Opinião
- 01 de outubro de 2021
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A paixão de Stott pelo evangelho
Por Jose de Segovia
Se Stott foi um dos principais representantes do cristianismo evangélico do século passado, não era por uma agenda social ou política, mas por sua paixão pelo evangelho.
Um dia o colunista do The New York Times, David Brooks, se perguntou: “Quem é Stott?”. O jornalista judeu estranha que os meios de comunicação escolham “bufões” para representar o cristianismo evangélico, quando aqui está este homem “amistoso, cortês e natural, humilde e autocrítico, mas sempre confiante, alegre e otimista”. Alguém não cristão como ele, observa que Stott “não crê que a verdade seja plural; não relativiza o bem e o mal; não pensa que toda fé seja igualmente válida; nem que a verdade é um ganho humano, mas uma revelação”, mas se surpreende pela confiança e graça com a qual ele fala da verdade do evangelho.
Como identificar as necessidades daqueles que estão ao nosso redor? Como lidar com as objeções mais comuns ao evangelho? Como comunicar as boas novas? O Evangelho oferece um guia confiável para compreender melhor e compartilhar a essência da fé cristã hoje.
Se Stott foi um dos principais representantes do cristianismo evangélico do século passado, não era por causa de uma agenda social ou política, mas por sua paixão pelo evangelho. Essa é a diferença com muitos dos que representam hoje o movimento evangélico. Se conhece o partido que representam, tudo aquilo que estão contra, mas nada do evangelho.
Desde o momento em que Stott é designado reitor da igreja de All Souls em 1950, entende que a evangelização não pode depender do profissional, “nem que tenham dez pessoas em tempo integral”. A prioridade é formar a congregação para que seja toda a igreja aquela que realiza a tarefa.
Até os dias de hoje, “A ponta de lança” em All Souls segue sendo os cultos que acontecem uma vez por mês para convidar pessoas que não conhecem a igreja. Cada uma delas consiste em uma apresentação do evangelho com um convite no final, para seguir um curso de exploração do cristianismo. Seu sucesso dependia tanto da disposição dos membros para chamar os convidados, como da preparação dos “conselheiros” que falam com as pessoas ao final do culto.
O coração do cristianismo
Ainda que agora soe estranho, o curso de introdução ao cristianismo era chamado anteriormente “jardim de infância”, porque entendiam que o novo crente é um “bebê na fé”, mas Stott o chamou assim, porque queria que fosse um desafio ao orgulho humano natural. Logo ficou conhecido como “grupos de principiantes” e agora seguem o curso alternativo a Alpha que haviam desenvolvido em All Souls sob o nome de “o coração do cristianismo” – literalmente, cristianismo explorado. Sua principal crítica a Alpha não é apenas na ênfase nos dons extraordinários do Espírito, mas no fato de que não explica suficientemente o evangelho, que se reduz as duas primeiras lições, enquanto o curso de Rico Tice segue todo o Evangelho segundo Marcos.
Os líderes desses grupos seguiam um curso de seis meses com doze aulas sobre “a teologia do evangelho, a vida pessoal do evangelista e a técnica prática do evangelismo”. Logo também foi publicado um sumário que serviria de formação para os que tinham incluído que dar as aulas, que finalmente se gravariam em fitas. Essas gravações acabaram sendo transmitidas no exterior, com uma apresentação audiovisual feita pelo próprio Stott.
Havia até um manual para o segmento dos convertidos com instruções práticas para o conselho. Dada a habilidade de síntese de Stott, se resumia em A, B, C e D, que eram as iniciais em inglês de segurança, leitura da Bíblia e oração, membresia da igreja e detalhes, como era solicitar o endereço. De acordo com sua capacidade autocrítica, o próprio Stott identificou duas debilidades no sistema, trazendo os primeiros dezessete anos de experiencia, em uma conferência sobre teologia pastoral na Universidade de Durham, em 1968.
