Opinião
- 09 de fevereiro de 2007
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A TV nossa de cada dia
por Rubem Amorese
"Os donos de emissoras fariam muito se não levassem ao ar o lixo que recusam em suas casas." É assim que começa seu artigo na revista Veja o jornalista Eugênio Bucci. Seu título é expressivo: "A casa alheia como esgoto". Parece que o autor está "buzina" com o que recebe em sua casa. Parece também que as respostas que os donos de emissora dão não o convencem. Sabe o que dizem esses "senhores da mídia"? "Se não gostar, desligue; fica claro que nossa programação não é para você; mas é totalmente antidemocrático você querer imaginar que, porque você não gosta, ninguém mais pode assistir".
O que você acha dessa controvérsia, leitor? Acha que o botão de desligar tira a responsabilidade dos ombros das emissoras? Aí está uma boa conversa, não?
Bem, gostaria de começar com outra citação, que nos fornecerá dados estatísticos. Outra jornalista, Andréia Peres, escrevendo em Cláudia:
Considerados inofensivos por pais, anunciantes e emissoras, os programas infantis exibem cenas de assédio e de abuso sexual e têm um conteúdo machista e preconceituoso, que freqüentemente passa despercebido. Os seguintes números revelam resultado de pesquisa em 151 horas e 30 minutos de programação infantil: 49 incidências de estereótipos sexuais; 46 estímulos eróticos visuais; 45 de culto ao corpo; 43 atitudes sensuais; 36 relações de gênero; 18 estímulos eróticos verbais; 15 carícias eróticas; 12 piadas maliciosas; 10 estímulos musicais; 9 referências a homossexualismo; 8 fantasias sexuais envolvendo ou não fetiches; 8 relações sexuais simuladas e insinuadas; 7 referências a sexualidade; 2 referências a intenção de ter filhos.
Uma primeira coisa a dizer é o peso que opiniões como esta têm no cenário nacional. Seriam apenas alguns beatos choramingando pelos cantos o leite derramado? Essa mesma pergunta se fez uma comissão especial do Senado Federal, criada para analisar a programação de rádio e televisão brasileira. Do levantamento feito rapidamente, descobriram nada menos que 91 artigos lamentando o nível de nossa programação. E não são artigos escritos por padres, pastores e professoras do interior. São artigos de gente como Gilberto Dimenstein, Boris Casoy, Marta Suplicy, deputados federais, senadores, juízes da infância e da juventude etc.
Mais ainda. A citada comissão mandou levantar quantos projetos de lei estavam em andamento, naquela exata semana, no Congresso Nacional; projetos exclusivamente destinados a limitar a liberdade dos canais abertos de televisão. E encontraram 131 propostas! Isso significa que os parlamentares, sensíveis aos anseios de suas bases, estavam, no Parlamento, repercutindo pressões sofridas.
Isso nos dá uma idéia do inconformismo de parte de nossa sociedade, com os programas do tipo Gugu Liberato, Ratinho, Sai de Baixo, Escolinha, Casseta & Planeta, Zorra Total, "Louras" etc., além de filmes e novelas. Veja o que diz, a respeito, J. Pereira (Jornalista), no Estado de São Paulo:
Pelo que se observa, muita gente ... está interpretando a liberdade reconquistada como licença plena para tudo dizer, mostrar, expressar sem, em contrapartida, haver responsabilidades a ser assumidas (...). O fato de não haver mais censura não significa que o cidadão, o artista, o escritor, o intelectual tenham o absurdo privilégio de pretender, por exemplo, erigir o obsceno, em arte, a comunicação, como forma de violentar a moral vigente, atropelando-a escandalosamente com cenas, gestos, atitudes e palavras ditas artísticas mas, efetiva e audaciosamente pornográficas ou vexatórias e constrangedoras para quem as assiste, mas que, ao que parece, fazem as delícias de quem as produz, ou participa delas, e dos espíritos ditos mais avançados.
Por outro lado, com fina ironia, Veja nos mostra, em sua seção de comportamento, que muitos pais não estão nem aí para a questão. Ela diz assim:
Uma pesquisa mostra "com quantos tiros e cenas eróticas a televisão cria as crianças enquanto os pais acham tudo natural". Capa: "Uma semana no vídeo: 1.145 cenas de nudez; 276 relações sexuais; 72 palavrões; 707 brigas e facadas; 1.940 tiros".
