Opinião
- 16 de junho de 2017
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Ai daqueles que planejam a maldade
MIQUÉIAS FALA HOJE
Por Valdir Steuernagel
Em uma declaração recente, intitulada “Por um país mais justo e verdadeiro”, a Aliança Cristã Evangélica Brasileira procurou retratar o momento que vivemos como nação brasileira dizendo que “Há um manto de tristeza que cobre o nosso país nestes últimos tempos. Tristeza que é fruto do descalabro político que nos assola e que emana dos níveis maiores da nossa República. Estamos estarrecidos junto com a nação ao vermos estruturas de corrupção e de apropriação de recursos públicos sendo sistematicamente reveladas em valores inimagináveis e com vergonhosa naturalidade. A população brasileira está cansada, irada e inconformada com tantos desmandos, tanta exploração e tanta falta de vergonha e de compromisso com o outro e com a própria sociedade.”
Não é fácil encontrar entre nós quem não tenha sido afetado pela desgraça dessa situação e quem tenha alguma esperança quanto à possibilidade de reformas que brotem do nosso corrompido arcabouço político, ainda que qualquer solução que não caminhe dentro dos marcos democráticos e constitucionais deva ser fortemente repelida.
Nesta hora de nuvens e lamento em nossa sociedade o povo de Deus volta-se a Ele em clamor por conversão, misericórdia e justiça. E volta à Palavra que Deus nos legou e que é, sempre novamente, fonte de consolo, denúncia, misericórdia e esperança, mesmo que nem sempre estas palavras caminhem juntas e ou em sequência. Aliás, como se pode dizer que o povo de Deus volta-se a Ele em oração e em escuta, se esse mesmo povo não se distingue de todos os demais e muitos dos seus líderes parecem jogar o mesmo jogo de favores e privilégios? Por isso, neste momento, o único jeito de se voltar a Deus é em conversão e arrependimento.
Convém lembrar que a Palavra de Deus fala contra nós e denuncia toda injustiça, maldade e idolatria tão presentes em nós e entre nós. Ela é também uma palavra de esperança, que se concretiza como fruto do arrependimento e da conversão. Abrir a Palavra de Deus, neste momento, nos conduz ao encontro dos profetas de Deus. Dentre eles, ouçamos o que diz Miquéias, um profeta que vem do interior de Judá, na segunda metade do século VIII a.C.
“Ouçam o que diz o Senhor” (Mq 6:1)
Miqueias convoca o seu povo a ouvir, confrontando-os com uma palavra de acusação, apresentando-lhes o julgamento de Deus e finalizando esse chamado, em diferentes momentos, com uma palavra de promessa e de bênção.
Ele fala com força e franqueza, e chama o povo ao arrependimento, dizendo-lhes que não há outro caminho e é sempre melhor ouvir quando Deus fala. Miquéias diz que Deus se importa com a maneira como estamos vivendo, com os relacionamentos que estabelecemos e com a expressão de nossa espiritualidade. É uma palavra contra nós porque mostra o amor de Deus por nós. É uma mensagem que vem do amor e exige amor.
Não é fácil escutar Miquéias, pois sua palavra é dura e forte. Basta olhar para o capítulo 6. Aqui ele é a voz do Senhor que clama à cidade com uma pergunta que denuncia:
Não há, na casa do ímpio,
o tesouro da impiedade
e a medida falsificada, que é maldita?
Poderia alguém ser puro
com balanças desonestas
e pesos falsos?
Os ricos que vivem entre vocês
são violentos;
o seu povo é mentiroso
e as suas línguas falam enganosamente. (v. 10-12)
Ele, também denuncia qualquer intento de comprar a Deus em meio aos procedimentos injustos e o faz numa linguagem de sacrifício entendível em sua época:
Deveria oferecer holocaustos
de bezerros de um ano?
Ficaria o Senhor satisfeito
com milhares de carneiros,
com dez mil ribeiros de azeite?
Devo oferecer o meu filho mais velho
por causa da minha transgressão,
o fruto do meu corpo
por causa do pecado que eu cometi? (v. 6-7)
Essas duas denúncias devem ser trazidas para dentro da nossa cotidiana realidade – uma realidade que pratica a injustiça com “balanças desonestas e pesos falsos”, usando linguagem parabólica, onde reina iniquidade e onde poucos têm muito e exploram os que têm muito pouco, do que testifica a revelação de sistemáticos desvios de recursos públicos para as contas correntes de poucos. O triste é que essas balanças e contas também podem pertencer a nomes que nos domingos prestam culto em nossas igrejas, onde são reverenciados.
Noutro momento são denunciadas as diversas e insistentes tentativas de comprar a Deus com as mais variadas ofertas, dissimulando a prática da injustiça, da exploração e da mentira. Deus, porém, não cai em nossas tentativas de manipulação religiosa, mas as repele radicalmente; e assim nós mesmos nos colocamos sob o seu juízo. O profeta aponta para outro caminho:
Ele mostrou a você, ó homem,
o que é bom
e o que o Senhor exige:
pratique a justiça, ame a fidelidade
e ande humildemente com o seu Deus. (v. 8)
Praticar a justiça, amar a fidelidade e andar humildemente com Deus é o que se espera de nós. E nós sabemos o que isso significa. O problema é que não o queremos. Desculpe terminar assim, mas o fato é que não queremos nos converter e ainda achamos que se continuarmos oferecendo a Deus as nossas práticas religiosas Ele irá aceitá-las. Mas Ele não vai. Então é preciso dizer: “Ai daqueles que planejam a maldade!”.
