Opinião
- 22 de janeiro de 2021
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A solidão é inerente ao ser humano e ela pode ser produtiva, bem aproveitada, reveladora.
Por Taís Machado
A solidão pode ser amiga, ser bem-vinda, ter data marcada ou estar no dia-a-dia. Se não presta atenção nela, ela acha um jeito de aparecer, até mesmo invadir e, geralmente, não de um jeito bom. Então, façamos as pazes com ela.
A solidão é inerente ao ser humano e ela pode ser produtiva, bem aproveitada, reveladora. Mas, para muitos, a solidão é mais do que separação e distanciamento, mais do que introversão ou introspecção, é dissolução da própria solidez. O prejuízo psíquico pode ser grande, dependendo de como se viveu ou se vive esse tempo de separação, para muitos, um tempo de estranhamentos. Muitos nem chegaram a experimentá-la, tudo não passou de falsa solidão. Outros viveram uma espécie de maratona de consumo social, onde devido ao medo da solidão, intensificaram encontros virtuais, expandiram contatos, ocuparam mais espaços com humor ou com desespero, mas tentaram preencher vazios rapidamente. Bons “disfarçadores” podem viver fugas em aparente bem-estar. Estar isolado não significa deixar estar povoado de falas, presenças e experiências em grupo. Quem, de fato, se desligou, silenciou, exercitou solitude?
Na pandemia, muitos foram intencionais, aproveitaram para escolher a solidão e bem vivê-la. Mas, isso exige coragem, comprometimento, e o ouvir-se até que tudo se aquiete. Pode ser um longo processo, um tempo de aprofundar ou descobrir verdades, encarar angústias, lidar com perdas, viver um esvaziamento. Não precisa ser uma vida postiça, nem uma dissolução de si. Pode ser um encontro honesto com as próprias vulnerabilidades, ao menos, conseguir nomeá-las. Uma oportunidade de se preparar melhor para reencontros, de conseguir repartir de si, ser mais pessoal, recusar tanta superficialidade e repetições artificiais. Talvez, esse tempo pandêmico nos mostrou o quanto não sabemos lidar com a solidão, ou o quanto ela nos assusta, e como somos apegados às inúmeras ilusões facilmente criadas para nos distrair e/ou apoiar-nos em meio a tempos ásperos. Sem a solidão dificilmente reconheceremos as grandes questões existenciais, sem ela o adoecimento nos envolve. Precisamos da solidão para perceber melhor, para mais imaginar e aprender a sonhar coletivamente. Afinal, sem lidar com o real de dentro, as ocupações de fora podem ser banais. Desenvolver a capacidade de estar só é facilitar a experiência do amar e do criar, de juntar fragmentos e reinventar-se, portanto, uma experiência enriquecedora, que potencialmente aprimora o estar junto. Ainda está em tempo!
Como cultivar a solidão?
Bem, será importante cultivar um espaço e tempo para isso. Terá que se cercar de um certo silêncio. Espaço, tempo e silêncio é uma tríade de luxo, bem sei, mas, pode dar certo. Pode ser um cantinho da casa, onde os demais serão avisados, ainda que por um recado na porta, que agora você está em retiro, em silêncio e não poderá ser interrompido, ou, pode ser uma meia hora antes da casa acordar, ou, um pedacinho do quintal, para os privilegiados que os tem.
Para que haja silêncio é preciso, antes, que alguns gemidos e contendas interiores sejam ouvidos. Enfrentar medos guardados, assumir angústias, um tempo de reflexão, de rever narrativas, de pensar o tempo na vida e a vida no tempo. Reconhecer os outros que contribuíram para você ser quem é, mas, também perceber-se quem é você sem eles, se assim podemos dizer. O que foi, o que ficou e, talvez, o que precisa ir.
Quem sabe um caderninho possa ajudar a fazer o registro, a escrever e reescrever suas percepções de agora. É uma longa jornada, que pode atravessar a pandemia, seguir como um hábito, uma disciplina interior, de cuidado, de fortalecimento, de limpeza do casco.
