Opinião
- 31 de dezembro de 2021
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A encarnação: feito de modo assombrosamente maravilhoso
Por Ruth Bancewicz
Os meus ossos não te foram encobertos,
quando no oculto fui formado
e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos viram a minha substância ainda informe,
e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado,
quando nem um deles ainda existia.
Salmos 139:15-16
Você começou a vida como uma única célula – um óvulo fertilizado com o DNA da mãe e do pai misturados em uma combinação única. Essa bolha minúscula foi tudo que você é por algumas horas, até que começou a se dividir: 2 células, 4, 8, 16, uma bola, uma bola oca e então algo mais complexo. Você ainda era minúsculo, mas desenvolvia sistema nervoso, cabeça, corpo, braços e pernas. Nesse ponto, sua mãe já estaria ciente de que estava esperando um bebê – os sintomas físicos seriam difíceis de ignorar. Cada gravidez é única. Pais, circunstâncias, a família estendida e contextos sociais e culturais diferentes significam que não existem dois indivíduos – mesmo gêmeos – que se tornem exatamente iguais. Mas todos nós temos o mesmo começo frágil, tanto fisicamente quanto de certa forma também socialmente, porque cada família carrega sua própria bagagem.
No período que antecede o Natal, muitas vezes tenho pensado sobre o nascimento de Jesus – sua mãe lutando em trabalho de parto em um lugar desconhecido, sua entrada indigna no mundo, seu primeiro suspiro, primeiro choro e tudo o mais que significa ser um bebezinho. Até recentemente, eu realmente não tinha pensado muito sobre Jesus ser um embrião. De alguma forma, acho esse pensamento ainda mais chocante do que seu nascimento. Como Deus, que fez o universo, pode ter se tornado algo tão completamente, absolutamente vulnerável? Talvez no passado, quando o desenvolvimento de uma criança acontecia no “oculto”, sem tecnologia de imagem e sem fertilização in vitro, era possível simplesmente deixar que essa parte da história do Natal não fosse contada.
Hoje, quando vemos imagens de uma criança em desenvolvimento, ou mesmo de embriões fora do útero, é mais difícil ignorar o processo de Jesus se desenvolvendo em um bebê. A encarnação significa que o filho de Deus passou por todos os estágios do diagrama do meu livro-texto de biologia do desenvolvimento: ‘zigoto’, ‘mórula’, ‘blastocisto’, implantação e assim por diante. Uma das coisas que me deixa maravilhada é a formação dos dedos. Nossas mãos começam em forma de remos. Sinais químicos irradiam através da futura mão, dizendo a cada célula que tipo de tecido ela deveria se tornar: pele, cartilagem, osso, músculo e assim por diante. A identidade de cada dedo é determinada por sinais das abas de pele membranosa entre eles, que eventualmente são separados. Imagens de embriões de camundongos em desenvolvimento mostram pequenos dedos emergindo e adquirindo cada vez mais detalhes, como uma imagem entrando em foco.
O desenvolvimento de um embrião é um pouco como um cruzamento entre origami e escultura em pedra. As células se multiplicam rapidamente para formar folhas inteiras que se dobram para dentro, para fora e para baixo umas das outras para formar o embrião. Então a vida não se desenrola, como alguns títulos de livros proclamam, ela se dobra. Um pouco de cinzelamento também é necessário, porque o intestino, as lacunas entre os dedos e outros espaços precisam se abrir para permitir o movimento e o fluxo. Um bebê precisa apenas de cerca de um terço das células nervosas que produz durante o desenvolvimento pré-natal, por exemplo. No nível celular, uma grande quantidade de energia é gasta para produzir uma criança saudável.