Billy Graham
A campanha de Billy Graham em Londres no ano 1954 é para o historiador do cristianismo evangélico britânico, David Bebbington – professor da universidade escocesa de Stirling: “Provavelmente o fator mais importante do ressurgimento da vitalidade da tradição evangélica conservadora”. Até hoje, encontra-se em muitas igrejas inglesas, pessoas mais velhas que foram convertidas pela campanha de Graham em 1954. Os resultados foram tão espetaculares que não são comparáveis a nenhuma das visitas posteriores que o evangelista norte-americano fez posteriormente. Não é surpreendente que até em círculos seculares se falava de “avivamento” em um país que teve “despertamentos” espirituais regularmente.
Apesar de Stott não ter sido parte da organização, assistiu regularmente as reuniões que foram feitas durante doze semanas, depois de conseguir hospedagem para Billy Graham e sua equipe num hotel próximo a All Souls, que os ofereceu a igreja de São Pedro para sua organização. O evangelista norte-americano descreveu seu alojamento na sua autobiografia como “provavelmente o menor e mais barato hotel de Londres”. O que demonstra, segundo Stott, como ele não conhecia a cidade. Graham lembra em seu livro o culto que Stott fez para a equipe, como talvez, seu primeiro contato com o anglicanismo”.
Billy Graham era três anos mais velho que John Stott. Trabalhava na Mocidade Para Cristo desde o verão de 1945, depois de sua famosa campanha de Los Angeles – ainda não se chamavam “cruzadas”, já que o nome começa a partir da campanha que fez na universidade de Columbia, Nova Iorque, um ano depois. Visitou a Inglaterra duas vezes em 1946. Graham e Stott se conheceram em uma reunião ao ar livre na Esquina dos Oradores do Hyde Park – onde qualquer um podia falar livremente sem microfone.
Em 1952, Billy Graham visita Londres para reunir-se com pastores e líderes cristãos para falar de evangelismo. Disse a eles que estava disposto a fazer uma campanha na Inglaterra, sempre que fosse convidado pelas igrejas e as reuniões fossem em Londres. O arcebispo de Cantebury estava disposto a aprovar um projeto piloto nas províncias, mas não em Londres. Quando não teve o apoio anglicano oficial, é o conselho da Aliança Evangélica que faz o convite.
Aliança Evangélica
A Aliança Evangélica nasceu em 1840 como uma organização interdenominacional baseada sobre a autoridade da Bíblia, para a extensão do evangelho. A primeira reunião internacional foi próxima a Utrecht, na Holanda (Woudschoten) em 1951 com 91 delegados de 21 países. A reunião inaugural foi uma pregação de Stott no domingo, sobre 1 Coríntios 12. Os propósitos da Aliança estão tomados pelo primeiro capítulo de Filipenses – o avanço, a defesa, confirmação e comunhão no evangelho. Segundo o representante britânico, Jack Dain, Stott estava sentado com ele num sofá durante uma pausa, quando tirou uma bíblia do bolso e ditou esse momento. Depois escreveu com um lápis num pedaço de papel, ele os apresentou a assembleia, que os aceitou por unanimidade.
O auditório que a Aliança Evangélica encontrou para as reuniões da campanha de Billy Graham eram na arena de Harringay, propriedade da Associação de Corridas Greyhound. A sessão final foi no estádio Empire de Wembley. No meio tempo, falou nas universidades de Oxford e Cambridge. Winston Churchill o convidou para sua casa na rua Downing, onde conversaram por quarenta minutos. Fez também uma visita particular a rainha Elizabeth na Casa Clarence o que motivou a pregação à rainha e aos membros da família real em Windsor, num domingo, tal como conta a série The Crown.
Apesar dos “conspiradores” terem a família real britânica como seu “alvo principal”, não me ocorre outra monarquia que tenha tido tanto contato com o movimento evangélico como no reinado de Elizabeth II, que faria inclusive Stott como seu capelão. O que suponho é que isso demonstra como os “conspiranóicos” estão mal informados, pois acreditam que a rainha é um réptil extraterrestre, dedicada a matança de crianças em rituais satânicos!