A solidão pode ser amiga, ser bem-vinda, ter data marcada ou estar no dia-a-dia. Se não presta atenção nela, ela acha um jeito de aparecer, até mesmo invadir e, geralmente, não de um jeito bom. Então, façamos as pazes com ela, conhecendo mais sobre o viver, o que faz parte da nossa existência. A solidão pode ser vivida no meio da multidão ou em isolamento, mas, a ênfase é que pode ser curtida e aproveitada, e não precisa ser expulsa ou negada. Reservar tempo para pensar o olhar e a voz do outro em você, os ecos disso pela vida, e escutar-se e ver-se com mais atenção.
No modo de vida construído por alguns, a solidão não tem vez, é tida como fracasso, como fantasma perturbador, mas se se constroem melhores condições no cotidiano, ela pode ser boa e necessária parceira, que irá contribuir para o amadurecimento. Quando penso melhor sobre o outro em mim, talvez eu possa, posteriormente, estar melhor com ele. Então, esse cuidado precisará ser valorizado, priorizado e atendido. Que haja recolhimento como prática diária ou, ao menos, semanal, em seu novo ano. E que essa recomposição no arranjo da agenda do viver ajude você saber-se melhor, apesar das tantas limitações e da vida tão dinâmica.
Pelos evangelhos, Jesus, com certa frequência, retirava-se da multidão, escolhia ficar só, por vezes, para orar. Ele buscava estar só. No início de seu ministério, o próprio Espírito de Deus o conduziu ao deserto. Não tenho dúvidas de que preparar esses retiros intencionalmente, por períodos maiores ou menores, pode fazer toda diferença em nossa saúde – espiritual e psíquica. Nem sempre é agradável, em algumas ocasiões será preciso enfrentar demônios, mas, até esses enfrentamentos podem nos fortalecer. Você já perguntou hoje para onde o Espírito de Deus quer te guiar? Aceita um “passeio” pelo deserto?
Quanto tempo é necessário dedicar-se à solidão?
Não há uma medida única, mas é importante tal disposição. O compasso da alma não é igual à pressa de fora. A velocidade externa não harmoniza com o ritmo do universo interior. Deus nos acompanha em todo tempo, ele é Emanuel – Deus conosco – e, quem sabe, deseja que tenhamos um tempo maior de solidão, separado do alvoroço, para enfrentarmos o que precisa ser enfrentado. E que desses tempos saiamos também guiados pelo Espírito de Deus.
• Taís Machado, psicoterapeuta e pastora em São Paulo.
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» A igreja e a pandemia em 2020. O que aprendemos? O que mudar em 2021?
A solidão pode ser amiga, ser bem-vinda, ter data marcada ou estar no dia-a-dia. Se não presta atenção nela, ela acha um jeito de aparecer, até mesmo invadir e, geralmente, não de um jeito bom. Então, façamos as pazes com ela.
A solidão é inerente ao ser humano e ela pode ser produtiva, bem aproveitada, reveladora. Mas, para muitos, a solidão é mais do que separação e distanciamento, mais do que introversão ou introspecção, é dissolução da própria solidez. O prejuízo psíquico pode ser grande, dependendo de como se viveu ou se vive esse tempo de separação, para muitos, um tempo de estranhamentos. Muitos nem chegaram a experimentá-la, tudo não passou de falsa solidão. Outros viveram uma espécie de maratona de consumo social, onde devido ao medo da solidão, intensificaram encontros virtuais, expandiram contatos, ocuparam mais espaços com humor ou com desespero, mas tentaram preencher vazios rapidamente. Bons “disfarçadores” podem viver fugas em aparente bem-estar. Estar isolado não significa deixar estar povoado de falas, presenças e experiências em grupo. Quem, de fato, se desligou, silenciou, exercitou solitude?
Na pandemia, muitos foram intencionais, aproveitaram para escolher a solidão e bem vivê-la. Mas, isso exige coragem, comprometimento, e o ouvir-se até que tudo se aquiete. Pode ser um longo processo, um tempo de aprofundar ou descobrir verdades, encarar angústias, lidar com perdas, viver um esvaziamento. Não precisa ser uma vida postiça, nem uma dissolução de si. Pode ser um encontro honesto com as próprias vulnerabilidades, ao menos, conseguir nomeá-las. Uma oportunidade de se preparar melhor para reencontros, de conseguir repartir de si, ser mais pessoal, recusar tanta superficialidade e repetições artificiais. Talvez, esse tempo pandêmico nos mostrou o quanto não sabemos lidar com a solidão, ou o quanto ela nos assusta, e como somos apegados às inúmeras ilusões facilmente criadas para nos distrair e/ou apoiar-nos em meio a tempos ásperos. Sem a solidão dificilmente reconheceremos as grandes questões existenciais, sem ela o adoecimento nos envolve. Precisamos da solidão para perceber melhor, para mais imaginar e aprender a sonhar coletivamente. Afinal, sem lidar com o real de dentro, as ocupações de fora podem ser banais. Desenvolver a capacidade de estar só é facilitar a experiência do amar e do criar, de juntar fragmentos e reinventar-se, portanto, uma experiência enriquecedora, que potencialmente aprimora o estar junto. Ainda está em tempo!
