A menina do cabelo azul

 

era uma tarde qualquer no parquinho, quando luíze me fez prestar atenção numa menina. ela tinha cabelo azul e ela tinha coragem. acho que ela deveria ter uns 11 ou 12 anos e estava com uma turma de meninas e meninos menores que ela. rodeando o parquinho havia uma turma de meninos maiores, entre 12 e 15 anos, imagino, que faziam pirraça, zombavam e ficavam provocando os menores para que eles, os maiores, pudessem mostrar sua suposta força e valentia. na verdade, eram covardes. ou eram só meninos? não sei! mas o que sei é que a menina de pele morena, olhos claros, cabelo na altura da orelha com mexas azuis, enfrentava os meninos maiores para que eles não batessem nos menores. ela não tinha medo dos maiores e ia para cima deles, enfrentá-los. observávamos tudo isso de longe. a atitude e o rosto daquela menina ficaram gravados na minha memória. o tempo passou e, certo dia, a encontrei na mesma igreja em que frequento. a vi de longe e lembrei daquele dia no parquinho. o tempo passou e, noutra ocasião, a encontrei na mesma escola em que minha filha estuda. hoje, quando os alunos retornam às aulas, fui convidado pela pedagoga da escola para fazer uma breve devocional com os alunos do 6ª ao 9º ano. antes de ir, fiquei bastante pensativo sobre o que falar e deus trouxe ao meu coração: “fale do meu amor, apenas”. o momento devocional começaria às 7h30. cheguei alguns minutos mais cedo, sentei e fiquei aguardando. os alunos então começaram a chegar. de repente, passa bem perto de mim a menina de cabelo azul, pele morena e olhos claros. ela estava sorrindo, parecia estar feliz com as amigas. minutos depois, quando me foi dada a palavra, comecei a falar sobre as memórias da infância, de quando eu brincava na rua e tomava banho no rio. contei também as lembranças da escola, de quando meus pais não podiam ir à reunião e no primeiro dia de aula eu sempre ficava perdido sem saber qual era a minha sala. contei também que minha mãe fazia meus cadernos com folhas de papel almaço cortadas ao meio e a capa com papel madeira, com as letras bonitas que ela sempre teve. falei que nem sempre nossos pais acertam conosco. muitas e muitas vezes, eles fazem e falam coisas que nos machucam. mas, mesmo assim, não precisamos duvidar do amor deles por nós. confessei aos alunos que, agora que sou pai, muitas vezes preciso pedir perdão a elis e joaquim, nas diversas vezes em que falho. então, em nome dos pais e mães daqueles alunos e alunas, eu pedi perdão a eles, porque talvez eles nunca ouçam isso da boca dos próprios pais. eu finalizei enfatizando a eles o amor de deus, que entregou seu filho jesus na cruz, por amor a todos nós. encerrei com uma oração. quando abri os olhos, olhei para todos os alunos e mirei numa menina. ela tinha o cabelo azul, na altura da orelha e a pele morena. os olhos claros, agora estavam vermelhos e cheios de lágrimas. e ela tinha coragem!

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