O evangelho de João começa: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens”. Jesus, o Messias, o Verbo, estava lá no início, e toda a vida deve sua existência a ele. Mas, em vez de permanecer indiferente, satisfeito em ser aquele a quem toda a vida deve sua existência, ele escolheu se tornar um de nós. Eu penso que a encarnação confere enorme dignidade às coisas vivas. O filho de Deus compartilhou o mesmo tipo de DNA que todos os outros organismos do planeta. Ele assumiu um genoma e se tornou uma única célula que passou pela dança altamente complexa de se multiplicar e se desenvolver em uma pessoa. Desde a encarnação, não estamos mais separados de Deus por nossa natureza orgânica. Ser feito de uma substância material não é necessariamente uma desvantagem quando se trata de se conectar com Deus, porque ele sabe o que é ter um corpo, sentir fome e sede, dor e prazer, escuridão e luz.
Assim, ao nos lembrarmos da jornada da encarnação de Jesus na época do Natal, também podemos nos lembrar dos nove meses que antecederam seu nascimento: os enjoos de Maria enquanto o embrião se aninhava em seu ventre, crescendo até o tamanho de um amendoim, um dedo encurvado, então um punho. Conforme o filho de Deus crescia, o corpo de Maria mudava. Ele chutava, ela precisava comer mais para que ele pudesse crescer forte, e seus movimentos se tornavam cada vez mais difíceis com o bebê dentro dela. Cada início de vida de cada pessoa recebe um status especial porque Deus seguiu exatamente o mesmo caminho para o mundo. Cada vida é preciosa.
No Salmo 139, o escritor está meditando sobre o conhecimento íntimo de Deus sobre ele, que começou quando ele era um embrião. Não há nada que Deus não saiba sobre ele e nenhuma maneira de fugir desse conhecimento. A encarnação significa que a intimidade de Deus conosco agora se estende ainda mais. Ele se tornou um de nós, viveu ao nosso lado e compartilhou nossa frágil natureza material. É difícil compreender esse pensamento. Para usar as palavras do salmista: “Esse conhecimento é maravilhoso demais para mim, tão elevado que não posso alcançá-lo.”
Originalmente publicado em The Faraday Institute for Science and Religion. Reproduzido no site da ABC2.
Os meus ossos não te foram encobertos,
quando no oculto fui formado
e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos viram a minha substância ainda informe,
e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado,
quando nem um deles ainda existia.
Salmos 139:15-16
Você começou a vida como uma única célula – um óvulo fertilizado com o DNA da mãe e do pai misturados em uma combinação única. Essa bolha minúscula foi tudo que você é por algumas horas, até que começou a se dividir: 2 células, 4, 8, 16, uma bola, uma bola oca e então algo mais complexo. Você ainda era minúsculo, mas desenvolvia sistema nervoso, cabeça, corpo, braços e pernas. Nesse ponto, sua mãe já estaria ciente de que estava esperando um bebê – os sintomas físicos seriam difíceis de ignorar. Cada gravidez é única. Pais, circunstâncias, a família estendida e contextos sociais e culturais diferentes significam que não existem dois indivíduos – mesmo gêmeos – que se tornem exatamente iguais. Mas todos nós temos o mesmo começo frágil, tanto fisicamente quanto de certa forma também socialmente, porque cada família carrega sua própria bagagem.
No período que antecede o Natal, muitas vezes tenho pensado sobre o nascimento de Jesus – sua mãe lutando em trabalho de parto em um lugar desconhecido, sua entrada indigna no mundo, seu primeiro suspiro, primeiro choro e tudo o mais que significa ser um bebezinho. Até recentemente, eu realmente não tinha pensado muito sobre Jesus ser um embrião. De alguma forma, acho esse pensamento ainda mais chocante do que seu nascimento. Como Deus, que fez o universo, pode ter se tornado algo tão completamente, absolutamente vulnerável? Talvez no passado, quando o desenvolvimento de uma criança acontecia no “oculto”, sem tecnologia de imagem e sem fertilização in vitro, era possível simplesmente deixar que essa parte da história do Natal não fosse contada.
