Opinião
- 30 de setembro de 2022
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A quem devemos lealdade?
Por Luiz Fernando dos Santos
“Semeiem a retidão para si, colham o fruto da lealdade, e façam sulcos no seu solo não arado; pois é hora de buscar o Senhor, até que ele venha e faça chover justiça sobre vocês” (Oséias 10.12).
Assim os dicionários costumam definir lealdade: Substantivo feminino. 1. Respeito aos princípios e regras que norteiam a honra e a probidade. 2. Fidelidade aos compromissos assumidos. (Dicionário Oxford). A Bíblia ensina que lealdade é um dos atributos de Deus (Sl 130.7 e Pv 20.6) e define como leal o homem que cumpre com as suas promessas e obedece de coração a Lei do Senhor.
Assim, podemos entender que lealdade não é alguma coisa que o homem tem, mas o que ele é. Ou ele é leal ou uma fraude, um mentiroso, alguém não confiável. Ser leal é a constituição de um caráter. Entretanto, existem vários níveis e tipos de lealdade. A lealdade de um cristão à sua comunidade cristã só será mantida enquanto essa comunidade permanecer fiel às Escrituras, à sã doutrina, ao culto exclusivo ao Senhor, à prática sincera do amor fraterno e a obediência missionária. Igualmente, até onde vai a obediência, a submissão voluntária de um cristão às autoridades eclesiásticas? No mesmo nível a que se deve à comunidade. Nossos líderes merecem o nosso respeito, a nossa obediência e nossa voluntária submissão à sua direção e condução, somente quando se mantiverem fiéis às Escrituras, demonstrarem sinceridade e consistência no próprio progresso espiritual em santificação. Devemos levar a sério os nossos líderes somente se eles não suportarem os falsos mestres e os ensinos espúrios e a manutenção no seio da igreja de estilos de vida que transgridam a Lei e a vontade de Deus. Quando a liderança é indiferente ao pecado e não exerce a disciplina eclesiástica, já não há por que demonstrar-lhes lealdade.
A nossa lealdade a qualquer criatura ou instância terrena, portanto humana, falível e transitória, terá sempre alguma coisa de relativa e limitante. Vivemos dias difíceis na igreja evangélica brasileira, a igreja está indo longe muito longe em suas públicas manifestações de lealdade a candidatos políticos e suas bandeiras. Essa lealdade inclusive, tem levado os irmãos a pecarem contra a caridade, a viverem em inimizade e tem dividido a igreja, mas, as Escrituras ensinam: “Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração” (Atos 4:32). Os discípulos já não mais se definem como seguidores exclusivos de Jesus Cristo, mas, entre Jesus e seus irmãos, levantaram ídolos e mitos, que comprometem a lealdade incondicional ao crucificado. Essa verdadeira idolatria tem sido uma grande ocasião para Satanás cegar e enganar a igreja, fazendo-a crer que a nossa esperança de dias melhores possa repousar em promessas e plataformas políticas, de qualquer coloração ou espectro: “Assim diz o Senhor: Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade mortal a sua força, mas cujo coração se afasta do Senhor” (Jeremias 17.5).
Não estou fazendo a apologia da isenção ou relativização. Evidentemente que as nossas escolhas fazem a diferença, para pior ou para melhor, mas elas não podem ser acríticas (“mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom”, 1Ts 5.21), incondicionais e não podem nunca, comprometer a missão da comunidade cristã no mundo, cujo diferencial é exatamente aquele de fazer todas as coisas por amor, com amor: “Façam tudo com amor” (1Co 16.14). Onde há lugar para discursos cheios de ódio, de acusação, de juízo e isso, entre os que professam a mesma fé, isso significa que nossa lealdade agora está em outro lugar que não em Cristo e Cristo somente.
Qualquer coisa que ofereça perigo para a unidade da igreja na verdade e no amor: “Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei” (Rm 13.8), deve ser evitada a todo o custo.
Sonho com o dia em que os discípulos de Cristo tenham e demonstrem a mesma disposição para pregar o evangelho, andar de casa em casa testemunhando, encontrem tempo e entusiasmo para socorrer os pobres, participar de reuniões e vigílias de oração e frequentar com assiduidade o culto, que têm para defender os seus candidatos de estimação, promover passeatas e manifestações políticas, ‘tretar’ na internet, reclamar seus direitos ou mesmo ir em um estádio de futebol, que seja. Quanta lealdade tem sido demonstrada aos ídolos desse mundo caído: “porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal...” (Rm 1.21-23).
Faremos bem em dar atenção ao profeta, nesses dias tão estranhos: “Portanto, volte para o seu Deus; pratique a lealdade e a justiça, e confie sempre no seu Deus” (Os 12.6).
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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