A campanha teve críticas consideráveis na imprensa. O escritor J. B. Priestley descreveu os convertidos como “vítimas da emoção”. Stott então, decidiu intervir nos meios de comunicação para defender a campanha de Billy Graham. É evidente que os dois tinham estilos de pregação muito diferentes. Stott observou que “os ingleses te deixam respirar quando pregam, enquanto os americanos te batem na cabeça com a bíblia”. Embora tenha me surpreendido com as diferenças de ambos, quando escuto as gravações naquele tempo. Acostumado a escutar o Stott e Graham nos anos 80, me espantou a energia com que pregavam nos anos 50. Eles tinham um ímpeto juvenil e um dinamismo que não é percebido em sua idade madura.
Usados por Deus
Na reunião final que fez para pastores, depois da campanha de Graham, Stott deu três ou quatro razões pelas quais acreditava que Deus usava o evangelista norte-americano. Os argumentos lembravam as sete razões pelas quais Torrey cria que Deus usava a Moody, mas Stott as elabora ainda mais no seu prólogo na biografia de Sung, “o maior evangelista que a China havia conhecido”. Em primeiro ligar, reconhece a dedicação de Graham, mas também sua autenticidade, embora finalmente, acredite que o acerto está em que seu trabalho foi através das igrejas.
Uma das surpresas da sessão final em Wembley foi a aparição do arcebispo anglicano Fisher, que se mantinha até então, frio e distante de Graham. O convidaram para fazer a oração final. E ao se sentar junto ao evangelista norte-americano, Grady Wilson lhe disse “Não voltaremos a ver algo assim, até que cheguemos ao céu”. Ao que Wilson o respondeu estendendo o braço sobre seu ombro dizendo: “Assim é, irmão arcebispo! Assim é”!
A crítica mais comum para este tipo de campanha é que seus convertidos não permanecem. Stott acreditava que era um tanto injusta. Primeiro porque nenhum evangelista mantém seus convertidos, porque parte da semente não cria raízes, ou é sufocada quando cresce (Mt 13.4-7; Mc 4.4-7; Lc 8.5-7). Diz se até do próprio Senhor que “muitos de seus discípulos voltaram atrás e já não andavam com ele” (João 6.66).
Frutos do Espírito
Em segundo lugar, muitos permaneceram sim. Em All Souls havia uma moça que fez profissão de fé na campanha de Londres de 1954, que se casou com um membro do parlamento inglês e tem três filhos na igreja. Alguém que se converteu nas reuniões quando estudava em Londres se tornou missionário no Quênia, onde trabalhou entre os presos da revolta dos Mau Mau e acabou formando parte da equipe de All Souls.
Foram feitos estúdios alguns anos depois que sugerem que muitos dos convertidos tinham ligação com igrejas antes das campanhas, mas o editor da revista Reader’s Digest, Stanley High, investigou as cifras da campanha de Harringay, dez meses depois para seu livro sobre Billy Graham. Sua investigação diz que 64,03% das pessoas quase um ano depois ainda estavam na igreja. O segmento é importante, como Stott descobriu, mas isso não era responsabilidade de Graham, mas das igrejas que o haviam convidado.
“A palavra que sai da boa de Deus, não voltará vazia, mas fará o que Ele quer, e vai prosperar naquele para quem a enviou”, diz Isaias 55.11. Quem eram Graham e Stott senão instrumentos de Deus? “Um planta, outro rega, mas quem dá o crescimento é Deus. Então, nem aquele que planta é algo, nem o que rega, se não Deus, que dá o crescimento (1Co 3.6-7). Portanto, a ele seja a glória!
Publicado originalmente no site Protestante Digital. Reproduzido com autorização.
