Opinião
- 19 de abril de 2024
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A vocação não mudou. E vale até ele me chamar para casa
Andemos com o Senhor para que, pela graça, possamos ser fiéis, cada um no seu lugar e tempo, até o fim. Pois Deus é fiel
Por Francisco Leonardo Schalkwijk
Sessenta +
Agradeço a Ultimato pelo convite para escrever algo pessoal para a coluna “Sessenta+”.
Eu sabia que Deus me tinha chamado para ser missionário e em primeiro lugar dou graças a Deus por minha esposa nesta peregrinação. Este ano faz setenta anos que ela disse “sim” e noivamos, casando-nos três anos depois, quando eu já tinha sido ordenado pastor. Na Holanda se usava ainda a expressão Verbi Divini Minister, um servo da Palavra de Deus. Esta vocação não mudou. Já me perguntaram sobre uma outra ocupação; mas não mudei, pois essa chamada vale até ele me chamar para casa.
Em 2021 minha esposa adoeceu gravemente e em março nos mudamos para o Brasil para estar com nossa filha Adriana, esposa de Paulo Ribeiro, que é médica em Itajubá, MG. No avião me perguntei o que eu deveria fazer no Brasil. A orientação era clara: 1) cuidar bem da minha esposa; 2) pregar de vez em quando. E felizmente posso fazer ambos, sem sair de casa, via Zoom, e ainda ajudar (futuros) obreiros dando aulas, via internet, na Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FITRef). É urgente, pois, de certo, o tempo da graça está se findando para povos não judaicos (Lc 21.24). Infelizmente, na Holanda isto já está mais claro; aqui ainda temos mais abertura para o evangelho. Quando apresento a alguém o livro Deus é Fiel, já pelo título, o agradecimento é sincero.
Mas o tempo está correndo também para mim, e estou velho. A coluna já está reclamando bem mais, devido a um problema por causa do ministério no interior do Paraná sem asfalto nos anos 1960. Mas o faria de novo! Que trabalho de campo maravilhoso! Levou meio ano para eu me acalmar no seminário em Recife até me conscientizar que Deus tinha me chamado para ajudar jovens que estavam se preparando para o trabalho... no campo!
Agora, vendo a minha esposa doente, me dói o coração. E quando surgem queixas, mando embora o diabo com todos os seus “por quês?”, pois o Espírito Santo nos admoesta a fazer assim em nome do Senhor Jesus. Pela graça, o que sobressai é a gratidão. Meu pai terrestre cantava uma estrofe rimada do Salmo 77 que dizia: “Vou com gratidão dizer/ do meu Deus o bem-fazer/ e em vez de me queixar/ vou seu nome exaltar!” (Sl 77.10-11). Por isso, de manhã, ainda na cama, em silêncio, canto sempre em holandês o Salmo 146 rimado.
Perguntaram também sobre o que faço para a família. Bom, vocês já sabem que houve uma troca, pois ela sempre cuidava de mim, agora posso cuidar dela. Felizmente temos uma ajudante durante o dia, mas há mais trabalho. Deus nos deu uma herança de oito filhos e muitos netos, bisnetos e tataranetos. Eles querem saber como a Oma/Bisoma vai. E que milagre, hoje em dia existe um telefone sem alavanca e sem fio, até com televisão, chamado “what’s up”... Desculpe: WhatsApp! Lembro-me dos anos no oeste do Paraná quando havia telefone, mas tinha de girar uma alavanquinha; a gente tinha de gritar e ainda não conseguia ouvir bem. Numa viagem, atrasei três dias e ela ouviu uma notícia de que um pastor que andava num jipe verde tinha se desastrado. De fato, mas eu estava no enterro do colega... E hoje até assistimos a um livestream do culto em Nova Zelândia por ocasião do falecimento da minha cunhada. E não podemos nos esquecer de orar pela tropa e escrever aos netos pelo seu aniversário. Ainda preparar uma zoom-mensagem e aulas para o próximo módulo sobre a época da Reforma na FITRef. E também responder a perguntas como: “Opa, pastor, como foi...” e “Será que o senhor já teve seus planos frustrados?”. “Meu filho, já perdi a conta. Mas aprendi que não é tão importante onde a gente trabalha desde que sejamos fiéis.” Por isso esses dois peregrinos estão anotando umas memórias das bênçãos do Fiel.
Andemos com o Senhor para que, pela graça, possamos ser fiéis, cada um no seu lugar e tempo, até o fim. Pois Deus é fiel.
Artigo publicado originalmente na edição 393 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – “O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?”
Nem bens materiais nem espirituais – vida, família, igreja, recursos, formação, reconhecimento do pecado e da necessidade de Deus, fé, dons – são gerados a partir de nós. Em nada temos mérito. Tudo o que temos foi recebido. E a fonte, a inspiração primeira, o doador, é Deus.
O exercício constante de gratidão pela graça de Deus operando em nós transforma a igreja internamente, desdobra-se em outras virtudes e direciona ações para o mundo. Crentes gratos podem fazer a diferença em larga escala.
É disso que trata a matéria de capa da edição 406 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Eleição e Livre-Arbítrio - confissões de um peregrino, Francisco Leonardo Schalkwijk
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» Fui Moço, Agora Sou Velho... E Daí?, Kléos Magalhães Lenz César
» Envelhecemos - A arte de continuar, edição 404 de Ultimato
» A vocação não tem validade, por Marcos Bontempo
Por Francisco Leonardo Schalkwijk
Sessenta +
Agradeço a Ultimato pelo convite para escrever algo pessoal para a coluna “Sessenta+”.
