusive a parte do cristianismo. Em Cafarnaum, sobre a suposta casa da sogra de Pedro -- a quem Jesus curou -- construíram uma igreja. No lugar onde ele provavelmente pregou o Sermão do Monte, há outra igreja suntuosa. O diálogo entre o episódio original e a arquitetura atual parecem denunciar que enfeitamos Jesus de tal forma que corremos o risco de não nos encontrarmos com ele, que é o sentido e a necessidade mais profunda de toda a nossa vida. O que acontece é que apenas os turistas com dinheiro podem visitar a “terra prometida”.
Então chego a Nazaré. Nesta cidade grande e povoada há, em um pequeno pedaço de terra, uma vila reconstruída para que se experimente “a Nazaré onde Jesus viveu”. Nela, algumas ovelhas seguem as ordens do pastor, uma mulher chamada Ana produz e tece os fios de algodão, e o carpinteiro José trabalha com ferramentas iguais às usadas por Jesus.
Essa foi a experiência que mais me marcou. Sua simplicidade e o seu jeito de ser gente me mostraram uma vez mais o que significa a encarnação de Jesus e o seu incalculável valor para um mundo cansado, desagregado, opresso e doente. As ovelhas pastando, Ana em seu cotidiano e José com um pedaço de madeira na mão recebem a presença de um Jesus que se torna um deles e um de nós, para nos mostrar que Deus não nos esqueceu e nos possibilita um encontro com ele e com o caminho da salvação. Na pequena vila de Nazaré foi mais fácil vê-lo e ouvi-lo a me chamar para ser dele. Não seria esse o sentido da vocação dos discípulos, chamados a estar com ele e a segui-lo? Eles prontamente o fizeram. “Abandonaram o barco e, deixando tudo, o seguiram.” Em Nazaré foi mais fácil vê-lo por entre os caminhos pedregosos abraçando crianças, curando enfermos, sorrindo para um solitário e anunciando, ao expulsar o demônio, que o reino de Deus é chegado.
Daqui a alguns dias irei embora de Israel e logo estarei na África, em contato com a nossa gente que serve às crianças e aos pobres em lugares onde a fé é absolutamente minoritária, como aqui, onde os cristãos são em torno de 1% da população. O que fazemos na África fazemos também em Israel -- cuidamos dos pobres. Em ambos queremos ser testemunhas do amor de Deus, que em Jesus nos mostrou um caminho sobremodo excelente: amar a Deus de todo o nosso coração e ao próximo como a nós mesmos. Jesus, o Nazareno, fez isso por aqui, faz isso conosco e nos convida a fazê-lo em seu nome mundo afora. Aliás, para me encontrar com esse convite e com esse desafio de Deus para mim, eu nem precisava molhar os pés no mar da Galileia, pois ele me encontrou junto aos “meus próprios mares”, como diz o belo hino:
“Tu vieste à beira do lago,
Não buscaste nem prata nem ouro
Queres somente que eu te siga.
Senhor, olhaste em meus olhos
E sorrindo disseste meu nome
Lá na areia deixei o meu barco
Junto a ti buscarei outro mar.”
*É pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas.
Publicamos agora aqui para todos os leitores este texto que está disponível somente aos assinantes da revista Ultimato.
Andando nas pegadas do Nazareno
Valdir Steuernagel*
O mar da Galileia se descortina diante dos meus olhos. O dia está bonito, a água é límpida e as pequenas ondas chegam despretensiosamente à praia, em ritmo cadenciado. Era assim no tempo de Jesus e assim continua sendo até hoje, quando revisito o sentido desse lugar. É claro que tudo está diferente. Como em tantos outros lugares do mundo, esta e outras cidades da Galileia estão cheias de arranha-céus e de hotéis turísticos à margem do lago. Porém, o mar não mudou.
Olhando para ele, lembro-me que Jesus andou por essas águas, o que foi relevante para os seus dias. A relevância de ontem é também a de hoje, independentemente de estarmos na Galileia ou em outro lugar. No mar sereno, vejo as pequenas ondas chegarem à praia novamente e penso: É assim que Deus chega perto de nós, novamente, e o faz em todos os mares, vales e montanhas da nossa vida. Ontem ele caminhou pelas praias da Galileia e andou sobre as suas águas. Foi há muito tempo, mas a memória dos seus feitos e a realidade da sua presença ainda permanecem, por mais diferente que seja a língua que se fala, a roupa que se veste ou a comida que está sobre a mesa. Eu agradeço por ele ter estado aqui ontem e por estar aqui e em toda parte hoje, com sua palavra encarnada e seu Espírito vivificador.
