Opinião
- 12 de dezembro de 2022
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Abraham Kuyper – dos humildes começos à tradição reformada
Uma igreja que passou a orar pela conversão completa de seu pastor
Por Anderson Paz
Por Anderson Paz
Abraham Kuyper nasceu em 29 de outubro de 1837, em Maassluis, Holanda. Sua mãe, Henrietta Huber, fora governanta e professora de um internato feminino em Amsterdã. Seu pai, Jan Frederik Kuyper, era pastor da Igreja nacional, Igreja Reformada Neerlandesa, que seguia o calvinismo mas atenuava alguns pontos centrais das confissões reformadas. Em 1849, quando Kuyper tinha doze anos, o reverendo Frederik aceitou o convite para pastorear uma igreja de uma cidade universitária, Leyden. A família se mudou para Leyden, onde o jovem Kuyper recebeu educação em línguas antigas e modernas durante seu ginásio.
Kuyper estudava, nessa época, latim, francês, inglês, alemão, grego, hebraico, filosofia, história, matemática e literatura de seu país. Em 1855, “Kuyper começou os estudos de teologia e literatura na Universidade de Leyden. Por volta de 1858, terminou a primeira graduação, tendo sido aprovado nos exames em literatura, filosofia e línguas clássicas summa cum laude”. A Universidade de Leyden gozava de grande prestígio e preparava a futura liderança do país.
Nessa época, Kuyper se afastou mais da família para se dedicar aos estudos e começou a demonstrar certo descontentamento com a Igreja. Ainda em 1858, Kuyper conheceu Johanna Schaay com quem noivou aos vinte e um anos de idade. Em 1863, os dois se casaram e tiveram, ao longo da vida, cinco filhos e três filhas. Schaay foi professora de francês de um internato feminino e, apesar de ter sido assediada por Kuyper para aceitar uma fé liberal, ela nunca deixou sua ortodoxia.
No período de estudos na Universidade de Leyden, Kuyper esteve sob influência da teologia liberal alemã e holandesa e passou a aceitar que Jesus fora apenas um humano com consciência moral divina. Em 1859, Kuyper resolveu participar, a partir da sugestão de seu professor favorito, Mathijs de Vries, professor de literatura, de um concurso de teologia da Universidade de Groningen que premiaria o melhor texto que comparasse a eclesiologia de João Calvino com a de Jan Laski (João de Lasco), reformador polonês do século XVI.
Kuyper se dedicou compulsivamente à pesquisa dos textos de Laski e produção de seu ensaio por oito meses. Ele só encontrou um acervo substancial das obras de Laski com o pai de seu professor De Vries, o pastor Abraham de Vries. Kuyper produziu um texto de aproximadamente trezentas páginas em latim e se aproximou de textos reformados que defendiam que Deus intervém na história humana. E, em 1860, venceu o concurso e recebeu medalha de ouro e honrarias.
Kuyper se dedicou compulsivamente à pesquisa dos textos de Laski e produção de seu ensaio por oito meses. Ele só encontrou um acervo substancial das obras de Laski com o pai de seu professor De Vries, o pastor Abraham de Vries. Kuyper produziu um texto de aproximadamente trezentas páginas em latim e se aproximou de textos reformados que defendiam que Deus intervém na história humana. E, em 1860, venceu o concurso e recebeu medalha de ouro e honrarias.
Após esses meses de dedicação, Kuyper teve um período de exaustão física e mental, mas terminou sua graduação em teologia, em 1861. No ano seguinte, transformou seu trabalho já conhecido em tese de doutorado e obteve o título de doutor em Teologia Sagrada, com cerca de 26 anos de idade. Em 1863, Kuyper se mostrava preocupado com suas finanças e com a possibilidade de permanecer em uma pequena igreja de uma área rural pelo resto da vida. Suas cartas desse momento revelam sua ansiedade e dedicação para alcançar o sucesso. No mesmo ano, Kuyper se tornou pastor de uma pequena congregação em Beesd. Contudo, pouco antes de assumir essa igreja, Kuyper começou um processo de retorno ao cristianismo ortodoxo.
No período que passou na Universidade, Kuyper aceitara a teologia liberal, mas, com a leitura de um livro, dado por sua esposa Johanna, um romance de Charlotte M. Yonge, uma romancista cristã inglesa, “O Herdeiro de Redclyffe”, Kuyper reconheceu sua pobreza espiritual no personagem Philip, a necessidade de uma fé simples e de uma Igreja ajudadora que o personagem Guy desfruta na história. A leitura desse livro contribuiu para o começo de um processo de retorno de Kuyper à fé ortodoxa aprendida na infância com seu pai.
Kuyper, então, assumiu o pastorado da Igreja local de Beesd, em 1863. Ainda não havia rejeitado completamente o liberalismo teológico, mas já demonstrava abertura à ortodoxia. Passou quatro anos em Beesd (1863-67), tempo em que desenvolveu sua fé e que desaprendeu “parte do que aprendera na universidade, repensando os elementos essenciais do cristianismo, e já coerindo os rudimentos do kuyperismo”.
Os membros daquela comunidade eram majoritariamente agricultores iletrados que cultivavam uma profunda fé e conhecimento das Escrituras. Eram calvinistas rurais. Em suas visitas pastorais a membros conhecidamente descontentes com o liberalismo teológico de seu pastor, Kuyper conheceu uma das mulheres da Igreja, Pietje Baltus, que acusou seu pastor de não pregar a Palavra de Deus à comunidade e de não ensinar-lhes as confissões reformadas.
Os membros simples da comunidade se mostraram convictos e com uma cosmovisão ordenada. Eles confrontaram o pastor Kuyper a seguir o evangelho de Cristo. Em Beesd, Kuyper viu “os artigos e confissões de fé (como os Cânones de Dort e o Catecismo de Heidelberg) serem vividos de forma mais vigorosa no seio comunitário”. Os membros da comunidade também passaram a orar pela conversão completa de seu pastor. A firme convicção daqueles membros em sua fé ortodoxa, a vida comunitária daquela Igreja e a cosmovisão de tradição reformada daqueles irmãos impactaram a vida de Kuyper.
Outro acontecimento que contribuiu para sua conversão completa à ortodoxia cristã foi a obra “O Evangelho de João”, de 1864, de seu antigo professor liberal que havia se voltado à ortodoxia, Jan Hendrik Scholten. Essa obra levou Kuyper a romper com o liberalismo teológico. Scholten havia sido o teólogo liberal que mais influenciara Kuyper na universidade. O abandono de Scholten do liberalismo teológico foi um evento que marcou Kuyper profundamente. Os acontecimentos relatados contribuíram para uma mudança radical do pensamento e vida de Kuyper.
Continua em Abraham Kuyper – “um dom de Deus para nossa época”, com um pequeno relato da vida e obra de Kuyper após sua completa conversão à fé cristã.
>> Conheça Calvinismo para uma Era Secular – Uma leitura contemporânea de Abraham Kuyper (editora Ultimato)
>> Conheça Calvinismo para uma Era Secular – Uma leitura contemporânea de Abraham Kuyper (editora Ultimato)
- Anderson Paz é membro da Igreja do Betel Brasileiro em João Pessoa, PB. Advogado, é doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco.
Saiba mais:
» Sou Eu, Calvino: conversas com o Reformador - Uma Biografia, Elben Magalhães Lenz César
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