Opinião
- 25 de outubro de 2016
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A conversão de Micônio, historiador da Reforma
Por Rute Salviano
Em meus livros sobre a participação feminina na história do Cristianismo, gosto de colocar textos da época. São narrações através das quais o leitor pode ouvir as vozes do passado.
No livro História da Reforma do XVI século, de J. H. Merle D’Aubigné, no 1º volume, nas páginas 244 a 247, encontra-se a mais linda história de conversão que já tenho lido. Para mim, descobrir essa narração foi algo inspirador e relevante e a tenho citado em mensagens e palestras.
Esse acontecimento, ocorrido em um período tão difícil quanto o que precedeu a Reforma, confirma que a salvação é pela graça de Deus e unicamente por meio da fé pessoal em Jesus Cristo.
Essa história se passou em Annaberg, cidade alemã, quando Tetzel, frade dominicano e grande comissário das indulgências, percorria a cidade vendendo o perdão dos pecados. Entre aqueles que o ouviram encontrava-se um jovem estudante.
Micônio havia recebido uma educação cristã e seu pai lhe ensinara a importância da oração, acrescentando que todas as coisas são dádivas gratuitas de Deus e que o sangue de Cristo era o único resgate dos pecados de todo o mundo: “ainda quando não houvesse mais de três homens que devessem ser salvos pelo sangue de Cristo, crê, filho meu, e crê com toda a segurança, que tu és um desses três”.
A respeito da venda de indulgências que ocorria na Alemanha, seu pai lhe dizia que essas indulgências eram redes de pescar dinheiro e serviam apenas para enganar os simples porque o perdão dos pecados e a vida eterna não se compravam.
Aos treze anos, Frederico Micônio, foi enviado à escola de Annaberg, para concluir seus estudos. Pouco depois, Tetzel chegou também àquela cidade e lá permaneceu por dois anos. Ele apregoava que não havia outro meio de alcançar a vida eterna senão pelas obras, mas isso era impossível ao homem, portanto, devia comprá-la ao pontífice romano.
Antes de deixar a cidade, Tezel tornou-se mais contundente e ameaçador, dizendo que logo fecharia a porta do céu e apagaria a luz deste sol de graça. Portanto, ninguém deveria perder o dia da salvação, o tempo favorável. Por fim, prometeu que iria distribuir as indulgências aos pobres gratuitamente e pelo amor de Deus.
O jovem Micônio sentiu ardente desejo de aproveitar aquela oferta, então, dirigiu-se aos comissários e lhes disse: “Eu sou um pobre pecador, e tenho necessidade do perdão gratuito”.
Ao que os comissários responderam: “Só aqueles que estendem as mãos piedosas à igreja, queremos dizer só aqueles que dão dinheiro, são os que podem ter parte nos merecimentos de Cristo”. Micônio questionou sobre as promessas do dom gratuito, mas os agentes de Tezel responderam que ele deveria pagar pela indulgência.
Após muita insistência e fracassando em seu apelo, Micônio afirmou, indignado: “Eu não quero indulgências compradas, se quisesse comprá-las, não teria de fazer mais do que vender um dos meus livros de escola. Quero um perdão gratuito, e só pelo amor de Deus. Vós prestareis contas a Deus de haver deixado, por quatro moedinhas, escapar a salvação de uma alma”.
O jovem retirou-se desconsolado, porém, o Espírito Santo tocou seu coração e, entre lágrimas, orou ao Senhor: “Meu Deus! Já que os homens me têm negado o perdão dos pecados, porque me faltava dinheiro para pagá-lo. Tu, Senhor, tem piedade de mim, e perdoa minhas culpas por pura graça”.
Micônio relatou que não soube descrever o que experimentou, mas sentiu sua natureza mudada, convertida, transformada e aquilo que antes o agradava, tornou-se para ele um objeto de aversão. Viver com Deus e agradar-lhe era seu mais ardente e único desejo.
Posteriormente, Frederico Micônio tornou-se um reformador e historiador da Reforma.
Essa é a verdadeira conversão, quando o homem velho é sepultado com sua natureza pecaminosa e sua vida interior e, consequentemente, seu comportamento exterior também são transformados por Deus. Portanto, não importa a época, a raça, o gênero ou qualquer outra condição, basta simplesmente que o ser humano reconheça sua necessidade da graça divina e entenda que a certeza de salvação pode existir para todo aquele que crê.
A regeneração, o nascer de novo, equivale a nascer de Deus e não é resultado de obra humana, mas é uma imputação divina. Também não é um ato contínuo, mas é algo que ocorre de uma vez por todas. A regeneração espiritual retrata um ser morto e insuficiente sendo vivificado.
Meu desejo é que todos os que se consideram cristãos sejam também regenerados e tornem-se novas criaturas, salvas por Deus e herdeiras de Suas promessas.
