Opinião
- 06 de junho de 2022
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Ainda há tempo: o cuidado com a criação por causa do Evangelho
Por Kuki Rokhum
As notícias vindas da Índia ultimamente são como estas: no dia 8 de maio, a rede NDTV Índia noticiou a chegada de uma onda de calor ao país: "Uma forte onda de calor causa um grande aumento na temperatura em muitas regiões da Índia, chegando a até 46 °C em Delhi. A capital do país também registrou o seu segundo mês de abril mais quente em 72 anos, com uma temperatura média mensal máxima de 40,2 °C". Segundo a BBC News, "Uma onda de calor infernal tem arruinado a vida de milhões de pessoas na Índia, que precisam suportar o grande aumento da temperatura – a mais elevada em mais de 100 anos. A onda de calor que atingiu a Índia este ano tem sido particularmente severa, mas os especialistas dizem que esse não é um incidente isolado. Segundo eles, esse é um alerta do tipo de eventos climáticos que poderão se tornar mais comuns no futuro por conta do aumento das temperaturas".
Ao escrever isso, estou sentada em um lindo lugar nos arredores de Katmandu, no Nepal, rodeada por densas florestas e com uma bela vista dos Himalaias. O ar é limpo, a temperatura, amena e a paisagem é deslumbrante, o que me faz sentir instantaneamente mais alegre e próxima de Deus. Estou mais uma vez impressionada com a beleza da criação de Deus e tenho constantemente tirado fotografias. Enquanto respiro o ar puro e fresco, lembro-me do ar quente e poluído de Delhi, para onde terei de regressar em breve. Também me pergunto por quanto tempo este lugar permanecerá tão belo como é. Será apenas uma lembrança a ser compartilhada com as próximas gerações por meio de fotografias, como em muitas outras partes do mundo cujas fauna e flora foram extintas?
Como em todas as crises, são as pessoas pobres que mais sofrem com esse clima tão rigoroso. Muitos de nós permanecem protegidos com a ajuda de aparelhos de ar condicionado que ficam ligados por muitas horas e a única coisa de que nos queixamos são os cortes de energia. Os purificadores de ar funcionam sem parar para limpar o ar das nossas casas, protegendo-nos até certo ponto da poluição severa. Quanto mais consumo eletricidade, mais pressão existe para produzir eletricidade. Muitos reclamarão sobre quão inconvenientes são o calor e a súbita mudança nas condições climáticas. As pessoas pobres, contudo, não podem se dar ao luxo de reclamar – elas precisam continuar trabalhando apesar do calor.
Organizações da região estão se preparando para ajudar aqueles que foram severamente afetados pela onda de calor com o apoio de pessoas de todo o mundo. Enquanto organizações e pessoas com uma confissão de fé, temos sido excelentes no sentido de apoiar os que têm sido afetados. A resposta à pandemia da Covid-19, a assistência prestada em outras catástrofes e o trabalho de desenvolvimento que está em curso são testemunhos da eficácia da nossa resposta às consequências das crises ambientais e da generosidade de pessoas de todo o mundo. Mas com uma frequência crescente de catástrofes ambientais, precisamos considerar seriamente a prevenção dessas crises antes que elas aconteçam. Considere a maneira como contribuímos para destruir o meio ambiente ou como não respondemos ao primeiro chamado de Deus para os seres humanos – ou seja, o chamado para cuidar do mundo que Ele criou. Podemos responder aos sintomas das crises, mas também precisamos considerar suas causas fundamentais.
Cuidar da criação ou cuidar do mundo que Deus criou é muitas vezes visto como algo "opcional". Os que se interessam estão envolvidos. Aqueles que têm tempo estão envolvidos. Aqueles que são especialistas estão envolvidos. Isso é muito bom, mas afasta-nos da nossa atividade principal como cristãos. Como podemos continuar a destruir o mundo de Deus e afirmar que somos pessoas de fé?
Pesquisas e estudos feitos em diferentes partes do mundo (acesse o recente relatório da Tearfund Austrália clicando aqui) enfatizam que muitas pessoas nem sequer estão conscientes da razão pela qual os cristãos devem estar envolvidos no cuidado da criação. Muitas pessoas querem que a igreja faça algo a esse respeito, mas nunca ouvem falar sobre isso na igreja. Muitas pessoas, especialmente as mais jovens, querem que a igreja lhes ensine sobre isso, para que possam estar envolvidas com a convicção de que se trata de uma questão de fé.
Ao ler, ouvir e assistir aos recursos contidos neste boletim informativo, espero que eles abram os nossos olhos, corações e mentes para a importância de cuidar da criação, sabendo que isso é uma questão de fé e de justiça, uma vez que afeta as pessoas pobres de maneira tão desproporcional. Espero que nos inspiremos com o trabalho que já está sendo feito e que o utilizemos como modelo de compromisso onde quer que estejamos, lembrando que este é o mundo de Deus, que o florescimento de toda a criação é possível e que nós, como filhos e filhas de Deus, somos agentes de transformação! Tal como diz o Compromisso de Lausanne feito na Cidade do Cabo em 2010, que possamos estar envolvidos com a criação, não em vez do Evangelho, mas por conta do Evangelho. Não esperemos por outra pandemia ou onda de calor para lembrar de agir!
Sou lembrada de que, embora devêssemos ter agido "ontem", ainda há tempo de agir hoje.
- Kuki Rokhum, diretora de Treinamento e Mobilização, Eficor, Índia
Fonte: Editorial do boletim de Miquéias Global de 23/05/2022
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