Hoje, quando vemos imagens de uma criança em desenvolvimento, ou mesmo de embriões fora do útero, é mais difícil ignorar o processo de Jesus se desenvolvendo em um bebê. A encarnação significa que o filho de Deus passou por todos os estágios do diagrama do meu livro-texto de biologia do desenvolvimento: ‘zigoto’, ‘mórula’, ‘blastocisto’, implantação e assim por diante. Uma das coisas que me deixa maravilhada é a formação dos dedos. Nossas mãos começam em forma de remos. Sinais químicos irradiam através da futura mão, dizendo a cada célula que tipo de tecido ela deveria se tornar: pele, cartilagem, osso, músculo e assim por diante. A identidade de cada dedo é determinada por sinais das abas de pele membranosa entre eles, que eventualmente são separados. Imagens de embriões de camundongos em desenvolvimento mostram pequenos dedos emergindo e adquirindo cada vez mais detalhes, como uma imagem entrando em foco.
O desenvolvimento de um embrião é um pouco como um cruzamento entre origami e escultura em pedra. As células se multiplicam rapidamente para formar folhas inteiras que se dobram para dentro, para fora e para baixo umas das outras para formar o embrião. Então a vida não se desenrola, como alguns títulos de livros proclamam, ela se dobra. Um pouco de cinzelamento também é necessário, porque o intestino, as lacunas entre os dedos e outros espaços precisam se abrir para permitir o movimento e o fluxo. Um bebê precisa apenas de cerca de um terço das células nervosas que produz durante o desenvolvimento pré-natal, por exemplo. No nível celular, uma grande quantidade de energia é gasta para produzir uma criança saudável.
O evangelho de João começa: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens”. Jesus, o Messias, o Verbo, estava lá no início, e toda a vida deve sua existência a ele. Mas, em vez de permanecer indiferente, satisfeito em ser aquele a quem toda a vida deve sua existência, ele escolheu se tornar um de nós. Eu penso que a encarnação confere enorme dignidade às coisas vivas. O filho de Deus compartilhou o mesmo tipo de DNA que todos os outros organismos do planeta. Ele assumiu um genoma e se tornou uma única célula que passou pela dança altamente complexa de se multiplicar e se desenvolver em uma pessoa. Desde a encarnação, não estamos mais separados de Deus por nossa natureza orgânica. Ser feito de uma substância material não é necessariamente uma desvantagem quando se trata de se conectar com Deus, porque ele sabe o que é ter um corpo, sentir fome e sede, dor e prazer, escuridão e luz.
Assim, ao nos lembrarmos da jornada da encarnação de Jesus na época do Natal, também podemos nos lembrar dos nove meses que antecederam seu nascimento: os enjoos de Maria enquanto o embrião se aninhava em seu ventre, crescendo até o tamanho de um amendoim, um dedo encurvado, então um punho. Conforme o filho de Deus crescia, o corpo de Maria mudava. Ele chutava, ela precisava comer mais para que ele pudesse crescer forte, e seus movimentos se tornavam cada vez mais difíceis com o bebê dentro dela. Cada início de vida de cada pessoa recebe um status especial porque Deus seguiu exatamente o mesmo caminho para o mundo. Cada vida é preciosa.
No Salmo 139, o escritor está meditando sobre o conhecimento íntimo de Deus sobre ele, que começou quando ele era um embrião. Não há nada que Deus não saiba sobre ele e nenhuma maneira de fugir desse conhecimento. A encarnação significa que a intimidade de Deus conosco agora se estende ainda mais. Ele se tornou um de nós, viveu ao nosso lado e compartilhou nossa frágil natureza material. É difícil compreender esse pensamento. Para usar as palavras do salmista: “Esse conhecimento é maravilhoso demais para mim, tão elevado que não posso alcançá-lo.”
Originalmente publicado em The Faraday Institute for Science and Religion. Reproduzido no site da ABC2.
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