Sim, tem gente que está achando tudo muito natural. Tanto para si quanto para seus filhos. É por isso que a programação não muda. As emissoras e os programas sobrevivem do Ibope. Daí dizerem que a maioria está gostando e aprovando.
Você pode estar pensando: eu não sou uma criança; portanto não estou na faixa de preocupação dessas autoridades e pais. Eu assisto o que acho que devo e isso não prejudica ninguém.
Muito bem, pergunto: se "todos no mundo fossem iguais a você" como seria a nossa programação de TV? Seria boa para nós e para nossos filhos (presentes ou futuros)? Se o Ibope pesquisasse apenas 5 mil clones seus, o Gugu, o Faustão e o Ratinho sobreviveriam? Dependendo de sua resposta a perguntas desse tipo, você estará em dia ou em débito com suas convicções cristãs, mesmo que sua opinião não seja ouvida pelo Ibope.
Prosseguindo: sabe o que relação têm suas respostas às questões anteriores com sua vida espiritual? Tem algo a ver? Mesmo você se considerando adulto? Pois leia Rm. 14:22b: "bem aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova". O verso não está lhe pedindo que se transforme num guerreiro da moralidade, num ativista contra a baixaria na televisão (até que estamos precisando de gente assim), mas está dizendo que, ao não desligar, ao não mudar de canal, ao não rejeitar o programa, você está concordando com ele; você o está aprovando na alma, no plano espiritual. Conclusão: você se dá bem, se o programa é louvável, ou se condena como conivente, se o programa for condenável. É mole?
Veja, jovem leitor, que não estou falando de censura. Estou falando de opções de vida. Se o programa não é bom, escolha outro, leia um livro, faça sua devocional, visite um amigo, invente alguma coisa. Mas não se engane: deixar-se ficar diante da televisão é mais perigoso do que parece. Vai afetar muito mais gente do que você pensa. Talvez até os filhos que você ainda não teve. Mas isso já é outra história.
• Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Icabode — da mente de Cristo à consciência moderna. ruben@amorese.com.br
"Os donos de emissoras fariam muito se não levassem ao ar o lixo que recusam em suas casas." É assim que começa seu artigo na revista Veja o jornalista Eugênio Bucci. Seu título é expressivo: "A casa alheia como esgoto". Parece que o autor está "buzina" com o que recebe em sua casa. Parece também que as respostas que os donos de emissora dão não o convencem. Sabe o que dizem esses "senhores da mídia"? "Se não gostar, desligue; fica claro que nossa programação não é para você; mas é totalmente antidemocrático você querer imaginar que, porque você não gosta, ninguém mais pode assistir".
O que você acha dessa controvérsia, leitor? Acha que o botão de desligar tira a responsabilidade dos ombros das emissoras? Aí está uma boa conversa, não?
Bem, gostaria de começar com outra citação, que nos fornecerá dados estatísticos. Outra jornalista, Andréia Peres, escrevendo em Cláudia:
Considerados inofensivos por pais, anunciantes e emissoras, os programas infantis exibem cenas de assédio e de abuso sexual e têm um conteúdo machista e preconceituoso, que freqüentemente passa despercebido. Os seguintes números revelam resultado de pesquisa em 151 horas e 30 minutos de programação infantil: 49 incidências de estereótipos sexuais; 46 estímulos eróticos visuais; 45 de culto ao corpo; 43 atitudes sensuais; 36 relações de gênero; 18 estímulos eróticos verbais; 15 carícias eróticas; 12 piadas maliciosas; 10 estímulos musicais; 9 referências a homossexualismo; 8 fantasias sexuais envolvendo ou não fetiches; 8 relações sexuais simuladas e insinuadas; 7 referências a sexualidade; 2 referências a intenção de ter filhos.
Uma primeira coisa a dizer é o peso que opiniões como esta têm no cenário nacional. Seriam apenas alguns beatos choramingando pelos cantos o leite derramado? Essa mesma pergunta se fez uma comissão especial do Senado Federal, criada para analisar a programação de rádio e televisão brasileira. Do levantamento feito rapidamente, descobriram nada menos que 91 artigos lamentando o nível de nossa programação. E não são artigos escritos por padres, pastores e professoras do interior. São artigos de gente como Gilberto Dimenstein, Boris Casoy, Marta Suplicy, deputados federais, senadores, juízes da infância e da juventude etc.