>> Conheça a série O Cristão Contemporâneo, de John Stott
>> Conheça também O Evangelho, de John Stott
Leia mais:
» John Stott, 100 anos. O quê, quando e como tudo aconteceu
Se Stott foi um dos principais representantes do cristianismo evangélico do século passado, não era por uma agenda social ou política, mas por sua paixão pelo evangelho.
Um dia o colunista do The New York Times, David Brooks, se perguntou: “Quem é Stott?”. O jornalista judeu estranha que os meios de comunicação escolham “bufões” para representar o cristianismo evangélico, quando aqui está este homem “amistoso, cortês e natural, humilde e autocrítico, mas sempre confiante, alegre e otimista”. Alguém não cristão como ele, observa que Stott “não crê que a verdade seja plural; não relativiza o bem e o mal; não pensa que toda fé seja igualmente válida; nem que a verdade é um ganho humano, mas uma revelação”, mas se surpreende pela confiança e graça com a qual ele fala da verdade do evangelho.
Como identificar as necessidades daqueles que estão ao nosso redor? Como lidar com as objeções mais comuns ao evangelho? Como comunicar as boas novas? O Evangelho oferece um guia confiável para compreender melhor e compartilhar a essência da fé cristã hoje.
Se Stott foi um dos principais representantes do cristianismo evangélico do século passado, não era por causa de uma agenda social ou política, mas por sua paixão pelo evangelho. Essa é a diferença com muitos dos que representam hoje o movimento evangélico. Se conhece o partido que representam, tudo aquilo que estão contra, mas nada do evangelho.
Desde o momento em que Stott é designado reitor da igreja de All Souls em 1950, entende que a evangelização não pode depender do profissional, “nem que tenham dez pessoas em tempo integral”. A prioridade é formar a congregação para que seja toda a igreja aquela que realiza a tarefa.
Até os dias de hoje, “A ponta de lança” em All Souls segue sendo os cultos que acontecem uma vez por mês para convidar pessoas que não conhecem a igreja. Cada uma delas consiste em uma apresentação do evangelho com um convite no final, para seguir um curso de exploração do cristianismo. Seu sucesso dependia tanto da disposição dos membros para chamar os convidados, como da preparação dos “conselheiros” que falam com as pessoas ao final do culto.
O coração do cristianismo
Ainda que agora soe estranho, o curso de introdução ao cristianismo era chamado anteriormente “jardim de infância”, porque entendiam que o novo crente é um “bebê na fé”, mas Stott o chamou assim, porque queria que fosse um desafio ao orgulho humano natural. Logo ficou conhecido como “grupos de principiantes” e agora seguem o curso alternativo a Alpha que haviam desenvolvido em All Souls sob o nome de “o coração do cristianismo” – literalmente, cristianismo explorado. Sua principal crítica a Alpha não é apenas na ênfase nos dons extraordinários do Espírito, mas no fato de que não explica suficientemente o evangelho, que se reduz as duas primeiras lições, enquanto o curso de Rico Tice segue todo o Evangelho segundo Marcos.
Os líderes desses grupos seguiam um curso de seis meses com doze aulas sobre “a teologia do evangelho, a vida pessoal do evangelista e a técnica prática do evangelismo”. Logo também foi publicado um sumário que serviria de formação para os que tinham incluído que dar as aulas, que finalmente se gravariam em fitas. Essas gravações acabaram sendo transmitidas no exterior, com uma apresentação audiovisual feita pelo próprio Stott.
Havia até um manual para o segmento dos convertidos com instruções práticas para o conselho. Dada a habilidade de síntese de Stott, se resumia em A, B, C e D, que eram as iniciais em inglês de segurança, leitura da Bíblia e oração, membresia da igreja e detalhes, como era solicitar o endereço. De acordo com sua capacidade autocrítica, o próprio Stott identificou duas debilidades no sistema, trazendo os primeiros dezessete anos de experiencia, em uma conferência sobre teologia pastoral na Universidade de Durham, em 1968.