Tenho o privilégio de escrever este texto olhando para o mar onde Jesus gastou parte significativa do seu tempo de vida ministerial. Molho os pés na água e lembro-me que nos arredores desse mar Jesus curou enfermos, libertou pessoas de demônios e ensinou o povo as verdades do reino de Deus. A presença, a palavra e o toque de Jesus traziam às pessoas -- a maioria pobres, doentes e cansadas -- um encontro com o sentido da vida, a alegria de viver, a paz nas relações humanas, e o próprio significado do “shalom” de Deus.
Já estive em Israel antes. Dessa vez, porém, ao andar pelos lugares onde Jesus viveu e ministrou, sou tomado de profunda gratidão.
Jantamos em Magdala, terra de Maria Madalena, e passamos por Gadara, onde Jesus curou o endemoninhado. Porém, confesso que tenho dificuldade de enxergá-lo caminhando entre os pobres, pequenos e doentes, como fez no seu tempo, anunciando-lhes a palavra presencial da salvação. Afinal, esse lugar tornou-se um centro de grande atividade turística, onde tudo é motivo para um bom negócio. Sei que para o pobre daqui o turista pode viabilizar a sobrevivência. Porém, tudo parece produzido e editado, inclusive a parte do cristianismo. Em Cafarnaum, sobre a suposta casa da sogra de Pedro -- a quem Jesus curou -- construíram uma igreja. No lugar onde ele provavelmente pregou o Sermão do Monte, há outra igreja suntuosa. O diálogo entre o episódio original e a arquitetura atual parecem denunciar que enfeitamos Jesus de tal forma que corremos o risco de não nos encontrarmos com ele, que é o sentido e a necessidade mais profunda de toda a nossa vida. O que acontece é que apenas os turistas com dinheiro podem visitar a “terra prometida”.
Então chego a Nazaré. Nesta cidade grande e povoada há, em um pequeno pedaço de terra, uma vila reconstruída para que se experimente “a Nazaré onde Jesus viveu”. Nela, algumas ovelhas seguem as ordens do pastor, uma mulher chamada Ana produz e tece os fios de algodão, e o carpinteiro José trabalha com ferramentas iguais às usadas por Jesus.
Essa foi a experiência que mais me marcou. Sua simplicidade e o seu jeito de ser gente me mostraram uma vez mais o que significa a encarnação de Jesus e o seu incalculável valor para um mundo cansado, desagregado, opresso e doente. As ovelhas pastando, Ana em seu cotidiano e José com um pedaço de madeira na mão recebem a presença de um Jesus que se torna um deles e um de nós, para nos mostrar que Deus não nos esqueceu e nos possibilita um encontro com ele e com o caminho da salvação. Na pequena vila de Nazaré foi mais fácil vê-lo e ouvi-lo a me chamar para ser dele. Não seria esse o sentido da vocação dos discípulos, chamados a estar com ele e a segui-lo? Eles prontamente o fizeram. “Abandonaram o barco e, deixando tudo, o seguiram.” Em Nazaré foi mais fácil vê-lo por entre os caminhos pedregosos abraçando crianças, curando enfermos, sorrindo para um solitário e anunciando, ao expulsar o demônio, que o reino de Deus é chegado.
Daqui a alguns dias irei embora de Israel e logo estarei na África, em contato com a nossa gente que serve às crianças e aos pobres em lugares onde a fé é absolutamente minoritária, como aqui, onde os cristãos são em torno de 1% da população. O que fazemos na África fazemos também em Israel -- cuidamos dos pobres. Em ambos queremos ser testemunhas do amor de Deus, que em Jesus nos mostrou um caminho sobremodo excelente: amar a Deus de todo o nosso coração e ao próximo como a nós mesmos. Jesus, o Nazareno, fez isso por aqui, faz isso conosco e nos convida a fazê-lo em seu nome mundo afora. Aliás, para me encontrar com esse convite e com esse desafio de Deus para mim, eu nem precisava molhar os pés no mar da Galileia, pois ele me encontrou junto aos “meus próprios mares”, como diz o belo hino:
“Tu vieste à beira do lago,
Não buscaste nem prata nem ouro
Queres somente que eu te siga.
Senhor, olhaste em meus olhos
E sorrindo disseste meu nome
Lá na areia deixei o meu barco
Junto a ti buscarei outro mar.”
*É pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas.
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