Mais ainda. A citada comissão mandou levantar quantos projetos de lei estavam em andamento, naquela exata semana, no Congresso Nacional; projetos exclusivamente destinados a limitar a liberdade dos canais abertos de televisão. E encontraram 131 propostas! Isso significa que os parlamentares, sensíveis aos anseios de suas bases, estavam, no Parlamento, repercutindo pressões sofridas.
Isso nos dá uma idéia do inconformismo de parte de nossa sociedade, com os programas do tipo Gugu Liberato, Ratinho, Sai de Baixo, Escolinha, Casseta & Planeta, Zorra Total, "Louras" etc., além de filmes e novelas. Veja o que diz, a respeito, J. Pereira (Jornalista), no Estado de São Paulo:
Pelo que se observa, muita gente ... está interpretando a liberdade reconquistada como licença plena para tudo dizer, mostrar, expressar sem, em contrapartida, haver responsabilidades a ser assumidas (...). O fato de não haver mais censura não significa que o cidadão, o artista, o escritor, o intelectual tenham o absurdo privilégio de pretender, por exemplo, erigir o obsceno, em arte, a comunicação, como forma de violentar a moral vigente, atropelando-a escandalosamente com cenas, gestos, atitudes e palavras ditas artísticas mas, efetiva e audaciosamente pornográficas ou vexatórias e constrangedoras para quem as assiste, mas que, ao que parece, fazem as delícias de quem as produz, ou participa delas, e dos espíritos ditos mais avançados.
Por outro lado, com fina ironia, Veja nos mostra, em sua seção de comportamento, que muitos pais não estão nem aí para a questão. Ela diz assim:
Uma pesquisa mostra "com quantos tiros e cenas eróticas a televisão cria as crianças enquanto os pais acham tudo natural". Capa: "Uma semana no vídeo: 1.145 cenas de nudez; 276 relações sexuais; 72 palavrões; 707 brigas e facadas; 1.940 tiros".
Sim, tem gente que está achando tudo muito natural. Tanto para si quanto para seus filhos. É por isso que a programação não muda. As emissoras e os programas sobrevivem do Ibope. Daí dizerem que a maioria está gostando e aprovando.
Você pode estar pensando: eu não sou uma criança; portanto não estou na faixa de preocupação dessas autoridades e pais. Eu assisto o que acho que devo e isso não prejudica ninguém.
Muito bem, pergunto: se "todos no mundo fossem iguais a você" como seria a nossa programação de TV? Seria boa para nós e para nossos filhos (presentes ou futuros)? Se o Ibope pesquisasse apenas 5 mil clones seus, o Gugu, o Faustão e o Ratinho sobreviveriam? Dependendo de sua resposta a perguntas desse tipo, você estará em dia ou em débito com suas convicções cristãs, mesmo que sua opinião não seja ouvida pelo Ibope.
Prosseguindo: sabe o que relação têm suas respostas às questões anteriores com sua vida espiritual? Tem algo a ver? Mesmo você se considerando adulto? Pois leia Rm. 14:22b: "bem aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova". O verso não está lhe pedindo que se transforme num guerreiro da moralidade, num ativista contra a baixaria na televisão (até que estamos precisando de gente assim), mas está dizendo que, ao não desligar, ao não mudar de canal, ao não rejeitar o programa, você está concordando com ele; você o está aprovando na alma, no plano espiritual. Conclusão: você se dá bem, se o programa é louvável, ou se condena como conivente, se o programa for condenável. É mole?
Veja, jovem leitor, que não estou falando de censura. Estou falando de opções de vida. Se o programa não é bom, escolha outro, leia um livro, faça sua devocional, visite um amigo, invente alguma coisa. Mas não se engane: deixar-se ficar diante da televisão é mais perigoso do que parece. Vai afetar muito mais gente do que você pensa. Talvez até os filhos que você ainda não teve. Mas isso já é outra história.
• Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Icabode — da mente de Cristo à consciência moderna. ruben@amorese.com.br
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