Opinião
- 10 de janeiro de 2012
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Amigos, amigos... nada à parte
Mando saudações a Priscila e ao seu marido Áquila,… ao meu querido amigo Epêneto,… a Maria,… a Andrônico e à irmã Júnia,… a Ampliato,… a Urbano,… ao meu querido amigo Estáquis,… a Apeles,… ao pessoal da família de Aristóbulo,… a Herodião,… aos irmãos no Senhor da família de Narciso,… a Trifena e a Trifosa,… à minha querida amiga Pérside,… a Rufo… e à mãe dele, que sempre me tratou como filho.… aos irmãos Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermase a todos os irmãos que estão com eles.… a Filólogo e a Júlia; a Nereu e à sua irmã; ao irmão Olimpos e a todas as pessoas do povo de Deus que estão com eles.… Timóteo,… Lúcio, Jasão e Sosípatro,… Gaio… Erasto… e o nosso irmão Quarto…
Paulo em Romanos 16.2…23 (NTLH)
Estamos no início de 2012 e recentemente completei um estudo da Carta aos Romanos. O final desta carta me traz um desafio importante enquanto penso no início do novo ano: o papel dos bons relacionamentos no estabelecimento do plano de Deus para o nosso mundo e o exercício da missão que Deus deu para a sua igreja.
Quando leio esta lista acima não posso deixar de lembrar dos meus primeiros dias no Brasil em 1977. Tantos nomes que eu nunca tinha ouvido falar! Eu estava muito mais acostumado com nomes do tipo: John, Jim, David, Bill, Jane, Sally, Liz. Tive também que decifrar os apelidos: Zé, Zí, Malu, Nando, e assim vai. Talvez a lista de Romanos também impressione por causa dos nomes estranhos. Mas se você conseguir ver além disso, perceberá algo extraordinário: Paulo teve muitos amigos e eles eram amigos íntimos. Outra coisa: ele sabia que o que importava nesta vida eram os relacionamentos. Claro que a teologia é importante. A exposição bíblica é importante. E muito, afinal, Paulo gastou muita tinta com estas coisas aqui mesmo, nesta carta. Mas no final do dia, importava também os relacionamentos e as amizades.
Muitos pensam na Carta aos Romanos como um tratado teológico, a magna carta de Paulo. E sem dúvida, ela é densa em reflexão teológica, tanto que serviu de grande motor de partida para a Reforma Protestante. Mas obviamente Paulo não estava pensando na Reforma Protestante quando escreveu esta carta. Pensava no quê? No seu próximo desafio missionário, imenso em comparação com os desafios anteriores nas províncias orientais do Império Romano. Pensava em avançar até as províncias ocidentais, até a Espanha e, por isso, precisava da simpatia dos cristãos romanos para encaminhá-lo (15.24).
Logo, a Carta aos Romanos era uma carta de apresentação de um missionário, o qual, aliás, já era notório, ainda que um tanto controvertido. E é por causa da controvérsia existente a seu respeito, especialmente com relação à sua posição sobre a inclusão dos gentios cristãos sem a exigência da circuncisão, que havia a necessidade da sua minuciosa explicação teológica, bem fundada biblicamente.*
E qual era a explicação? Que Deus se revelou na morte e ressurreição de Jesus e está agora no processo de endireitar (a palavra técnica é “justificar”) todas as coisas, começando com um povo renovado de Deus que vive de acordo com os seus propósitos. E isto, por sua vez, exige um tipo de comunhão e união que somente nasce de amizades feitas no céu.
Por que os bons relacionamentos são importantes? Porque a justificação pela fé, assunto dos primeiros oito capítulos, não só nos coloca em justa relação com Deus, mas também restabelece justos relacionamentos com o nosso próximo, como por exemplo, entre gentios e judeus, assunto dos capítulos 9 a 11, e também entre pessoas diferentes dentro da igreja, assunto dos capítulos 12 a 15.
Agora deu para entender porque Paulo terminou a sua carta saudando os seus amigos? É porque isto é a consequência da ação do evangelho nas nossas vidas. Uma palavra de outra sorte complicada, a justificação, se traduz em churrasco juntos, férias juntas, conversas abertas e carinhosas, atos de misericórdia e socorro. A palavra teológica “justificação” se traduz no dia-a-dia cristão em atos de amor (Romanos 12-13) e em relacionamentos não competitivos, mas sim, altruístas (Romanos 14). Os relacionamentos justos não só se referem negativamente aos tratamentos não opressivos e não egoístas. Mas se referem também positivamente aos relacionamentos regidos pelo amor, à base de toda a amizade (aliás, as duas palavras, amor e amizade, têm a mesma raiz).
Então, como Paulo saudava os seus amigos com muito carinho, quero também saudar cada um de vocês com o mesmo amor. Espero que, por meio desta coluna, possamos fazer novas amizades e aprofundar as velhas. Deus os abençoe neste início de 2012!
Que possamos celebrar a vinda daquele que possibilitou amizades divinas, porque a justiça que ele trouxe possibilita a justiça em nós que se manifesta nas nossas amizades.
* A maioria das citações bíblicas feitas por Paulo se encontra nesta única carta.
________
Timóteo Carriker é teólogo, missionário da Igreja Presbiteriana Independente, capelão d’A Rocha Brasil e surfista nas horas vagas. Pela Ultimato, é autor de A Visão Missionária na Bíblia e Trabalho, Descanso e Dinheiro. Timóteo é um dos novos colunistas do Portal Ultimato Online.
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