Opinião
- 05 de março de 2010
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A população envelhece, a igreja se esquece...
Leandro Gonçalves Lança
Cada vez mais o tema do envelhecimento vem sendo abordado, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países do terceiro mundo. No Brasil, o envelhecimento da população é um fenômeno relativamente recente; entretanto estudos têm apontado, de forma recorrente, que o processo de envelhecimento da população brasileira é considerado irreversível – diante do comportamento da fecundidade e da mortalidade registrado nas últimas décadas e do esperado para as próximas. Segundo o IBGE, em 2050 seremos 259,8 milhões de brasileiros e nossa expectativa de vida, ao nascer, será de 81,3 anos, a mesma dos japoneses hoje. Estima-se que nos próximos vinte anos a população de idosos no Brasil poderá alcançar e até mesmo ultrapassar a cifra dos trinta milhões de pessoas, o que representará aproximadamente 13% da população. Esse crescimento traz a consciência da existência da velhice como uma questão social. Questão esta que pede grande atenção, pois está diretamente relacionada com crise de identidade, mudança de papéis, aposentadoria, perdas diversas e diminuição dos contatos sociais.
Como crente num evangelho integral, creio que o envelhecimento da população enquanto questão social urgente deveria estar na pauta, senão de todas, da maioria das igrejas, dos ministérios, das agências missionárias etc. Mas como várias outras questões urgentes do mundo contemporâneo, a velhice está longe de ser importante para a maioria dos líderes cristãos. O descaso é tamanho, que foge à lógica não só do “mundo”, como da teologia de muitas igrejas.
A membresia da maior parte das igrejas históricas, pentecostais e neopentecostais é constituída por um número expressivo de pessoas com faixa etária acima de 60 anos ou muito próxima disso. É comum ver igrejas que têm os idosos como grupo majoritário em sua membresia. São pessoas que, se não ajudaram a fundar a igreja, são responsáveis diretas para que o estabelecimento continue de pé. No linguajar evangélico é nessa faixa etária que está a maior parte dos “membros fiéis”. Apesar do maior “tempo de casa” e do maior comprometimento, apesar dos serviços prestados e do momento atual demandar necessidades das mais diversas (bio-pscico-espiritual), o que a igreja faz por eles? Nada. Enquanto isso para outros grupos etários e sociais a criatividade para criar programas e reuniões é tamanha que beira ao ridículo não poucas vezes. É um festival de incoerências e ideias fora do lugar que daria várias páginas pra descrever, contudo, para muitos líderes está tudo certo “como dois e dois são cinco”.
A falta de lógica em não abraçar essa questão é também teológica, pois sabemos que a doutrina de salvação de muitas denominações garante ao individuo ser livre do inferno até minutos antes de sua morte, desde que este aceite Jesus e confesse seus pecados.
Sendo assim, não seriam os idosos, os que estão mais próximos de seu destino eterno, o maior grupo de risco? Contrariando as estatísticas e as doutrinas, o que vemos são os recursos financeiros e humanos da maioria das igrejas serem destinados a tudo, ou quase tudo, menos, é claro, àquela que é chamada pelo “mundo” de melhor idade. Aqui, apresento minha a confissão de fé feita por Silvia Regina Kivits:
• Creio no evangelho todo para o homem todo para todos os homens. Creio no evangelho que não discrimina, não exclui, antes, alcança, confere dignidade e traz novas perspectivas de vida sempre;
• Creio na Igreja como Corpo de Cristo, onde todos são importantes e têm uma contribuição a dar. Uma igreja que acontece a partir das relações de mutualidade, onde cada parte, na grande diversidade do Corpo, enriquece o todo. Sob a perspectiva bíblica de que Deus concede, a cada cristão, dons espirituais e talentos que não ficam velhos nem caducam com o tempo, ao contrário, convivem com a possibilidade de que o tempo de atividade traga aperfeiçoamento, é que se afirma que os idosos têm o que dar ao Corpo de Cristo.
• Creio na Igreja de Cristo como comunidade terapêutica, onde pessoas e relacionamentos são mais importantes que programas ou atividades - programas e atividades devem servir às pessoas em suas múltiplas necessidades. A igreja é um espaço saudável para a construção e reconstrução de pessoas que são importantes para Deus;
• Creio que todo ser humano possui valor intrínseco perante Deus, devendo ser valorizado pelo que é e não pelo que tem, faz ou produz;
• Creio no idoso como pessoa plena, cidadão com direitos assegurados, com experiência a transmitir a outros, mas também com um futuro pela frente.
Que neste século da maturidade sejamos iluminados por aquele que nunca fez distinção de idade, antes, capacita os seus para que mesmo na velhice produzam frutos viçosos e florescentes.