Billy Graham
A campanha de Billy Graham em Londres no ano 1954 é para o historiador do cristianismo evangélico britânico, David Bebbington – professor da universidade escocesa de Stirling: “Provavelmente o fator mais importante do ressurgimento da vitalidade da tradição evangélica conservadora”. Até hoje, encontra-se em muitas igrejas inglesas, pessoas mais velhas que foram convertidas pela campanha de Graham em 1954. Os resultados foram tão espetaculares que não são comparáveis a nenhuma das visitas posteriores que o evangelista norte-americano fez posteriormente. Não é surpreendente que até em círculos seculares se falava de “avivamento” em um país que teve “despertamentos” espirituais regularmente.
Apesar de Stott não ter sido parte da organização, assistiu regularmente as reuniões que foram feitas durante doze semanas, depois de conseguir hospedagem para Billy Graham e sua equipe num hotel próximo a All Souls, que os ofereceu a igreja de São Pedro para sua organização. O evangelista norte-americano descreveu seu alojamento na sua autobiografia como “provavelmente o menor e mais barato hotel de Londres”. O que demonstra, segundo Stott, como ele não conhecia a cidade. Graham lembra em seu livro o culto que Stott fez para a equipe, como talvez, seu primeiro contato com o anglicanismo”.
Billy Graham era três anos mais velho que John Stott. Trabalhava na Mocidade Para Cristo desde o verão de 1945, depois de sua famosa campanha de Los Angeles – ainda não se chamavam “cruzadas”, já que o nome começa a partir da campanha que fez na universidade de Columbia, Nova Iorque, um ano depois. Visitou a Inglaterra duas vezes em 1946. Graham e Stott se conheceram em uma reunião ao ar livre na Esquina dos Oradores do Hyde Park – onde qualquer um podia falar livremente sem microfone.
Em 1952, Billy Graham visita Londres para reunir-se com pastores e líderes cristãos para falar de evangelismo. Disse a eles que estava disposto a fazer uma campanha na Inglaterra, sempre que fosse convidado pelas igrejas e as reuniões fossem em Londres. O arcebispo de Cantebury estava disposto a aprovar um projeto piloto nas províncias, mas não em Londres. Quando não teve o apoio anglicano oficial, é o conselho da Aliança Evangélica que faz o convite.
Aliança Evangélica
A Aliança Evangélica nasceu em 1840 como uma organização interdenominacional baseada sobre a autoridade da Bíblia, para a extensão do evangelho. A primeira reunião internacional foi próxima a Utrecht, na Holanda (Woudschoten) em 1951 com 91 delegados de 21 países. A reunião inaugural foi uma pregação de Stott no domingo, sobre 1 Coríntios 12. Os propósitos da Aliança estão tomados pelo primeiro capítulo de Filipenses – o avanço, a defesa, confirmação e comunhão no evangelho. Segundo o representante britânico, Jack Dain, Stott estava sentado com ele num sofá durante uma pausa, quando tirou uma bíblia do bolso e ditou esse momento. Depois escreveu com um lápis num pedaço de papel, ele os apresentou a assembleia, que os aceitou por unanimidade.
O auditório que a Aliança Evangélica encontrou para as reuniões da campanha de Billy Graham eram na arena de Harringay, propriedade da Associação de Corridas Greyhound. A sessão final foi no estádio Empire de Wembley. No meio tempo, falou nas universidades de Oxford e Cambridge. Winston Churchill o convidou para sua casa na rua Downing, onde conversaram por quarenta minutos. Fez também uma visita particular a rainha Elizabeth na Casa Clarence o que motivou a pregação à rainha e aos membros da família real em Windsor, num domingo, tal como conta a série The Crown.
Apesar dos “conspiradores” terem a família real britânica como seu “alvo principal”, não me ocorre outra monarquia que tenha tido tanto contato com o movimento evangélico como no reinado de Elizabeth II, que faria inclusive Stott como seu capelão. O que suponho é que isso demonstra como os “conspiranóicos” estão mal informados, pois acreditam que a rainha é um réptil extraterrestre, dedicada a matança de crianças em rituais satânicos!