Não por méritos de atos de justiça que houvéssemos praticado, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar da regeneração e da renovação realizados pelo Espírito Santo, que ele derramou amplamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador; para que, justificados pela sua graça, fossemos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna. (Tito 3.5-7)
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Esse acontecimento, ocorrido em um período tão difícil quanto o que precedeu a Reforma, confirma que a salvação é pela graça de Deus e unicamente por meio da fé pessoal em Jesus Cristo.
Essa história se passou em Annaberg, cidade alemã, quando Tetzel, frade dominicano e grande comissário das indulgências, percorria a cidade vendendo o perdão dos pecados. Entre aqueles que o ouviram encontrava-se um jovem estudante.
Micônio havia recebido uma educação cristã e seu pai lhe ensinara a importância da oração, acrescentando que todas as coisas são dádivas gratuitas de Deus e que o sangue de Cristo era o único resgate dos pecados de todo o mundo: “ainda quando não houvesse mais de três homens que devessem ser salvos pelo sangue de Cristo, crê, filho meu, e crê com toda a segurança, que tu és um desses três”.
A respeito da venda de indulgências que ocorria na Alemanha, seu pai lhe dizia que essas indulgências eram redes de pescar dinheiro e serviam apenas para enganar os simples porque o perdão dos pecados e a vida eterna não se compravam.
Aos treze anos, Frederico Micônio, foi enviado à escola de Annaberg, para concluir seus estudos. Pouco depois, Tetzel chegou também àquela cidade e lá permaneceu por dois anos. Ele apregoava que não havia outro meio de alcançar a vida eterna senão pelas obras, mas isso era impossível ao homem, portanto, devia comprá-la ao pontífice romano.
Antes de deixar a cidade, Tezel tornou-se mais contundente e ameaçador, dizendo que logo fecharia a porta do céu e apagaria a luz deste sol de graça. Portanto, ninguém deveria perder o dia da salvação, o tempo favorável. Por fim, prometeu que iria distribuir as indulgências aos pobres gratuitamente e pelo amor de Deus.
O jovem Micônio sentiu ardente desejo de aproveitar aquela oferta, então, dirigiu-se aos comissários e lhes disse: “Eu sou um pobre pecador, e tenho necessidade do perdão gratuito”.
Ao que os comissários responderam: “Só aqueles que estendem as mãos piedosas à igreja, queremos dizer só aqueles que dão dinheiro, são os que podem ter parte nos merecimentos de Cristo”. Micônio questionou sobre as promessas do dom gratuito, mas os agentes de Tezel responderam que ele deveria pagar pela indulgência.
Após muita insistência e fracassando em seu apelo, Micônio afirmou, indignado: “Eu não quero indulgências compradas, se quisesse comprá-las, não teria de fazer mais do que vender um dos meus livros de escola. Quero um perdão gratuito, e só pelo amor de Deus. Vós prestareis contas a Deus de haver deixado, por quatro moedinhas, escapar a salvação de uma alma”.
O jovem retirou-se desconsolado, porém, o Espírito Santo tocou seu coração e, entre lágrimas, orou ao Senhor: “Meu Deus! Já que os homens me têm negado o perdão dos pecados, porque me faltava dinheiro para pagá-lo. Tu, Senhor, tem piedade de mim, e perdoa minhas culpas por pura graça”.
Micônio relatou que não soube descrever o que experimentou, mas sentiu sua natureza mudada, convertida, transformada e aquilo que antes o agradava, tornou-se para ele um objeto de aversão. Viver com Deus e agradar-lhe era seu mais ardente e único desejo.
Posteriormente, Frederico Micônio tornou-se um reformador e historiador da Reforma.
Essa é a verdadeira conversão, quando o homem velho é sepultado com sua natureza pecaminosa e sua vida interior e, consequentemente, seu comportamento exterior também são transformados por Deus. Portanto, não importa a época, a raça, o gênero ou qualquer outra condição, basta simplesmente que o ser humano reconheça sua necessidade da graça divina e entenda que a certeza de salvação pode existir para todo aquele que crê.
A regeneração, o nascer de novo, equivale a nascer de Deus e não é resultado de obra humana, mas é uma imputação divina. Também não é um ato contínuo, mas é algo que ocorre de uma vez por todas. A regeneração espiritual retrata um ser morto e insuficiente sendo vivificado.
Meu desejo é que todos os que se consideram cristãos sejam também regenerados e tornem-se novas criaturas, salvas por Deus e herdeiras de Suas promessas.
Não por méritos de atos de justiça que houvéssemos praticado, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar da regeneração e da renovação realizados pelo Espírito Santo, que ele derramou amplamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador; para que, justificados pela sua graça, fossemos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna. (Tito 3.5-7)
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Mestre em teologia e pós-graduada em história do cristianismo, é autora de Vozes Femininas nos Avivamentos (Ultimato), além de Vozes Femininas no Início do Cristianismo, Uma Voz Feminina Calada pela Inquisição, Uma Voz Feminina na Reforma e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro (Prêmio Areté 2015).
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