• Valdir Steuernagel é pastor na Comunidade do Redentor, em Curitiba, PR. É colunista da revista Ultimato e faz parte da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Mundial e da Visão Mundial
Por Valdir Steuernagel
Em uma declaração recente, intitulada “Por um país mais justo e verdadeiro”, a Aliança Cristã Evangélica Brasileira procurou retratar o momento que vivemos como nação brasileira dizendo que “Há um manto de tristeza que cobre o nosso país nestes últimos tempos. Tristeza que é fruto do descalabro político que nos assola e que emana dos níveis maiores da nossa República. Estamos estarrecidos junto com a nação ao vermos estruturas de corrupção e de apropriação de recursos públicos sendo sistematicamente reveladas em valores inimagináveis e com vergonhosa naturalidade. A população brasileira está cansada, irada e inconformada com tantos desmandos, tanta exploração e tanta falta de vergonha e de compromisso com o outro e com a própria sociedade.”
Não é fácil encontrar entre nós quem não tenha sido afetado pela desgraça dessa situação e quem tenha alguma esperança quanto à possibilidade de reformas que brotem do nosso corrompido arcabouço político, ainda que qualquer solução que não caminhe dentro dos marcos democráticos e constitucionais deva ser fortemente repelida.
Nesta hora de nuvens e lamento em nossa sociedade o povo de Deus volta-se a Ele em clamor por conversão, misericórdia e justiça. E volta à Palavra que Deus nos legou e que é, sempre novamente, fonte de consolo, denúncia, misericórdia e esperança, mesmo que nem sempre estas palavras caminhem juntas e ou em sequência. Aliás, como se pode dizer que o povo de Deus volta-se a Ele em oração e em escuta, se esse mesmo povo não se distingue de todos os demais e muitos dos seus líderes parecem jogar o mesmo jogo de favores e privilégios? Por isso, neste momento, o único jeito de se voltar a Deus é em conversão e arrependimento.
Convém lembrar que a Palavra de Deus fala contra nós e denuncia toda injustiça, maldade e idolatria tão presentes em nós e entre nós. Ela é também uma palavra de esperança, que se concretiza como fruto do arrependimento e da conversão. Abrir a Palavra de Deus, neste momento, nos conduz ao encontro dos profetas de Deus. Dentre eles, ouçamos o que diz Miquéias, um profeta que vem do interior de Judá, na segunda metade do século VIII a.C.
“Ouçam o que diz o Senhor” (Mq 6:1)
Miqueias convoca o seu povo a ouvir, confrontando-os com uma palavra de acusação, apresentando-lhes o julgamento de Deus e finalizando esse chamado, em diferentes momentos, com uma palavra de promessa e de bênção.
Ele fala com força e franqueza, e chama o povo ao arrependimento, dizendo-lhes que não há outro caminho e é sempre melhor ouvir quando Deus fala. Miquéias diz que Deus se importa com a maneira como estamos vivendo, com os relacionamentos que estabelecemos e com a expressão de nossa espiritualidade. É uma palavra contra nós porque mostra o amor de Deus por nós. É uma mensagem que vem do amor e exige amor.
Não é fácil escutar Miquéias, pois sua palavra é dura e forte. Basta olhar para o capítulo 6. Aqui ele é a voz do Senhor que clama à cidade com uma pergunta que denuncia:
Não há, na casa do ímpio,
o tesouro da impiedade
e a medida falsificada, que é maldita?
Poderia alguém ser puro
com balanças desonestas
e pesos falsos?
Os ricos que vivem entre vocês
são violentos;
o seu povo é mentiroso
e as suas línguas falam enganosamente. (v. 10-12)
Ele, também denuncia qualquer intento de comprar a Deus em meio aos procedimentos injustos e o faz numa linguagem de sacrifício entendível em sua época:
Deveria oferecer holocaustos
de bezerros de um ano?
Ficaria o Senhor satisfeito
com milhares de carneiros,
com dez mil ribeiros de azeite?
Devo oferecer o meu filho mais velho
por causa da minha transgressão,
o fruto do meu corpo
por causa do pecado que eu cometi? (v. 6-7)
Essas duas denúncias devem ser trazidas para dentro da nossa cotidiana realidade – uma realidade que pratica a injustiça com “balanças desonestas e pesos falsos”, usando linguagem parabólica, onde reina iniquidade e onde poucos têm muito e exploram os que têm muito pouco, do que testifica a revelação de sistemáticos desvios de recursos públicos para as contas correntes de poucos. O triste é que essas balanças e contas também podem pertencer a nomes que nos domingos prestam culto em nossas igrejas, onde são reverenciados.
Noutro momento são denunciadas as diversas e insistentes tentativas de comprar a Deus com as mais variadas ofertas, dissimulando a prática da injustiça, da exploração e da mentira. Deus, porém, não cai em nossas tentativas de manipulação religiosa, mas as repele radicalmente; e assim nós mesmos nos colocamos sob o seu juízo. O profeta aponta para outro caminho:
Ele mostrou a você, ó homem,
o que é bom
e o que o Senhor exige:
pratique a justiça, ame a fidelidade
e ande humildemente com o seu Deus. (v. 8)
Praticar a justiça, amar a fidelidade e andar humildemente com Deus é o que se espera de nós. E nós sabemos o que isso significa. O problema é que não o queremos. Desculpe terminar assim, mas o fato é que não queremos nos converter e ainda achamos que se continuarmos oferecendo a Deus as nossas práticas religiosas Ele irá aceitá-las. Mas Ele não vai. Então é preciso dizer: “Ai daqueles que planejam a maldade!”.
• Valdir Steuernagel é pastor na Comunidade do Redentor, em Curitiba, PR. É colunista da revista Ultimato e faz parte da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Mundial e da Visão Mundial
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