Como cultivar a solidão?
Bem, será importante cultivar um espaço e tempo para isso. Terá que se cercar de um certo silêncio. Espaço, tempo e silêncio é uma tríade de luxo, bem sei, mas, pode dar certo. Pode ser um cantinho da casa, onde os demais serão avisados, ainda que por um recado na porta, que agora você está em retiro, em silêncio e não poderá ser interrompido, ou, pode ser uma meia hora antes da casa acordar, ou, um pedacinho do quintal, para os privilegiados que os tem.
Para que haja silêncio é preciso, antes, que alguns gemidos e contendas interiores sejam ouvidos. Enfrentar medos guardados, assumir angústias, um tempo de reflexão, de rever narrativas, de pensar o tempo na vida e a vida no tempo. Reconhecer os outros que contribuíram para você ser quem é, mas, também perceber-se quem é você sem eles, se assim podemos dizer. O que foi, o que ficou e, talvez, o que precisa ir.
Quem sabe um caderninho possa ajudar a fazer o registro, a escrever e reescrever suas percepções de agora. É uma longa jornada, que pode atravessar a pandemia, seguir como um hábito, uma disciplina interior, de cuidado, de fortalecimento, de limpeza do casco.
A solidão pode ser amiga, ser bem-vinda, ter data marcada ou estar no dia-a-dia. Se não presta atenção nela, ela acha um jeito de aparecer, até mesmo invadir e, geralmente, não de um jeito bom. Então, façamos as pazes com ela, conhecendo mais sobre o viver, o que faz parte da nossa existência. A solidão pode ser vivida no meio da multidão ou em isolamento, mas, a ênfase é que pode ser curtida e aproveitada, e não precisa ser expulsa ou negada. Reservar tempo para pensar o olhar e a voz do outro em você, os ecos disso pela vida, e escutar-se e ver-se com mais atenção.
No modo de vida construído por alguns, a solidão não tem vez, é tida como fracasso, como fantasma perturbador, mas se se constroem melhores condições no cotidiano, ela pode ser boa e necessária parceira, que irá contribuir para o amadurecimento. Quando penso melhor sobre o outro em mim, talvez eu possa, posteriormente, estar melhor com ele. Então, esse cuidado precisará ser valorizado, priorizado e atendido. Que haja recolhimento como prática diária ou, ao menos, semanal, em seu novo ano. E que essa recomposição no arranjo da agenda do viver ajude você saber-se melhor, apesar das tantas limitações e da vida tão dinâmica.
Pelos evangelhos, Jesus, com certa frequência, retirava-se da multidão, escolhia ficar só, por vezes, para orar. Ele buscava estar só. No início de seu ministério, o próprio Espírito de Deus o conduziu ao deserto. Não tenho dúvidas de que preparar esses retiros intencionalmente, por períodos maiores ou menores, pode fazer toda diferença em nossa saúde – espiritual e psíquica. Nem sempre é agradável, em algumas ocasiões será preciso enfrentar demônios, mas, até esses enfrentamentos podem nos fortalecer. Você já perguntou hoje para onde o Espírito de Deus quer te guiar? Aceita um “passeio” pelo deserto?
Quanto tempo é necessário dedicar-se à solidão?
Não há uma medida única, mas é importante tal disposição. O compasso da alma não é igual à pressa de fora. A velocidade externa não harmoniza com o ritmo do universo interior. Deus nos acompanha em todo tempo, ele é Emanuel – Deus conosco – e, quem sabe, deseja que tenhamos um tempo maior de solidão, separado do alvoroço, para enfrentarmos o que precisa ser enfrentado. E que desses tempos saiamos também guiados pelo Espírito de Deus.
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