• Leandro Gonçalves Lança é graduando em Ciências Sociais e reside em Belo Horizonte.
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Cada vez mais o tema do envelhecimento vem sendo abordado, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países do terceiro mundo. No Brasil, o envelhecimento da população é um fenômeno relativamente recente; entretanto estudos têm apontado, de forma recorrente, que o processo de envelhecimento da população brasileira é considerado irreversível – diante do comportamento da fecundidade e da mortalidade registrado nas últimas décadas e do esperado para as próximas. Segundo o IBGE, em 2050 seremos 259,8 milhões de brasileiros e nossa expectativa de vida, ao nascer, será de 81,3 anos, a mesma dos japoneses hoje. Estima-se que nos próximos vinte anos a população de idosos no Brasil poderá alcançar e até mesmo ultrapassar a cifra dos trinta milhões de pessoas, o que representará aproximadamente 13% da população. Esse crescimento traz a consciência da existência da velhice como uma questão social. Questão esta que pede grande atenção, pois está diretamente relacionada com crise de identidade, mudança de papéis, aposentadoria, perdas diversas e diminuição dos contatos sociais.
Como crente num evangelho integral, creio que o envelhecimento da população enquanto questão social urgente deveria estar na pauta, senão de todas, da maioria das igrejas, dos ministérios, das agências missionárias etc. Mas como várias outras questões urgentes do mundo contemporâneo, a velhice está longe de ser importante para a maioria dos líderes cristãos. O descaso é tamanho, que foge à lógica não só do “mundo”, como da teologia de muitas igrejas.
A membresia da maior parte das igrejas históricas, pentecostais e neopentecostais é constituída por um número expressivo de pessoas com faixa etária acima de 60 anos ou muito próxima disso. É comum ver igrejas que têm os idosos como grupo majoritário em sua membresia. São pessoas que, se não ajudaram a fundar a igreja, são responsáveis diretas para que o estabelecimento continue de pé. No linguajar evangélico é nessa faixa etária que está a maior parte dos “membros fiéis”. Apesar do maior “tempo de casa” e do maior comprometimento, apesar dos serviços prestados e do momento atual demandar necessidades das mais diversas (bio-pscico-espiritual), o que a igreja faz por eles? Nada. Enquanto isso para outros grupos etários e sociais a criatividade para criar programas e reuniões é tamanha que beira ao ridículo não poucas vezes. É um festival de incoerências e ideias fora do lugar que daria várias páginas pra descrever, contudo, para muitos líderes está tudo certo “como dois e dois são cinco”.
A falta de lógica em não abraçar essa questão é também teológica, pois sabemos que a doutrina de salvação de muitas denominações garante ao individuo ser livre do inferno até minutos antes de sua morte, desde que este aceite Jesus e confesse seus pecados.
Sendo assim, não seriam os idosos, os que estão mais próximos de seu destino eterno, o maior grupo de risco? Contrariando as estatísticas e as doutrinas, o que vemos são os recursos financeiros e humanos da maioria das igrejas serem destinados a tudo, ou quase tudo, menos, é claro, àquela que é chamada pelo “mundo” de melhor idade. Aqui, apresento minha a confissão de fé feita por Silvia Regina Kivits:
• Creio no evangelho todo para o homem todo para todos os homens. Creio no evangelho que não discrimina, não exclui, antes, alcança, confere dignidade e traz novas perspectivas de vida sempre;
• Creio na Igreja como Corpo de Cristo, onde todos são importantes e têm uma contribuição a dar. Uma igreja que acontece a partir das relações de mutualidade, onde cada parte, na grande diversidade do Corpo, enriquece o todo. Sob a perspectiva bíblica de que Deus concede, a cada cristão, dons espirituais e talentos que não ficam velhos nem caducam com o tempo, ao contrário, convivem com a possibilidade de que o tempo de atividade traga aperfeiçoamento, é que se afirma que os idosos têm o que dar ao Corpo de Cristo.
• Creio na Igreja de Cristo como comunidade terapêutica, onde pessoas e relacionamentos são mais importantes que programas ou atividades - programas e atividades devem servir às pessoas em suas múltiplas necessidades. A igreja é um espaço saudável para a construção e reconstrução de pessoas que são importantes para Deus;
• Creio que todo ser humano possui valor intrínseco perante Deus, devendo ser valorizado pelo que é e não pelo que tem, faz ou produz;
• Creio no idoso como pessoa plena, cidadão com direitos assegurados, com experiência a transmitir a outros, mas também com um futuro pela frente.
Que neste século da maturidade sejamos iluminados por aquele que nunca fez distinção de idade, antes, capacita os seus para que mesmo na velhice produzam frutos viçosos e florescentes.
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