Eu sabia que Deus me tinha chamado para ser missionário e em primeiro lugar dou graças a Deus por minha esposa nesta peregrinação. Este ano faz setenta anos que ela disse “sim” e noivamos, casando-nos três anos depois, quando eu já tinha sido ordenado pastor. Na Holanda se usava ainda a expressão Verbi Divini Minister, um servo da Palavra de Deus. Esta vocação não mudou. Já me perguntaram sobre uma outra ocupação; mas não mudei, pois essa chamada vale até ele me chamar para casa.
Em 2021 minha esposa adoeceu gravemente e em março nos mudamos para o Brasil para estar com nossa filha Adriana, esposa de Paulo Ribeiro, que é médica em Itajubá, MG. No avião me perguntei o que eu deveria fazer no Brasil. A orientação era clara: 1) cuidar bem da minha esposa; 2) pregar de vez em quando. E felizmente posso fazer ambos, sem sair de casa, via Zoom, e ainda ajudar (futuros) obreiros dando aulas, via internet, na Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FITRef). É urgente, pois, de certo, o tempo da graça está se findando para povos não judaicos (Lc 21.24). Infelizmente, na Holanda isto já está mais claro; aqui ainda temos mais abertura para o evangelho. Quando apresento a alguém o livro Deus é Fiel, já pelo título, o agradecimento é sincero.
Mas o tempo está correndo também para mim, e estou velho. A coluna já está reclamando bem mais, devido a um problema por causa do ministério no interior do Paraná sem asfalto nos anos 1960. Mas o faria de novo! Que trabalho de campo maravilhoso! Levou meio ano para eu me acalmar no seminário em Recife até me conscientizar que Deus tinha me chamado para ajudar jovens que estavam se preparando para o trabalho... no campo!
Agora, vendo a minha esposa doente, me dói o coração. E quando surgem queixas, mando embora o diabo com todos os seus “por quês?”, pois o Espírito Santo nos admoesta a fazer assim em nome do Senhor Jesus. Pela graça, o que sobressai é a gratidão. Meu pai terrestre cantava uma estrofe rimada do Salmo 77 que dizia: “Vou com gratidão dizer/ do meu Deus o bem-fazer/ e em vez de me queixar/ vou seu nome exaltar!” (Sl 77.10-11). Por isso, de manhã, ainda na cama, em silêncio, canto sempre em holandês o Salmo 146 rimado.
Perguntaram também sobre o que faço para a família. Bom, vocês já sabem que houve uma troca, pois ela sempre cuidava de mim, agora posso cuidar dela. Felizmente temos uma ajudante durante o dia, mas há mais trabalho. Deus nos deu uma herança de oito filhos e muitos netos, bisnetos e tataranetos. Eles querem saber como a Oma/Bisoma vai. E que milagre, hoje em dia existe um telefone sem alavanca e sem fio, até com televisão, chamado “what’s up”... Desculpe: WhatsApp! Lembro-me dos anos no oeste do Paraná quando havia telefone, mas tinha de girar uma alavanquinha; a gente tinha de gritar e ainda não conseguia ouvir bem. Numa viagem, atrasei três dias e ela ouviu uma notícia de que um pastor que andava num jipe verde tinha se desastrado. De fato, mas eu estava no enterro do colega... E hoje até assistimos a um livestream do culto em Nova Zelândia por ocasião do falecimento da minha cunhada. E não podemos nos esquecer de orar pela tropa e escrever aos netos pelo seu aniversário. Ainda preparar uma zoom-mensagem e aulas para o próximo módulo sobre a época da Reforma na FITRef. E também responder a perguntas como: “Opa, pastor, como foi...” e “Será que o senhor já teve seus planos frustrados?”. “Meu filho, já perdi a conta. Mas aprendi que não é tão importante onde a gente trabalha desde que sejamos fiéis.” Por isso esses dois peregrinos estão anotando umas memórias das bênçãos do Fiel.
Andemos com o Senhor para que, pela graça, possamos ser fiéis, cada um no seu lugar e tempo, até o fim. Pois Deus é fiel.
Artigo publicado originalmente na edição 393 de Ultimato.
- Francisco Leonardo Schalkwijk, 94 anos, mora em Itajubá, MG, com sua esposa, Margarida, com quem serviu como missionário no Brasil por quase quarenta anos. É autor de Eleição e Livre-Arbítrio - confissões de um peregrino, Igreja e Estado no Brasil Holandês (1630–1654) e da gramática grega Coinê.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – “O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?”
Nem bens materiais nem espirituais – vida, família, igreja, recursos, formação, reconhecimento do pecado e da necessidade de Deus, fé, dons – são gerados a partir de nós. Em nada temos mérito. Tudo o que temos foi recebido. E a fonte, a inspiração primeira, o doador, é Deus.
O exercício constante de gratidão pela graça de Deus operando em nós transforma a igreja internamente, desdobra-se em outras virtudes e direciona ações para o mundo. Crentes gratos podem fazer a diferença em larga escala.
É disso que trata a matéria de capa da edição 406 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Eleição e Livre-Arbítrio - confissões de um peregrino, Francisco Leonardo Schalkwijk
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» Fui Moço, Agora Sou Velho... E Daí?, Kléos Magalhães Lenz César
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Ricardo Barbosa