A campanha teve críticas consideráveis na imprensa. O escritor J. B. Priestley descreveu os convertidos como “vítimas da emoção”. Stott então, decidiu intervir nos meios de comunicação para defender a campanha de Billy Graham. É evidente que os dois tinham estilos de pregação muito diferentes. Stott observou que “os ingleses te deixam respirar quando pregam, enquanto os americanos te batem na cabeça com a bíblia”. Embora tenha me surpreendido com as diferenças de ambos, quando escuto as gravações naquele tempo. Acostumado a escutar o Stott e Graham nos anos 80, me espantou a energia com que pregavam nos anos 50. Eles tinham um ímpeto juvenil e um dinamismo que não é percebido em sua idade madura.
Usados por Deus
Na reunião final que fez para pastores, depois da campanha de Graham, Stott deu três ou quatro razões pelas quais acreditava que Deus usava o evangelista norte-americano. Os argumentos lembravam as sete razões pelas quais Torrey cria que Deus usava a Moody, mas Stott as elabora ainda mais no seu prólogo na biografia de Sung, “o maior evangelista que a China havia conhecido”. Em primeiro ligar, reconhece a dedicação de Graham, mas também sua autenticidade, embora finalmente, acredite que o acerto está em que seu trabalho foi através das igrejas.
Uma das surpresas da sessão final em Wembley foi a aparição do arcebispo anglicano Fisher, que se mantinha até então, frio e distante de Graham. O convidaram para fazer a oração final. E ao se sentar junto ao evangelista norte-americano, Grady Wilson lhe disse “Não voltaremos a ver algo assim, até que cheguemos ao céu”. Ao que Wilson o respondeu estendendo o braço sobre seu ombro dizendo: “Assim é, irmão arcebispo! Assim é”!
A crítica mais comum para este tipo de campanha é que seus convertidos não permanecem. Stott acreditava que era um tanto injusta. Primeiro porque nenhum evangelista mantém seus convertidos, porque parte da semente não cria raízes, ou é sufocada quando cresce (Mt 13.4-7; Mc 4.4-7; Lc 8.5-7). Diz se até do próprio Senhor que “muitos de seus discípulos voltaram atrás e já não andavam com ele” (João 6.66).
Frutos do Espírito
Em segundo lugar, muitos permaneceram sim. Em All Souls havia uma moça que fez profissão de fé na campanha de Londres de 1954, que se casou com um membro do parlamento inglês e tem três filhos na igreja. Alguém que se converteu nas reuniões quando estudava em Londres se tornou missionário no Quênia, onde trabalhou entre os presos da revolta dos Mau Mau e acabou formando parte da equipe de All Souls.
Foram feitos estúdios alguns anos depois que sugerem que muitos dos convertidos tinham ligação com igrejas antes das campanhas, mas o editor da revista Reader’s Digest, Stanley High, investigou as cifras da campanha de Harringay, dez meses depois para seu livro sobre Billy Graham. Sua investigação diz que 64,03% das pessoas quase um ano depois ainda estavam na igreja. O segmento é importante, como Stott descobriu, mas isso não era responsabilidade de Graham, mas das igrejas que o haviam convidado.
“A palavra que sai da boa de Deus, não voltará vazia, mas fará o que Ele quer, e vai prosperar naquele para quem a enviou”, diz Isaias 55.11. Quem eram Graham e Stott senão instrumentos de Deus? “Um planta, outro rega, mas quem dá o crescimento é Deus. Então, nem aquele que planta é algo, nem o que rega, se não Deus, que dá o crescimento (1Co 3.6-7). Portanto, a ele seja a glória!
Publicado originalmente no site Protestante Digital. Reproduzido com autorização.
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Ricardo Barbosa